Fenômeno nos gramados, Ronaldo Nazário ainda busca o mesmo sucesso como gestor esportivo. Acionista majoritário de Cruzeiro e Real Valladolid, o ex-atacante pode amargar dois rebaixamentos no mesmo ano — o time espanhol caiu para LaLiga 2, enquanto a Raposa luta pela permanência na Série A do Campeonato Brasileiro. Além do desempenho administrativo, as decisões impopulares à frente dos clubes resultaram em críticas e pressão ao astro do futebol.
Valladolid
Ronaldo assumiu o controle acionário do Valladolid em setembro de 2018. O jogador eleito três vezes o melhor do planeta e bicampeão mundial pela Seleção Brasileira adquiriu 51% das ações do clube fundado em 1928. O custo da transação foi de 30 milhões de euros (à época, cerca de R$ 141 milhões).
“Quero que todos os torcedores façam parte do presente e do futuro do Real Valladolid. Contem com a gente para fazer com que o clube se consolide na Primeira Divisão e siga construindo sonhos. Com a união de todos, tenho certeza que será muito difícil ganhar da gente”, discursou o eterno R9, na apresentação como novo dono dos blanquivioletas.
Apesar do discurso, em cinco temporadas da ‘era Ronaldo’, o Valladolid colecionou dois rebaixamentos no Campeonato Espanhol: caiu na temporada 2020/21; voltou à elite no ano seguinte, mas não evitou novo descenso em 2022/23.
Na atual edição de LaLiga 2, a equipe está na terceira colocação, na zona de classificação à elite nacional. O clube segue comandado pelo uruguaio Paulo Pezzolano, treinador do Cruzeiro na campanha do acesso à Série A do Brasileirão em 2022.
Críticas na Espanha
A primeira grande polêmica de Ronaldo em Valladolid foi a mudança do escudo do clube. A alteração foi reprovada pela torcida, que também atacou o gestor pelo baixo investimento no futebol. Os torcedores chegaram a pedir a saída do ‘Fenômeno’ em manifestações no Estádio José Zorrilla e na porta do centro de treinamentos do clube.
Ronaldo justificou que a falta de apoio público contribuiu para o insucesso do time em LaLiga. A declaração causou revolta até mesmo no prefeito de Valladolid, Óscar Puente.
“O que aconteceu com Ronaldo não me surpreende. Ouvi-lo foi meio alucinante. Não se analisa quem levou a equipe a descer de divisão duas vezes. Não há uma conferência de imprensa para assumir responsabilidades. Ao invés disso, há uma distribuição das culpas por todos os setores: torcedores, imprensa e Câmara”, disparou o político, que revelou o investimento da prefeitura equivalente a R$ 26,3 milhões ao Valladolid.
Apesar do insucesso em campo, o Valladolid teve uma janela de transferências bastante lucrativa ao final da temporada passada. O clube teve recorde de arrecadação com a venda de oito jogadores, capitalizando 36,8 milhões de euros (R$ 194,5 milhões).
Cruzeiro
A alegria da torcida pela chegada de Ronaldo ao Cruzeiro, em 2022, deu lugar a críticas após a saída do ídolo Fábio. A SAF não chegou a um acordo salarial para a renovação contratual com o experiente goleiro, jogador com mais partidas disputadas na história do clube. O veterano se transferiu para o Fluminense e foi um dos destaques na conquista do inédito título tricolor na Copa Libertadores. Neste ano, as mudanças visuais das mascotes Raposão e Raposinho também geraram reclamações dos torcedores.
O primeiro ano de Ronaldo à frente da Raposa terminou com saldo positivo pelo acesso à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro, com direito a título da Série B. Em 2022, o clube celeste também foi finalista do Campeonato Mineiro e caiu nas oitavas de final da Copa do Brasil.
Já neste ano, apesar da promessa da diretoria de montar um time competitivo, o Cruzeiro não engrenou. Ao todo, 26 jogadores foram contratados. Dos reforços, muitos caíram em desgraça com a torcida, casos dos atacantes Gilberto e Henrique Dourado, que já deixaram a Toca da Raposa, e Wesley, maior investimento da SAF, ao lado de Arthur Gomes — R$ 16 milhões.
Luta contra queda no Brasileiro
Em 2023, o Cruzeiro fracassou em todas as competições que disputou: ficou fora das finais do Mineiro; foi eliminado nas oitavas da Copa do Brasil; e ocupa a zona do rebaixamento do Brasileiro.
A seis rodadas do fim da Série A e com dois jogos a menos em relação a alguns concorrentes diretos, a esperança do Cruzeiro para escapar do rebaixamento é Paulo Autuori, o quarto treinador da temporada. O diretor técnico assumiu o time de forma interina depois da demissão de Zé Ricardo, que ficou dois meses no cargo. Pepa e Paulo Pezzolano foram os outros comandantes no ano.
O Cruzeiro ocupa a 17ª posição da tabela de classificação, com 37 pontos, um a menos que o Bahia, primeiro clube fora da zona do rebaixamento. Na reta final do Brasileirão, a Raposa tem pela frente Fortaleza (fora), Vasco (casa), Goiás (fora), Athletico-PR (casa), Botafogo (fora) e Palmeiras (casa).
