Traduzir em palavras a emoção de um jogo de futebol é para poucos. Acrescenta-se a isso o desafio de cativar e conquistar o coração dos torcedores. Para tanto, além da técnica, é preciso um diferencial que chame a atenção do ouvinte. E foi isso o que encontrou o narrador Kenner Tarabal, responsável pela locução dos jogos do Cruzeiro há cinco meses na rádio Transamérica BH.
O radialista de Sete Lagoas, de 40 anos, viralizou nas redes sociais nesta semana por causa de um bordão inusitado que criou ao narrar os gols. Quando a bola balança a rede, Kenner Tarabal entoa a plenos pulmões o grito: yeeeees! A narração que repercutiu em todo o país e emocionou, principalmente, o torcedor cruzeirense, foi do primeiro gol celeste na vitória sobre o Corinthians, por 3 a 0, no último domingo (7/7), no Mineirão.
Aos sete minutos do primeiro tempo, Matheus Pereira ganhou do zagueiro Félix Torres na dividida, avançou em velocidade, invadiu a área e tocou no canto esquerdo, na saída do goleiro. “Olha o Pereira, ganhou, colocou na frente, vai bater, vai fazer: yeeeees! Goool do Cruzeiro! Matheus Pereira. O zagueirão do Corinthians se atrapalhou, ele ganhou e não, e não, e não intimidou na frente do goleirão do Corinthians. Bateu ela no cantinho, ela foi morrer no fundo da rede”, narrou Kenner Tarabal.
“Matheus Pereira, incansável, sensacional. Eu vou falar de novo: o melhor camisa 10 do futebol brasileiro. Ele é demais, ele é sensacional. Ele levanta o povo azul em todo o planeta! Demais Pereira, demais Pereira! Um para o Cruzeiro, zero para o Corinthians”, completou.
A origem do bordão ‘yeeeees!’
Quem cresceu na década de 1990 e teve um console Super Nintendo certamente conhece o clássico International Superstar Soccer, jogo de futebol desenvolvido pela japonesa Konami. O game foi o primeiro do gênero a contar com gravações de um narrador descrevendo os lances. Quando ocorria um gol, o locutor entoava justamente o ‘yeeeees!’ acompanhado de ‘goal, goal, goal!’.
Por causa do sucesso do jogo, diversos torcedores perguntam constantemente a Kenner Tarabal se essa é a origem de seu bordão no rádio. “Na verdade é uma coincidência. Quando entrei para o rádio aqui em Sete Lagoas eu precisava ter algo diferente, né? Todo mundo narra, então eu tinha que ter algo. Num dia em um barzinho um amigo falou o yeeeees vibrando com alguma coisa, não era nem jogo de futebol, e fiquei com aquilo na cabeça. Fui para casa e no outro dia mostrei para o coordenador. Num evento esportivo chamado Copa Eldorado, em 2011, lançamos o bordão e a coisa foi pegando, todo mundo gostando, caiu nas graças do pessoal de Sete Lagoas”, explicou.
Depois da Copa Eldorado, o narrador manteve o bordão nos gols marcados pelo Democrata no Campeonato Mineiro e o sucesso aumentou. “Criei essa identidade e a turma começou a me chamar na cidade de garoto do yes. Todo mundo falando yes na rua, aquela coisa toda”, disse.
Longa trajetória até o Cruzeiro
Para Kenner Tarabal, narrar os jogos do Cruzeiro é um sonho realizado. Depois de anos narrando jogos no interior, ele finalmente conseguiu a oportunidade de trabalhar em Belo Horizonte, na Transamérica, no início de 2024. Entretanto, ele começou na rádio como repórter setorista do time celeste.
“Ele ficava me procurando, pedindo por uma oportunidade. A dedicação e humildade dele me chamaram a atenção desde o início. Um dia eu precisei de um repórter, e chamei o Kenner. Uma semana depois, o narrador do Cruzeiro saiu da empresa e ele teve sua primeira oportunidade. É um baita profissional”, contou o também narrador Adair Lino, o Dadá, coordenador de esportes da Transamérica.
O primeiro jogo de Kenner como narrador do Cruzeiro foi justamente em um clássico contra o Atlético. O radialista foi pé quente! Logo em sua estreia o time celeste derrotou o Galo, por 2 a 0, em plena Arena MRV, pela terceira rodada do Campeonato Mineiro. Contudo, ele ficou com receio de usar o seu bordão naquele jogo.
“Nesse não teve o yes. Estava com receio de como as pessoas iriam aceitar isso, até mesmo a coordenação da rádio. Só que quando eu chego em casa, minha mulher puxa minha orelha e fala: ‘Essa é sua marca, você tem que lançar!’ (risos). Então liguei para o Dadá e perguntei se podia. Ele concordou, falou ‘claro que sim’ por ser minha identidade. Logo no segundo jogo do Cruzeiro já veio o yes. Graças a Deus as coisas estão dando certo!”, concluiu.
