CRUZEIRO

A conexão de Byanca Brasil com a torcida do Cruzeiro

Ídola e camisa 10 do Cruzeiro, Byanca Brasil conversa com público fiel e o faz entender o significado de representatividade

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Referências, ídolos carregam representatividade, criam a sensação de pertencimento e inspiram de diferentes formas. No futebol, personificam a paixão de quem acompanha e, reconhecidos por trejeitos, falas e atitudes, atraem olhares. A descrição combina com Byanca Brasil, hoje frequentemente associada à equipe feminina do Cruzeiro. Quem constrói, dia após dia, conexão com a torcida. “Uma potência”, como definida por Bárbara Fonseca, diretora da modalidade no clube. 

Natural do Rio de Janeiro, Byanca Brasil deu uma chance ao Cruzeiro em 2023. À época, atuava no futebol profissional havia uma década e acumulava passagem por clubes de expressão.

Ela veio para Belo Horizonte para vestir a camisa 10 de um projeto ainda recente, iniciado em 2019, quando não havia outra forma – a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) havia determinado que todos os times participantes do Campeonato Brasileiro teriam de manter equipes femininas. 

O início da história entre Cruzeiro e Byanca Brasil

Ali, clube e atacante deram início a uma história de amor correspondido. Logo na primeira temporada, Byanca Brasil se fez essencial na classificação inédita do Cruzeiro às quartas de final da Série A1 do Campeonato Brasileiro. Naquela temporada, entrou em campo 24 vezes, marcou 23 gols e distribuiu quatro assistências. Para coroá-la, levantou o título do Campeonato Mineiro – que havia sido conquistado pelas Cabulosas, pela última vez, em 2019.

Naquela decisão de Estadual, Byanca Brasil marcou o gol que deu a vitória ao Cruzeiro diante do Atlético. Na comemoração, ergueu a bandeirinha de escanteio, estampada pelas cores do arco-íris, referentes ao movimento LGBT.

Se o futebol da atacante já impressionava, o posicionamento fora de campo fez com que ela se destacasse ainda mais e atraísse um público fiel, que finalmente pôde entender o significado de representatividade.

Byanca Brasil em comemoração ao gol que deu às Cabulosas vitória sobre o Atlético na final do Campeonato Mineiro de 2023. Foto: Staff Images Woman/Cruzeiro

Camisa 10 inspirou criação de torcida

Tamanho significado de um gesto pequeno culminou em um movimento cada vez maior nas arquibancadas dos estádios que recebem jogos do Cruzeiro. A camisa 10 se tornou inspiração para a criação da Desorganizada Cabulosa. A torcida, que ainda não tem registro de CNPJ (o que explica o nome descontraído), é composta majoritariamente por mulheres que se veem nos campos e uma das grandes responsáveis pelo suporte às Cabulosas.

Em 2024, Byanca Brasil se consolidou ainda mais como a imagem do Cruzeiro. Capitã, liderou a equipe à final da Supercopa Feminina. O tropeço para o Corinthians não apagou o momento de êxtase, afinal, a Raposa havia chegado à primeira decisão nacional de sua história.

Meses depois, o Cruzeiro avançou às quartas de final do Brasileiro em quinto lugar, superando a campanha anterior. Naquele momento, a camisa 10 precisou lidar com um desafio pessoal: devido a uma lesão na panturrilha, não pôde contribuir em campo, e o Cruzeiro parou no Palmeiras.

Bandeiras da Desorganizada Cabulosa no duelo entre Cruzeiro e Ferroviária - (foto: Sofia Cunha/No Ataque)
Bandeiras da Desorganizada Cabulosa no duelo entre Cruzeiro e Ferroviária(foto: Sofia Cunha/No Ataque)

Declarações ao Cruzeiro

Página virada, lá estava ela, mais uma vez, em outra conquista da Raposa no Mineiro. Byanca Brasil não iniciou a vitória por 3 a 0 sobre o América como titular por ter sentido um incômodo. Aos 50 minutos do segundo tempo, acionada pelo técnico Jonas Urias, entrou em campo visivelmente emocionada.

Ao fim do confronto, explicou a emoção e se declarou ao clube: “Infelizmente, deixei a desejar num momento decisivo para o Cruzeiro mais uma vez. Mas não é sobre a Byanca, não é sobre uma atleta, é sobre o Cruzeiro, é sobre o tamanho desse clube, o maior de Minas, está comprovado mais uma vez”.

Em maio daquele ano, a atacante havia despertado a atenção de Arthur Elias. O técnico da Seleção Brasileira, então, a convocou de forma inédita para dois amistosos diante da Jamaica – ela entrou em campo em um. Apesar de ter tido experiência na reta final da preparação para a Olimpíada de Paris, Byanca Brasil não integrou a lista.

Entretanto, ela marcou a torcida celeste ao levar as cinco estrelas à concentração e, mais uma vez, reafirmou o vínculo. Na apresentação, Byanca Brasil desembarcou em Recife com o segundo uniforme da Raposa. Em julho, assinou a renovação com o clube estrelado até o fim de 2028 – tempo de contrato considerado raro no futebol feminino.

Em maio de 2024, Byanca Brasil se apresentou à Seleção Brasileira com a camisa do Cruzeiro. Foto: Lívia Villas Boas/CBF

Atual temporada de Byanca Brasil

Neste ano, apesar de viver uma temporada menos artilheira, a camisa 10 não negocia o papel fundamental de liderança. Ao lado de outras capitãs, como Gaby Soares e Isa Haas, participou de campanha história do Cruzeiro na Série A1. Com 36 pontos, 11 vitórias, três empates e apenas uma derrota, a Raposa avançou ao mata-mata na liderança.

Titular, Byanca Brasil não participou da reta final da etapa classificatória por ter sofrido lesão ligamentar no tornozelo esquerdo no triunfo por 2 a 1 sobre a Ferroviária, em 17 de maio, pela 13ª rodada do torneio nacional. No momento da pancada, a atacante deixou o campo do Castor Cifuentes, em Nova Lima, às lágrimas. Ali, resgatou um trauma da passado: a ausência nas quartas de 2024.

Este ano, a tendência é que o cenário seja diferente. Já na etapa de transição física, a atacante deve estar à disposição de Jonas Urias para as quartas de final do Brasileiro – a ida será em 10 de agosto, no estado de São Paulo, contra o Bragantino, às 10h30; enquanto a volta está marcada para o domingo posterior (17/8), no mesmo horário, no Independência, em Belo Horizonte.

Antes disso, em 6 de agosto, Byanca Brasil deve integrar o elenco na disputa da terceira fase da Copa do Brasil. A partir das 19h30, as Cabulosas recebem o Corinthians no Castor Cifuentes de olho em vaga nas oitavas de final.

Byanca Brasil é ídola do Cruzeiro

Marcada no imaginário da torcida do Cruzeiro, Byanca Brasil é considerada ídola. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Bárbara Fonseca destacou que a liderança é intrínseca à atacante e explicou como ocorreu a fusão. Também ressaltou a importância técnica da atleta para o clube.

“Ela já é uma ídola. Isso é da natureza dela. A Byanca chega com isso bem trabalhado enquanto carreira. A gente era muito crente dessa figura. Ela chega já como uma potência, a gente carente, a coisa conectou, e foi possível construir hoje o que a imagem da Byanca representa… De fato, a Byanca é excelente nisso também, para além de ser uma atleta excelente dentro de campo, tudo que ela constrói. O tanto que ela faz nossa equipe jogar melhor é impressionante”

Bárbara Fonseca, coordenadora de futebol feminino do Cruzeiro

A dirigente deseja que outras jogadoras também conversem de tal forma com os fãs celestes: “A gente precisa trabalhar muito ainda dentro do Cruzeiro e pulverizar isso, fazer com que outras atletas se tornem de outros tipos de torcedores a ídola. A gente precisa trabalhar. É uma coisa que eu discuto muito com a Keyla (Monadjemi, coordenadora da categoria de base feminina). A Keyla vem com essa experiência do vôlei, sabendo fazer muito bem. A gente está ali criando ideias para expandir isso”.

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