
O Atlético tem o dobro da dívida do Cruzeiro. É o que aponta o Relatório Convocados 2025, do economista Cesar Grafietti, especialista na análise de balanços financeiros de clubes de futebol. O estudo de 250 páginas levou em consideração os dados apresentados pelas instituições no período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2024.
Segundo os números indicados por Grafietti, o Galo deve R$ 2,304 bilhões e só fica abaixo do Corinthians. O Cruzeiro é o quarto do ranking, com R$ 1,158 bilhão a pagar. O levantamento englobou as equipes da Série A do Campeonato Brasileiro de 2024.
De modo geral, o futebol nacional movimentou R$ 10,2 bilhões em receitas na Série A em 2024, o maior valor já registrado. Por outro lado, os clubes acumularam R$ 14,6 bilhões em dívidas no mesmo ano.
Como o cálculo foi feito?
Na página 96 do relatório, Grafietti explicou os conceitos de dívida e liquidez.
- DÍVIDA: representa o total de obrigações financeiras de uma empresa, incluindo empréstimos, contas a pagar e outros compromissos;
- LIQUIDEZ: é a capacidade de converter ativos em dinheiro rapidamente para cobrir obrigações financeiras, sobretudo as de curto prazo;
A dívida é o que a empresa deve, enquanto a liquidez é a facilidade com que ela consegue honrar suas obrigações.
Cesar Grafietti
De acordo com o economista, um erro comum cometido pelas agremiações é calcular a dívida como “passivo circulante menos ativo circulante”. “Tecnicamente, isto é uma forma de liquidez, e no caso de um clube que tem mais passivos que ativos, significa que está mais próximo da insolvência, especialmente se o fluxo de caixa é negativo”.
Outra falha é deduzir os valores a receber de transferência de atletas. “Na Europa, com regras rígidas contra quem não paga, funciona. No Brasil, onde clubes contratam, não pagam e ainda conseguem prazos longos, é um erro considerar o ativo como redutor de dívida”, escreveu Cesar Grafietti.
Com base no entendimento do especialista, Atlético e Cruzeiro não poderiam amortizar a dívida com um dinheiro que ainda não estava em seu caixa em 2024 – por exemplo, o da venda de Paulinho pelo Galo ao Palmeiras (R$ 114 milhões).
Assim, a fórmula aplicada para chegar ao valor final da dívida é:
Onerosas
- + Instituições financeiras
- + Dívida com terceiros (não financeiros)
Operacionais
- + Contas a pagar a federações
- + Contas a pagar a clubes
- + Contas a pagar a agentes
Fornecedores
- + Adiantamentos de TV
- + Adiantamentos de publicidade
- + Salários, encargos e impostos
- + Direitos de imagem a pagar
Impostos/Acordos
- + Impostos parcelados e acordos
Dedução
- (-) Disponibilidades e aplicações financeiras

Divergências
Os critérios usados por Cesar Grafietti colocam a dívida do Atlético em um patamar bastante superior ao informado pelo clube (R$ 1,369 bilhão).
O Galo fez justamente o que o economista considera inapropriado: somou os passivos circulante (prazo de até um ano) e não circulante (prazo superior a um ano), subtraiu as receitas antecipadas e abateu dinheiro em caixa, contas a receber (transferência de jogadores, direitos de transmissão, etc.), títulos mobiliários e depósitos judiciais.
Já o Cruzeiro não detalhou nas demonstrações financeiras quanto seria o tamanho de sua dívida. Todavia, em consonância com o padrão adotado pelo rival, essas cifras estariam na casa de R$ 896 milhões.
Ranking de dívidas do futebol brasileiro
- Corinthians – R$ 2,343 bilhões
- Atlético – R$ 2,304 bilhões
- Botafogo – R$ 1,21 bilhão
- Cruzeiro – R$ 1,158 bilhão
- São Paulo – R$ 1,088 bilhão
- Internacional – R$ 959 milhões
- Vasco – R$ 851 milhões
- Palmeiras – R$ 823 milhões
- Fluminense – R$ 822 milhões
- Flamengo – R$ 666 milhões
- Grêmio – R$ 525 milhões
- Athletico-PR – R$ 468 milhões
- Vitória – R$ 190 milhões
- Fortaleza – R$ 176 milhões
- Bragantino – R$ 105 milhões
- Bahia – R$ 91 milhões
- Cuiabá – R$ 32 milhões
- Atlético-GO – R$ 14 milhões
- Juventude – R$ 1 milhão
- Criciúma – dívida zerada
Os números do Atlético
Para Cesar Grafietti, o que deu certo no Atlético em relação à saúde financeira em 2024 foram o crescimento das receitas, o resultado operacional positivo e o desempenho esportivo com os vices da Copa Libertadores e da Copa do Brasil.
Em compensação, o economista apontou alguns problemas, como a dívida e os investimentos elevados e a necessidade de vender atletas para não fechar o ano no vermelho.
Esportivamente, (o Atlético) fez duas finais relevantes (Copa do Brasil e Copa Libertadores). Fora de campo, segue alavancado, as dívidas não cedem, e as receitas só cresceram por negociação de atletas e desempenho, o que é incerto.
Cesar Grafietti sobre as finanças do Galo
Receita bruta – R$ 607 milhões
- Direitos de TV – R$ 247,7 milhões
- Publicidade/patrocínio – R$ 58,6 milhões
- Transação de atletas – R$ 115,9 milhões
- Bilheteria/sócio – R$ 112,9 milhões
- Estádio (Arena MRV) – R$ 59,9 milhões
- Outros – R$ 12,2 milhões
Fluxo de caixa do Atlético

Os números do Cruzeiro
No Cruzeiro, Grafietti destacou o aumento da arrecadação, porém fez ressalva para o baixo resultado operacional e o crescimento das dívidas.
Na visão do economista, a peformance esportiva não correspondeu ao investimento feito pela SAF: o time terminou o Campeonato Brasileiro em nono lugar, fora da zona de classificação à Libertadores, e perdeu a final da Copa Sul-Americana.
Desempenho frágil considerando o aumento de receitas e os aportes de capital. Tudo foi direcionado ao futebol, mas é preciso ter atenção ao crescimento das dívidas, porque as receitas terão sempre um limite de expansão.
Cesar Grafietti sobre as finanças do Cruzeiro
Receita bruta – R$ 371,5 milhões
- Direitos de TV – R$ 138,1 milhões
- Publicidade/patrocínio – R$ 73,2 milhões
- Transação de atletas – R$ 74,8 milhões
- Bilheteria/sócio – R$ 83,5 milhões
- Outros – R$ 1,9 milhão
Fluxo de caixa do Cruzeiro

Bilionários à frente das SAFs
As SAFs de Atlético e Cruzeiro são comandadas por empresários bilionários de Minas Gerais. O Galo tem Rubens Menin como investidor mais lembrado, além de seu filho, Rafael Menin, e os sócios Ricardo Guimarães, Renato Salvador e Daniel Vorcaro. Já a Raposa é conduzida por Pedro Lourenço em parceria com os filhos Pedro Junio e Bruno Oliveira e o sócio Waldir Rocha Pena.
Nascido em Belo Horizonte, Rubens Menin Teixeira de Souza, de 69 anos, é engenheiro civil formado na UFMG. Em 1979, ele foi um dos fundadores da MRV, construtora que atua no ramo de empreendimentos residenciais. O empresário ainda detém o controle do Banco Inter, da CNN Brasil, da Rádio Itatiaia e de vinícolas em Portugal.
Pedro Lourenço de Oliveira, também de 69 anos, é natural de Paineiras, a 270 quilômetros de Belo Horizonte. De origem humilde, ele se mudou para a capital aos 18 anos e ganhou experiência no varejo até abrir o próprio negócio, o Supermercados BH, em 1996. Hoje, a rede é uma potência em Minas e no Espírito Santo, com previsão de alcançar o patamar de 389 lojas em 2025.
- A MRV Engenharia faturou R$ 11,2 bilhões em 2024, mas registrou prejuízo de R$ 128 milhões
- O Banco Inter lucrou R$ 972 milhões em 2024 e atingiu patrimônio líquido de R$ 9,9 bilhões no 1º trimestre de 2025
- O Supermercados BH arrecadou R$ 21,2 bilhões no ano passado, tornando-se a 4ª maior rede do segmento do Brasil