CRUZEIRO

‘Era Pedrinho’ à frente da SAF do Cruzeiro completa um ano; retrospectiva

Em 29 de abril de 2024, Ronaldo Fenômeno oficializou venda de 90% das ações da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Cruzeiro a Pedro Lourenço, fundador da rede Supermercados BH

Há exatamente um ano, Ronaldo Fenômeno oficializava a venda das ações da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Cruzeiro (os 90% que o pertenciam) a Pedro Lourenço, fundador da rede Supermercados BH. Aos poucos, o empresário, que já fazia aportes significativos, passou a administrar o clube integralmente. No período, a torcida viveu altos e baixos: testemunhou uma final, lidou com polêmicas extracampo, decepções esportivas e grandes promessas. A seguir, a retrospectiva celeste elaborada pelo No Ataque.

O contexto que fez Pedrinho assumir a SAF

Desde que adquiriu a maioria das ações da SAF da Raposa (por R$ 50 milhões + $ 350 milhões em investimentos diretos ou incremento de receitas), no fim de 2021, Ronaldo trabalhou nos bastidores para recuperar a saúde financeira do clube, que estava em crise e devia mais de R$ 1 bilhão. A gestão cautelosa em termos econômicos aliada ao desempenho abaixo incomodou parte da torcida, que passou a protestar contra o antigo jogador.

Hoje, também ocupam espaço no departamento de futebol do Cruzeiro Pedro Júnio, vice-presidente, Alexandre Mattos, CEO de futebol, e Paulo Pelaipe, diretor executivo. Gabriel Lima, Paulo Autuori e Paulo André deixaram os cargos com a saída de Ronaldo. Edu Dracena deixou o clube pouco depois.

As primeiras contratações de Pedrinho

Diante de tamanha pressão e instabilidade, Ronaldo vendeu a parte a Pedrinho. O empresário iniciou o comando com postura diferente e ‘abriu o bolso’. Em pouco menos de dois meses de gestão, gastou cerca de R$ 173,55 milhões em contratações, sem considerar as metas estabelecidas em contratos.

Passaram a vestir a camisa celeste em junho de 2024 o goleiro Cássio (sem custo), o zagueiro Jonathan Jesus (R$ 8,25 milhões por 90%), os volantes Matheus Henrique (R$ 34,9 milhões a R$ 49,4 milhões), Walace (R$ 34,9 milhões a R$ 40,7 milhões) e Fabrício Peralta (R$ 16 milhões por 60%), e os atacantes Kaio Jorge (R$ 23 milhões a R$ 41,5 milhões) e Lautaro Díaz (R$ 16 milhões). Peralta, emprestado ao Athletico-PR, não segue em Belo Horizonte. O volante Matheus Henrique se recupera de cirurgia após lesão no menisco lateral do joelho direito.

Ainda, a Raposa exerceu o direito de compra do meio-campista Matheus Pereira, extremamente solicitado pelos adeptos, e do zagueiro João Marcelo (agora em recuperação de cirurgia após sofrer lesão multiligamentar associada a lesões meniscais no joelho direito), à época destaque no setor. Para ter o camisa 10 até junho de 2026, a Raposa desembolsou algo em torno de R$ 34,5 milhões por metade dos direitos econômicos. Já a aquisição do defensor custou R$ 6 milhões.

Walace assinou com o Cruzeiro na segunda janela de transferências de 2024. Foto: Gustavo Martins/Cruzeiro

Derrotas na Copa do Brasil e no Mineiro

No início do ano, o Cruzeiro colecionou decepções desportivas. Primeiro, foi eliminado pelo Sousa, da Paraíba, ainda na primeira fase da Copa do Brasil. Depois, perdeu a final do Campeonato Mineiro para o Atlético, o que culminou na queda do técnico argentino Nicolás Larcamón, contratado em dezembro de 2023 (14 jogos, sete vitórias, quatro empates e três derrotas).

Sai Larcamón, entra Seabra

Horas depois, a Raposa acertou a contratação do técnico Fernando Seabra. O comandante ganhou a confiança de Pedrinho, o novo sócio majoritário, devido aos resultados positivos nas primeiras rodada do Campeonato Brasileiro. Se no início da temporada o time havia decepcionado, na Primeira Divisão teve postura totalmente diferente.

No primeiro turno, o elenco fez campanha de G4 na Série A e avançou na Copa Sul-Americana. A relação entre Seabra e Pedrinho se desgastou quando um áudio vazado ganho repercussão. No conteúdo, o mandatário exigia que o treinador escalasse os reforços da última janela. Depois disso, o Cruzeiro perdeu o fôlego.

Áudio polêmico, rendimento abaixo: sai Seabra, entra Diniz

A equipe avançava com dificuldades no torneio continental, mas emendava tropeços no Brasileiro. Então, Pedrinho optou por demitir Seabra (35 jogos, 17 vitórias, oito empates e 10 derrotas). No mesmo dia, contratou Fernando Diniz na esperança de ver o time voltar a vencer na competição nacional. Nada surtiu efeito. O Cruzeiro não se recuperou na Série A, o que custou uma vaga na Copa Libertadores de 2025. Ainda, perdeu a final da Sul-Americana para o Racing de forma incontestável.

Duramente contestado pela torcida, Diniz quase caiu após a última rodada do Brasileiro. Durante coletiva de imprensa, disse que ficou sabendo que seria demitido pela imprensa. Depois, em reunião, a diretoria celeste optou por permanecer com o treinador, que contribuiu para a montagem do elenco para o próximo ano.

Contratações para 2025

Diante da movimentação da Raposa no mercado de transferências, a torcida recuperou o ânimo. No início de 2025, o clube apresentou nove reforços: o zagueiro Fabrício Bruno (R$ 43,7 milhões); o lateral-direito Fagner (empréstimo); o volante Christian (R$ 18 milhões); os meio-campistas Eduardo (sem custos) e Rodriguinho (sem custos); e os atacantes Gabi (sem custos), Dudu (sem custos), Marquinhos (empréstimo) e Bolasie (sem custos). Também selou a compra do zagueiro Villalba (cerca de R$ 5 milhões).

Gabigol foi apresentado à torcida do Cruzeiro em evento no Mineirão. Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

Mais decepções esportivas e queda de Diniz

Apesar de contar com tantos nomes estrelados, o elenco decepcionou. Caiu na semifinal do Mineiro ao perder para o América nos pênaltis. Antes, na primeira fase, havia triunfado em apenas três de oito confrontos. Ali, a desconfiança tomou conta. Ainda no início do torneio, o técnico Fernando Diniz deixou o cargo (20 jogos, quatro vitórias, nove empates e sete derrotas). Enquanto o clube agia para contratar outro comandante, que viria a ser Leonardo Jardim, o interino Wesley Carvalho assumiu.

Perante a tamanha insatisfação ‘pública’, caiu no colo do técnico português a missão de recuperar a confiança dos atletas e gerir o elenco de forma geral. Com o aval dele, chegou em Belo Horizonte o zagueiro Mateo Gamarra. O paraguaio fechou por empréstimo de uma temporada depois que João Marcelo se machucou gravemente. Também aprovado, Wanderson, que defendia o Internacional, desembarcou na capital mineira no último dia da primeira janela de transferências. Com contrato até o fim de 2027, atacante chegou para abater dívida de R$ 2,8 milhões dos gaúchos com os mineiros pela compra do atacante Wesley.

Pré-temporada forçada, rendimentos na Série A e na Sula

Fora do Mineiro, o Cruzeiro teve cerca de cinco semanas para trabalhar sem partidas oficiais. No período, disputou jogos-treinos e amistosos. Enfim, em 29 de março, o clube estreou no Brasileiro vencendo o Mirassol por 2 a 1. Na ocasião, fez bom primeiro tempo, caiu de produção no segundo, mas segurou o resultado. Depois, não fez frente ao Internacional e perdeu por 3 a 0. O confronto ficou marcado por expulsão contestada do zagueiro Jonathan Jesus ainda na etapa inicial.

Sem testemunhar apresentação que desejava, Leonardo Jardim fez mudanças significativas para a sequência do torneio. Naquele momento, permaneceram Cássio, Fabrício Bruno, Lucas Romero e Matheus Pereira. Perderam espaço William, Jonathan Jesus (suspenso), Marlon (emprestado ao Grêmio), Matheus Henrique (lesionado), Eduardo, Gabi e Dudu. Nas vagas, entraram Fagner, Villalba, Kaiki, Lucas Silva, Christian, Wanderson e Kaio Jorge.

O desempenho da equipe nas três partidas posteriores pela Série A (empate por 1 a 1 com São Paulo, vitória por 3 a 0 sobre Bahia e derrota por 1 a 0 para Bragantino) agradou a comissão e a torcida. Não à toa ele manteve o esquema. Contra o Vasco (vitória por 2 a 1), fez apenas uma mudança, já que o zagueiro Fabrício Bruno precisou cumprir suspensão – Jonathan Jesus ocupou o espaço deixado.

O principal problema do Cruzeiro tem sido a Sul-Americana. O time perdeu os três duelos que disputou (1 a 0 para Unión-ARG, 2 a 1 para Mushuc Runa-EQU e 2 a 1 para Palestino-CHI), segura a lanterna do Grupo E, sem ponto, e vê a classificação ao mata-mata cada vez mais distante.

A Raposa não sabe o que é vencer na Sul-Americana. Por outro lado, ocupa o G4 do Brasileiro. Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Polêmica extracampo envolvendo Dudu

Internamente, o clube trata polêmica envolvendo Dudu. Leonardo Jardim optou por cortá-lo do duelo com o Vasco, nesse domingo (27/4). Na quinta-feira anterior (24/7), após a derrota por 2 a 1 para o Palestino-CHI, pela terceira rodada do Grupo E da Sul-Americana, Dudu revelou estar incomodado com a condição de reserva. Segundo o comandante celeste, entretanto, o corte não se deu pelas declarações, e sim por motivos internos.

Desde o retorno ao Cruzeiro, o atacante coleciona 17 partidas, além de dois gols. Entre a segunda rodada do Campeonato Mineiro (derrota por 1 a 0 para o Athletic) e a segunda rodada da Copa Sul-Americana (derrota por 2 a 1 para o Mushuc Runa), foram 10 jogos como titular e três como reserva.

Para a partida diante do São Paulo, ele integrou a barca de jogadores que deixaram a equipe principal por opção técnica. Três confrontos consecutivos incomodaram o atleta. Depois, na derrota por 2 a 1 para o Palestino-CHI, Dudu iniciou entre os 11, mas, naquele contexto, Leonardo Jardim mandou a campo equipe alternativa para preservar o elenco principal, fadigado.

Metas para 2025

Pedrinho fez dois pedidos aos jogadores: “A (vaga na) Libertadores e pelo menos um título. E espero entregar para o nosso torcedor, merecem. Montamos um grupo forte, o Jardim mesmo reconhece que é muito bom. Quero voltar à Libertadores e precisamos ganhar ao menos um desses três títulos”.

Balanço financeiro

Em 23 de abril, o Cruzeiro divulgou os demonstrativos financeiros de 2024. Teve uma receita operacional líquida de R$ 282,713 milhões – um aumento em relação aos R$ 207,683 milhões registrados no ano anterior. Ao mesmo tempo cresceu as despesas para R$ 395,089 milhões – incluso os R$ 37,5 milhões pagos referentes ao plano de Recuperação Judicial da associação civil. Com isso, o prejuízo calculado é de R$ 169,908 milhões.

Ainda, o patrimônio líquido da SAF subiu de R$ 347,965 milhões para R$ 363,620 ao fim do último ano. Simultaneamente, o passivo do clube também cresceu, passando de R$ 903,309 milhões para R$ 1.310,704 bilhão.

Para calcular a dívida do Cruzeiro, é preciso deduzir do passivo total (R$ 1,3 bilhão) os valores declarados pelo clube em ativos circulante (R$ 76,5 milhões) e não circulante (R$ 253 milhões). Desse modo, o endividamento do clube em 31 de dezembro de 2024 era de R$ 981 milhões. Ao fim de 2023, o montante estava próximo de R$ 750 milhões.

Grande parte das obrigações está atrelada à recuperação judicial da associação civil, na ordem de R$ 590 milhões, e da compra das Tocas da Raposa 1 e 2, acima de R$ 200 milhões.

Tem a pagar e a receber

A Raposa tem a pagar R$ 183,2 milhões em parcelas referentes a negociações de 16 jogadores. Desembolsará R$ 1,514 milhão com as obrigações do Mecanismo de Solidariedade da Fifa. As cifras a pagar por luvas e a empresários gira em torno de R$ 89 milhões. Ainda, embolsará quase R$ 40 milhões por contratos selados.

Custos das atividades esportivas

O custo das atividades esportivas passou de R$ 176 milhões em 2023 para R$ 395 milhões em 2024. O maior aumento é relacionado com salários, direito de imagem, encargos e benefícios – de R$ 94 milhões para R$ 200 milhões.

Próximos jogos e situação nas competições

O Cruzeiro volta a campo nesta quinta-feira (1º/4), quando recebe o Vila Nova no Mineirão, em Belo Horizonte, pela ida da terceira fase da Copa do Brasil. Será a estreia da equipe na competição.

O próximo jogo pelo Brasileiro está marcado para 4 de maio (domingo), contra o Flamengo, às 18h30, no Gigante da Pampulha, pela sétima rodada. A Raposa ocupa a quarta colocação, com 10 pontos – três triunfos, uma igualdade e dois tropeços.

Já o duelo pela quarta rodada da Sul-Americana é contra o Mushuc Runa, em 7 de maio (quarta-feira), às 21h30, no Estádio Olímpico de Riobamba, na cidade homônima, no Equador. O time aparece em último lugar do Grupo E, sem ponto – três derrotas.

Futebol feminino

O futebol feminino também tem recebido atenção da atual gestão do Cruzeiro. Havia uma preocupação com relação à modalidade quando Ronaldo deixou o clube e, depois, quando Kin Saito deixou o cargo de diretora.

Na época, Pedrinho disse que não pretendia fazer grandes investimentos na modalidade, apenas manter o que já era realidade. Mattos defendeu o mandatário dizendo que havia sido mal interpretado: “No futebol feminino, estava um passo maior do que a perna… quando precisava de dinheiro, batiam na porta do Supermercados BH. A partir do momento que se produzir receita, vai ter o investimento”.

Sob o comando de Jonas Urias e a direção de Bárbara Fonseca, o Cruzeiro se consagrou tricampeão mineiro ao vencer o América. Também fez a melhor campanha do clube no Brasileiro até então quando avançou ao mata-mata em quinto lugar – nas quartas, caiu para o Palmeiras.

Quando a temporada virou, os medos em relação a um suposto sucateamento caíram. Com investimento de cerca de R$ 10,5 milhões, o Cruzeiro foi ao mercado. Contratou 13 atletas, incluindo a zagueira Isa Haas, frequentemente convocada para a Seleção Brasileira, renovou com 15, com destaque para a atacante Byanca Brasil, e dispensou 12. A meta é buscar uma vaga na próxima edição da Libertadores e brigar no topo dos torneios nacionais.

Na Série A1 do Campeonato Brasileiro, as Cabulosas têm dado indícios de que vão dar trabalho. Ocupam a segunda colocação, com 19 pontos – mesma quantidade que a Ferroviária, à frente no saldo de gols. São seis vitórias e um empate.

O próximo compromisso da Raposa é nesta quarta-feira (30/4), contra o Flamengo, Às 19h, no Castor Cifuentes, em Nova Lima, pela oitava rodada do Brasileiro.

Na atual gestão, o Cruzeiro realizou a primeira venda da história do futebol feminino do clube. Por 170 mil dólares, o equivalente a cerca de R$ 1 milhão, a Raposa negociou Rebeca, jovem volante de apenas 19, com o Houston Dash, dos Estados Unidos – e ainda mantém 10% dos direitos econômicos da jogadora.

Jogadoras do Cruzeiro perfiladas para foto antes de jogo com América, pelo Brasileiro Feminino - (foto: Gustavo Martins/Cruzeiro)
O Cruzeiro não sabe o que é perder no Brasileiro Feminino(foto: Gustavo Martins/Cruzeiro)

Compartilhe