
Fred Cascardo se tornou o ‘homem forte’ do futebol do América em pouco tempo. No cargo de diretor de futebol desde fevereiro de 2022, ele está à frente das principais decisões do clube: captação de jogadores, definição de metas e planejamento orçamentário. No aniversário de 113 anos do Coelho, o No Ataque conversou com o dirigente por quase uma hora. Nesta entrevista exclusiva, ele esclarece polêmicas, projeta o desempenho na Série B do Campeonato Brasileiro e detalha os planos para 2025.
Mesmo que o principal objetivo do ano pareça óbvio, ele é sempre reforçado, seja nas entrevistas com jogadores, técnico ou dirigentes: retornar à Série A. Para Fred, não é diferente: “Eu não vou pensar em Série B ano que vem, não. Não vou prometer acesso. O que eu posso deixar para a torcida americana é que quem está lá está fazendo de tudo para esse objetivo”.
Ele também comentou a respeito das finanças e do planejamento do clube para este ano. A dificuldade financeira não é um segredo para os torcedores ou para a imprensa. Mais uma vez, o América deixou claro que o orçamento curto é um limitador influente na temporada. Com a receita reduzida, a diretoria prega cautela nas negociações e nos investimentos.
Por isso, a ascensão à Primeira Divisão é tratada como prioridade. Neste ano, o Coelho precisou reduzir a folha salarial, além de ter feito uma captação de jogadores ainda mais minuciosa. As apostas são claras com os atletas da base e até mesmo com o jovem técnico William Batista. Os pilares se concentram em quatro jogadores mais experientes: Ricardo Silva, Marlon, Mariano e Willian Bigode.
Para o ano que vem, o planejamento ainda não está traçado, mas depende principalmente de duas drásticas mudanças: o acesso e a venda da SAF. Embora não esteja à frente das negociações das ações do clube – quem toma conta dessa parte é o presidente Marcus Salum -, Fred salientou que o América necessita de um investidor para ir ao mercado e adquirir atletas em definitivo. Em 2025, das 11 contratações, 10 são empréstimos.
Por fim, o diretor esclareceu polêmicas que movimentaram o noticiário do América recentemente, como a saída de Adyson do time profissional para o sub-20, assim como a não renovação com o meia-atacante Rodriguinho, que defende o Cruzeiro, e comentou possíveis movimentações no mercado da bola.

Entrevista com o diretor de futebol Fred Cascardo
No Ataque: América completa 113 anos nesta quarta-feira. Como é fazer parte do clube e quais são as metas e objetivos para cumprir esse ano?
Fred Cascardo: É uma honra e uma gratidão muito grande estar participando mais uma vez de um aniversário do Coelhão, um clube de tradição no país e que tem suas particularidades. É um clube querido por muita gente, é um clube que prazeroso no dia a dia e que acredito que o América tem muito ainda a contribuir para o futebol brasileiro. O América tem um potencial muito grande de demonstrar para todos a sua grandeza, suas particularidades de formação de atletas, de conquistas, de história. É muito prazeroso fazer parte desse momento do clube.
É uma Série B diferente de outras, é uma competição diferente dos outros anos. Está bem bem linear, os times bem equilibrados. A gente viu nas primeiras rodadas, são vitórias de de poucos gols, empates, são clubes que tem as mesmas logísticas difíceis, investimentos parecidos e vai ser uma competição muito difícil, mas a gente espera chegar lá no final e atingir o objetivo que é o acesso à Série A.
NA: Você acha que já teve algo alguma decepção na temporada? O William Batista é um treinador que vocês apostaram e você acha que tem rendido frutos, tem sido certeira a aposta?
FC: A temporada já teve teve já desafios. Desde o início da temporada a gente sabia que dentro do que foi planejado com o Conselho Administrativo e com a presidência, as contratações que deveriam ser feitas estavam planejadas dentro do orçamento. É um ano diferente para o clube. É um ano de adaptações, de dificuldades. Vai ter que ser muito criterioso e habilidoso para as tomadas de decisões.
No Estadual a gente cumpriu a meta que foi estabelecida, que seria até a semifinal, mas a gente conquistou o vice-campeonato e com uma vitória sobre o nosso rival que não acontecia há 20 anos no Mineirão. O primeiro jogo foi atípico, vai contestar e divergir na tomada de decisão da arbitragem, mas fizemos uma grande competição.
Isso fortalece o trabalho do William Batista, que eu conheço desde as categorias de base, o potencial, conhecimento e tudo aquilo que ele poderia entregar.
A Copa do Brasil não foi o esperado. Tinha meta na Copa do Brasil, mas é uma competição que mudou o regulamento e isso causa uma certa dificuldade. O clube menor ranqueado tem o mando de campo e joga pelo empate, no empate é a disputa de pênaltis. Então isso isso virou um desafio para os clubes grandes. Não só o América, mas tiveram outros clubes de Série A e série B que também saíram na primeira fase. Fica de aprendizado e de ponto de atenção. Precisa melhorar nas próximas temporadas, ser mais agressivo e buscar o resultado para as próximas fases.

NA: O não acesso ano passado foi uma grande frustração, que impactou nos cofres do clube, principalmente. Esse ano o América optou por fazer um investimento reduzido. Qual a dificuldade em fazer esse trabalho, sendo que o objetivo é ter um time que vá conquistar o acesso este ano?
FC: Esse foi o maior desafio quando a gente começou a pensar na temporada. Quando a gente não teve o acesso, que foi o principal objetivo da temporada 2024, a gente entendeu que mudanças bruscas teriam que acontecer. A redução da folha, da logística. Teve que ter habilidade e entender que o clube, nesse momento, vai precisar de todos os departamentos unidos e entender que vamos ter que dar um passo atrás, mas com o mesmo objetivo da temporada anterior, que é o acesso à Série A. A gente tem que ser habilidoso, criterioso e minimizar os erros nas contratações.
Exige um planejamento estratégico não só para a temporada, mas de médio a longo prazo. A partir do momento da queda do orçamento, vai ter que pensar também no desenvolvimento dos nossos atletas nas categorias de base. Então vamos ter que contratar pontualmente. Precisava de um goleiro para a temporada, de peça de reposição no setor ofensivo e no meio-campo, que foi onde a gente perdeu, teve a saída do Juninho, do Felipe Azevedo.
Dentro de casa os meninos da base, que alguns já estavam no processo de de transição, sendo preparados para isso e outros que fizeram uma temporada no Sub-20 e que poderiam fazer parte do elenco no Campeonato Mineiro. Tem que ser habilidoso e entender o que o clube nos oferece e fazer daquilo uma oportunidade dentro do que foi estabelecido, nas dificuldades de procurar o jogador que viesse a compor o elenco no perfil que a gente precisava, que foi o Matheus Mendes, o Miqueias, o Cauan Barros e o Figueiredo para o para o Estadual.
Esses três jogadores estavam dentro do perfil traçado. E o Miqueias dentro de uma observação da competição. É um atleta que o Grupo City investiu e que estava dentro dos padrões que o América precisava, dentro da idade, perfil físico, técnico e dentro do relacionamento entre os clubes. Esse relacionamento tem que ser fundamental para o sucesso numa negociação. Ela envolve a relação entre os clubes, entre intermediários e o convencimento do atleta que aquele projeto é importante para ele naquele momento. Então isso foi fundamental para a gente dar o start na temporada 2025.
NA: Como são Mariano e Bigode no dia a dia? O que eles entregam de diferente para esse grupo que é muito jovem, mas que conta com experientes como eles?
FC: A composição de um elenco precisa desde os atletas formados no clube até atletas experientes para criar uma espinha dorsal. A gente já tinha dentro do elenco alguns atletas nesse perfil. O Ricardo Silva, Lucão, Alê. A chegada do Mariano vem para repor uma venda do clube, pela negociação do Mateus Henrique, era uma oportunidade naquele momento de mercado. O Mariano no perfil vencedor, de atleta extra campo que se cuida, que treina, perfil de liderança. O Mariano entregaria para nós o que o Mateus Henrique entregou naquele momento.
A chegada do Bigode, a gente já estava em busca de mais um homem de área, um homem um centroavante. O bigode tem características mais de mobilidade, não fixo dentro da área, mas a gente precisava também de uma reposição nessa nessa nessa posição. Ele entrou nesse perfil vencedor, experiente. No dia a dia, esses atletas são referência para os jovens que estão lá. Então, buscar esse equilíbrio é fundamental para a temporada.
E a chegada também de um atleta mais novo que foi o Miguelito. Uma oportunidade de mercado. É um atleta de seleção, que é vice-artilheiro da das eliminatórias e com muita qualidade. Dentro daquilo que foi planejado para as contratações, foi muito assertivo. Além das contratações, foi também permanecer com os seus atletas dentro do grupo. A gente viu movimentações pro Fabinho, pro Marlon. A não saída dos atletas é fortalecer o elenco. Nesse momento era necessário permanência desses atletas e a chegada de atletas pontuais pra gente ter um um grupo forte pra temporada de 2025.

NA: No fim da janela de transferências, o América tentou até o fim a contratação do Nicolas, mas o negócio não se concretizou. O América chegou a estudar outros nomes? Quais?
FC: Toda contratação tem um norte técnico, perfil físico e tático. O departamento de mercado está sempre de olho, vai ter uma oportunidade que às vezes algum intermediário liga, algum clube liga oferecendo um atleta e aí a gente estuda esse perfil. Houve sim a procura e a conversa com o Nicolas.
A gente chegou a acertar toda a base do contrato com o Nicolas, mas desde o início, estava claro que dependeria de uma liberação do Paysandu. Então, o Nicolas dependia de uma negociação dele com o clube para a saída. O que não houve naquele momento a possibilidade.
E outros nomes foram estudados. Eu vou me reservar o direito de ainda deixar guardado na manga, porque vem aí uma janela do meio do ano que a gente pode voltar atrás e e ir nesses nomes que que foram estudados, mas que naquele momento não havia possibilidade, ou por financeiro ou por o clube sedente não liberar o atleta. Houve mais de um nome, mas o mais viável seria o Nicolas. Os outros a possibilidade era menor. O Nicolas era o primeiro nome da lista.
NA: Em virtude dessa não concretização, o América ainda tem como prioridade buscar um jogador com as mesmas características na próxima janela? E outras posições?
FC: Tem que estar atento ao mercado. O centroavante uma posição de atenção, está mais em alerta. Vamos estudar novamente, ter reuniões para entender caso a caso. A janela internacional abre em julho novamente. Então, é uma possibilidade de um mercado estrangeiro. Teve até atleta da Dinamarca sendo oferecido para o clube.
Se couber dentro do orçamento do América para essa segunda janela, a gente vai pensar no nome. E outras possibilidades tem que estar sempre atento. Tem que ter no radar alguns atletas de alguma posição que foram ou sondados ou possibilidade de uma negociação. Então, há sim uma possibilidade de outras posições para ficarmos atentos ao mercado.
NA: Outra contratação de destaque para a temporada foi a do goleiro Matheus Mendes. O América estuda comprá-lo?
FC: Hoje o clube necessita de um investidor para fazer uma uma negociação em definitivo. Então a gente tem que ser bem transparente. O presidente Marcus Salum tem o foco de buscar esse investidor que vai fortalecer o futebol do clube.
Se eu precisar fazer um investimento na janela, ele é um fator dificultado para transferência definitiva do Matheus. Nós temos em cláusula que a gente pode igualar uma transferência caso o Atlético receba (oferta). E isso nós vamos ter até o final para exercer essa opção.
Temos conversa constante com o empresário Marcelo Zanotti, que fala conosco que o Matheus está muito feliz no clube. Creio que o Atlético também porque é uma vitrine, Matheus está numa vitrine interessante, de patamar elevado
A gente fez na nos últimos 4 anos venda de 100 milhões de reais (totais). O próprio Mastriani, o Martínez foram vendidos pelo clube. Quando o atleta vem para cá, ele tem que entender que o projeto faz parte também de um plus na carreira dele. Ele vem ou para criar a sua história no clube, que é o principal, ou para se valorizar para o mercado. Esses são os exemplos do América para apresentar o projeto para os atletas.
Então, é do nosso interesse, sim, a permanência do Matheus. É um goleiro de patamar elevado. Assim como as outras contratações, que também é de interesse do América a permanência deles. E se for uma possibilidade de permanência definitiva, que a gente faça a aquisição de todos eles.

NA: Neste mês, o Adyson deixou o profissional do América e foi integrado ao Sub-20. Sei que o contrato do jogador vai até dezembro e em breve ele pode assinar um pré-contrato. Como está essa situação? O América tem interesse em renovar? O que motivou essa decisão de mandá-lo para o Sub-20?
FC: Vamos pegar o histórico do América das temporadas passadas para essa. Todos os atletas, com exceção do Rodriguinho, tiveram o contrato renovado. O América forma o atleta para a vitrine do clube. O objetivo principal é a formação dos nossos atletas. Hoje o América é muito dependente da receita de venda de atletas. É a principal fonte de receita do clube. Está à frente da bilheteria, do patrocinador Master, das premiações de competições.
Então, a gente precisa de uma categoria de base bem formada, apresentar um plano de carreira para esses atletas, colocá-los na vitrine e lá na frente todo mundo ganha. O clube, o atleta, o seu intermediário e aqueles que estão envolvidos dentro desse processo de formação. Quando transita o atleta, tem todo um cuidado de fazer esse plano de carreira para todos eles. Foi feito assim como Mateus Henrique, Breno, Júlio, Artur, Paulinho, Gustavão. São mais de 10 ou 12 atletas nesses últimos três, quatro anos. E todos eles, com exceção do Rodriguinho, assinaram o plano de carreira e estão na vitrine.
A gente teve conversas desde meados do ano passado pela renovação do Adyson. E até hoje não teve um fechamento. O América não deixou de última hora. Algumas divergências, isso vai acontecer. Em qualquer negociação de contrato há divergências de pensamento. Um cede ali, um cede aqui, para chegar no ajuste e se acertar. Não houve esse acerto.
Por algumas algumas cláusulas que o América entendeu que naquele momento não seria interessante. Então não houve o acordo. E de lá para cá, várias conversas foram tentadas e até hoje não obtivemos a resposta. O Adyson teve o seu momento de vitrine. Em termos de minutagem na posição, ele joga só menos que o Fabinho. A gente acreditava nele. Então, isso faz parte do projeto do América. E a partir daí, a gente tomou uma decisão além do critério técnico e do critério também de projeção dentro do clube. Hoje a prioridade é para aqueles atletas ou na base ou no profissional que entendem que o América é importante para sua carreira.
O Adyson vai trabalhar e treinar no Sub-20 e está à disposição do clube. Ou para jogar no Sub-20 ou para jogar no profissional. As conversas foram feitas, foram mais de quatro conversas para a renovação, desde o ano passado.
NA: Essa decisão de ter voltado com ele para o Sub-20 é por conta de um não acerto entre as partes?
FC: Também. O critério técnico também. Porque se o atleta não tem a sua decisão tomada, eu tenho um critério técnico envolvido. Como é que eu ponho um jogador para jogar sendo que ele tem que me dar o retorno técnico? Se ele está em dúvida ainda no que vai acontecer na carreira dele, ele pode oscilar. Se o atleta sabe que o clube é importante, o nível técnico está mais alto, o nível de concentração dele está mais alto.
NA: O América chega a pensar em talvez vender ele por alguma proposta que não seja a que o América pensou antes? Caso as negociações pela renovação não avancem, que talvez seja um cenário melhor do que perdê-lo de graça?
FC: Todo atleta do América é negociável. O que a gente não pode é receber a faca no pescoço para saída dos atletas. Então a gente vai fazer aquilo que é justo para todos, tanto para o clube, quanto para o atleta.
NA: A tendência é que talvez nessa janelas do meio do ano o América possa vender atletas? Quem você acha que são os principais ativos do clube nesse momento?
FC: Todo atleta que está na vitrine vira um ativo. Todos aqueles que estão no elenco tem a minutagem na temporada e está numa vitrine para uma possível negociação. O que a gente não quer, e o América não vai fazer é negociar o ativo de qualquer maneira. Se for uma oportunidade que seja positiva para todos os envolvidos, vamos sentar na mesa e avaliar. Essa negociação não é definida só pelo diretor de futebol, tem um conselho administrativo, o CEO do clube e o presidente Alencar, que são parte envolvida nesse processo do clube. Então, a proposta chega para o diretor de futebol. Ele avalia. Se dentro daquilo que foi apresentado, eu já tenho o norte se ela é positiva. Se não, a gente já nega e nem segue para o conselho. Se a proposta é interessante para o clube, independente da posição do atleta, da idade, do tempo de contrato, vamos sentar, avaliar.
Dentro do histórico, e aqui eu falei um pouco atrás, a gente teve vendas nos últimos 4 anos de 100 milhões de reais. O América na sua história de Copa do Brasil, acho que não teve premiação desse nível. Então, tem que entender que o América é um clube formador e revelador de atletas. Seja ele da base ou seja ele vindo de outro clube.

NA: Tem algum nome, principalmente na base, que vocês trabalham esse olhar de fazer uma venda internacional?
FC: Hoje o América não tem mais o trampolim. Temos a venda direta, nem se for para um clube intermediário da Europa. O Gustavão está no Benfica, foi vendido por 1 milhão de euros, É um clube de patamar elevado na Europa, mas não é o fim, do Benfica ele pode ser revendido.
Temos dentro do elenco hoje o Kauã Diniz, Yago Santos, Júlio, Cássio. Temos atletas ainda que vão necessitar de um período de amadurecimento, exposição e venda do clube. No Sub-20 temos outros atletas, o Yago Santana, tem também um potencial grande de venda. No Sub-17 temos o Kaique Zizero. Nós tivemos um atleta emprestado para o Sub-16 do Bragantino, fixado o passe, empréstimo oneroso. Então, nós temos na base ativos que futuramente vão dar um retorno interessante para o clube.
NA: Ano passado, quando o América vendeu alguns jogadores (Breno, Martínez, Mastriani… antes desses o Vitor Roque, Arthur), o Salum comentou numa entrevista que esse dinheiro ainda não tinha um destino certo, poderia ser usado tanto para dívidas, quanto para o futebol. Como ficou essa distribuição? Qual é o planejamento da receita da venda de jogadores?
FC: O América precisa de um fluxo mensal para o futebol. Vai para investimentos no CT, foi construído uma academia para as categorias de base. Uma academia semelhante ao do profissional. Tem um espaço reservado com a mesmo padrão de equipamento. A ideia do clube é fazer novos campos, fazer concentração para o profissional e para as categorias de base, aquisição de atletas, viagens, investimento nas categorias de base. Quando eu cheguei no clube, o orçamento da base era de R$ 5 milhões. Hoje está em torno de R$ 7, 8 milhões. Então, esse dinheiro da venda dos atletas vai direcionado um pouquinho para cada departamento. Desde aquisição de atletas até investimento na sua estrutura física, que é no seu centro de treinamento.
NA: Voltando às negociações dos atletas que você tinha comentado, chegou a citar o nome do Rodriguinho, que foi negociado com o Cruzeiro. Foi um atleta que saiu de uma forma ruim do clube, por não ter tido um acordo pela renovação?
FC: Toda renovação de contrato, o clube tem que entender onde o braço pode alcançar. Quando a gente tenta renovar com o Rodriguinho ou qualquer outro atleta, tenho limites para uma renovação. Da mesma forma que eu preciso de vender um atleta num preço justo, eu preciso fazer um contrato que o clube consiga cumprir suas obrigações.
Não vou pagar aquilo que o clube não consiga cumprir suas obrigações e que esteja fora de um padrão do mercado. O futebol está muito difícil. Não posso pagar hoje para uma renovação de um menino que está transitando do Sub-20 para o profissional mais de R$ 50 mil. Não posso renovar um contrato de um atleta que ainda não tem um lastro no profissional por mais de R$ 100 mil. Eu estouro o orçamento. Então o América não vai fazer loucura.
Eu posso fazer. Pego um papel, escrevo lá luvas de R$ 1 milhão, salário de R$ 250 mil e está renovado o contrato. Quem vai pagar essa conta? Um dia o meu ciclo pode terminar, não é no América, em qualquer clube. Eu quero deixar um legado pro clube. Posso renovar qualquer contrato, mas como foi renovado? Por que valor foi renovado? O que esse atleta entregou? Quantos anos ele tem de clube? Quantos minutos ele tem no profissional? Tudo isso é estudado para uma renovação contratual.
NA: Depois da eliminação precoce na Copa do Brasil, teve uma mudança no planejamento financeiro? Como vocês contavam com esse dinheiro?
FC: O gestor, o conselho e a presidência, tem que estar atento as dificuldades da temporada. Se eu fosse trabalhar com o dinheiro só da Copa do Brasil, provavelmente eu poderia ter feito contratos melhores, contratado jogadores, feito investimento maior. Eu tive pé no chão para que se acontecesse o que aconteceu, eu ainda consegui cumprir aquilo que planejei. A gente trabalha com risco.
Eu tinha dentro da Copa do Brasil, essa e mais uma fase ou essa mais duas fases de meta para cumprir dentro do meu orçamento. Não cumpriu. E aí? Vamos ter que dar um passo atrás ou numa aquisição de um atleta ou vou ter que fazer uma negociação como foi a do Mateus Henrique.
O planejamento do Mateus Henrique era mais uma temporada e fazer a venda no final dela. Apareceu dentro da janela uma proposta importante, interessante e de valor que o América falou: “Vamos fazer”. Então teve uma venda de um ativo do clube e entrou um dinheiro. Vamos estudar dentro da temporada e vamos ter que ter alguma tomada de decisão para ‘reduzir’ o prejuízo da Copa do Brasil.
NA: No Mineiro, o América alugou o Independência para alguns times (Betim jogou lá, Itabirito também). E durante a Série B, o Athletic vai mandar alguns jogos lá também. Como foi esse negócio e quanto o América lucra com esse empréstimo?
FC: O Independência é um estádio que a gente pode, além dos jogos, fazer show ou algum evento. O estádio faz parte de um orçamento do clube. Então a gente precisa de arrecadar. A conta não fecha. Se você for olhar a bilheteria dos últimos jogos do América, a conta não fecha. E se a gente não fizer isso, nós vamos ter prejuízo. Se eu não me engano, o que a gente arrecada de bilheteria não paga o jogo do clube. É uma conta negativa entre R$ 60 e 80 mil todo jogo. Se eu não alugar para esses clubes, como é que eu fecho a conta? Como é que eu tenho a manutenção do Independência? Como é que eu tenho a manutenção do CT?
Se a nossa receita de bilheteria não aumentar, esses vão ser os caminhos que vai ter para o orçamento mensal e anual do clube.

NA: Tem uma estimativa desse lucro?
FC: Tem. Isso aí é interno, até por contrato com o Atlético, com os outros clubes, a gente não pode falar, mas tem sim uma estimativa anual, uma meta anual de quanto precisa para fechar o valor que o Independência e nossos jogos tem de custo. Então a gente precisa de pelo menos igualar. E com esses eventos vai igualar. Ano passado, por exemplo, o Atlético Cruzeiro jogaram na Independência. Arrecadou dentro daquilo que a receita precisava de igualar os custos do Independência. O contrato do Atlético e Cruzeiro é diferente do Itabirito. Então, depende da competição, do clube.
NA: Um objetivo muito claro do clube é vender a SAF ainda este ano. Como está a procura por um investidor? Tem alguma novidade em relação a isso?
FC: Esse processo inicial de captação de perfil da SAF, eu não participo. Então, eu não entendo sobre isso. Teve um investidor que, em certo momento, trouxe os seus scouts, por exemplo. E aí vieram entender como o departamento de futebol funcionava, como é o modelo de contratação, qual é o planejamento de médio a longo prazo, como é que estão os contratos, que perfil de atleta, como é que funciona a transição de atletas.
Esse aspecto mais técnico eu estou mais envolvido. Ainda está num embrião de modelo de proposta, valores. Se o Independência ou se o CT, se algum imobiliário do clube vai entrar na negociação, isso aí eu não participo. Mas esse ano não, esse ano ainda está num processo de avaliação.
NA: Mesmo que o objetivo do América seja subir à Série A, a diretoria já pensa num plano B caso isso não aconteça? Como administrar uma possível permanência?
FC: É uma pergunta complexa. Nós vamos para a sexta rodada. Eu não vou pensar em Série B ano que vem, não. Não vou prometer acesso. O que eu posso deixar para a torcida americana é que quem está lá está fazendo de tudo para esse objetivo. A gente tem que entender que o futebol é analisado muito pelo resultado do jogo. E a gente às vezes esquece o lado de lá. Do lado de lá tem profissionais capacitados que também tem que entregar o resultado para os seus torcedores.
Futebol brasileiro está ficando cada dia mais difícil. Tirando a Série A, que tem clubes que por ser SAF ou por ter um uma receita de mais de R$ 1 bilhão, estão numa realidade diferente dos demais, mas o restante está no mesmo patamar. Vai ter que ser por competência, trabalho, um pouquinho de sorte. Trabalho e dedicação não vai faltar e vamos trabalhar só com a Série A nesse momento. Com a Série B vamos deixar ela só para 2026.
NA: Para finalizar, queria que mandasse um recado para a torcida.
FC: Parabenizar o mês do América, então um parabéns a nação americana. Esse ano de 2025 está diferente. O engajamento entre torcedor e atleta, está lindo e que permaneça assim. Do primeiro ao último minuto, a nação americana tem nos apoiado no estádio.
Em alguns momentos de dificuldade, a gente sabe que o nervo está a flor da pele, mas eles estão do nosso lado. Eles cantam o hino, cantam as músicas, o que nos incentiva, o que nos fortalece. O americano verdadeiro está do nosso lado, manda mensagem de apoio, sabe que aqui tem tem profissionais capacitados e que brigam pelo clube.
Não vai faltar empenho, trabalho e que todos aqueles que vivem o clube estão dispostos a entregar o acesso para a Série A. Que seja mais um ano de vida e de muitas conquistas, de várias revelações, seja do nosso treinador, dos nossos atletas. O América não tenho dúvida que vai estar sempre no hall principal do futebol brasileiro. Um abraço a todos da nação americana.