
O América registrou déficit de R$ 58 milhões em 2024, ano em que voltou a disputar a Série B do Campeonato Brasileiro depois de três temporadas consecutivas na Série A (2021 a 2023). O No Ataque reuniu os principais números do balanço financeiro da instituição.
O Coelho tinha a expectativa de brigar pelo acesso à elite, porém perdeu força principalmente no returno da competição e terminou em oitavo lugar, com 58 pontos. Santos (68), Sport (67), Mirassol (66) e Ceará (64) subiram de divisão.
A permanência na Série B impactou de forma negativa nas finanças do clube, que atrasou a folha de pagamento de abril de 2025 com vencimento no quinto dia útil de maio.
Receitas do América
Ao detalhar o faturamento de 2024, o América informou dois valores no balanço, que, somados, equivalem a mais de R$ 95 milhões. O primeiro, de R$ 49 milhões, corresponde à receita operacional líquida (veja os números abaixo).
- Transmissão e de imagem e desempenho – R$ 11,7 milhões
- Patrocínios, publicidade, luva e marketing – R$ 15 milhões
- Negociações de atletas – R$ 645 mil
- Bilheteria – R$ 1,81 milhão
- Atividades sociais – R$ 1,12 milhão
- Comerciais e aluguéis – R$ 20,1 milhões
O segundo, de R$ 46,7 milhões, entrou como “outras receitas operacionais”. A explicação do América é que o “reconhecimento dos ganhos ou perdas decorrentes de alienações do ativo intangível oriundo de transações com cessão de direitos profissionais sobre atletas devem ser classificados como outras receitas e despesas operacionais“.
Essas mudanças foram ajustadas nas demonstrações do exercício de 2023, quando o clube divulgou uma receita geral de R$ 187 milhões. Os valores “separados” passaram a constar no balanço de 2024 como R$ 126 milhões de “receita operacional líquida” e R$ 57 milhões de “outras receitas operacionais”.
Despesas do América
No tópico 21 do documento, o América apresentou os custos e despesas gerais, que totalizaram mais de R$ 152 milhões. Dessa quantia, R$ 71,5 milhões corresponderam a salários, imagem e encargos do futebol profissional.
Incluindo o 13º salário, o custo mensal do América com o elenco em 2024 foi de R$ 5,5 milhões. O número não é tão distante de 2023, ano em que o Coelho jogou a Série A. Na temporada retrasada, a despesa foi de R$ 92 milhões (R$ 7 milhões por mês).
- Futebol (salários, imagem e encargos) – R$ 71,5 milhões
- Despesas desportivas – R$ 31,4 milhões
- Salários, encargos e benefícios (demais funcionários) – R$ 12,6 milhões
- Impostos, taxas e contribuições – R$ 7 milhões
- Serviços prestados a terceiros – R$ 4,1 milhões
- Depreciações e amortizações – R$ 5,4 milhões
- Transporte e viagens – R$ 16 mil
- Demais despesas gerais e administrativas – R$ 12,1 milhões
- Outras despesas operacionais – R$ 8,4 milhões
Títulos a receber
O América contabilizou mais de R$ 71 milhões em “títulos a receber” nos próximos anos. São R$ 9,2 milhões em negociações de atletas (Mastriani, Emmanuel Martínez e David Martins), R$ 13,9 milhões do Governo de Minas Gerais pela cesssão do Estádio Independência à preparação para a Copa do Mundo de 2014, R$ 1,2 milhão da MRV Engenharia, R$ 17,4 milhões em cotas de patrocínio e R$ 29 milhões da Liga Forte União.
Dívida do América
O déficit de R$ 58 milhões do América em 2024 fez a dívida subir de patamar. Confira abaixo alguns números que compõem os passivos circulante e não circulante.
Passivo circulante (prazo de pagamento em até 1 ano)
- Fornecedores: R$ 9.496.491
- Obrigações trabalhistas: R$ 18.581.357
- Empréstimos e financiamentos: 15.252.865
- Obrigações tributárias: R$ 23.142.386
- Títulos a pagar: R$ 5.436.272
- Saldo devedor nos bancos: 1.572.635
Total: R$ 73.482.006
Passivo não circulante (prazo de pagamento superior a 1 ano)
- Empréstimos e financiamentos: R$ 14.191.270
- Empréstimos pessoas ligadas: R$ 2.396.616
- Provisão para riscos: R$ 4.775.308
- Projetos e convênios a executar: R$ 1.573.213
- Obrigações tributárias: R$ 46.767.828
- Fornecedores: R$ 515.891
Total: 70.220.126
A soma desses valores corresponde a R$ 143 milhões. Como o América encerrou 2024 com R$ 129 mil em caixa, R$ 1,1 milhão em adiantamentos e R$ 121 mil em despesas antecipadas, a dívida líquida seria de R$ 142 milhões.
Possíveis soluções
Diante da piora na situação financeira, o América elencou algumas soluções para minimizar o quadro deficitário e ter melhor liquidez em suas contas. Além de renegociar dívidas, o clube pretende cortar gastos não essenciais e elevar as receitas com seu patrimônio – por exemplo, cedendo o Independência para shows e eventos.
- Negociação com credores para reescalonamento de dívidas, com alongamento de prazos e redução de encargos financeiros. Isso permitirá uma maior folga no fluxo de caixa mensal;
- Ações de captação de novos patrocinadores e parceiros comerciais, bem como a renegociação de contratos existentes visando melhores condições econômicas;
- Formação e valorização de atletas, visando futuras transferências que gerem receitas significativas e pontuais para o caixa do clube;
- Previsão e controle rigoroso das despesas administrativas e operacionais, com a implementação de metas de eficiência e corte de gastos não essenciais;
- Utilização mais eficiente de seu patrimônio, com possibilidade de locação ou parcerias estratégicas na Arena Independência com o intuito de exploração do equipamento para shows e eventos;
- Ampliação do número de sócios-torcedores, com foco na fidelização e em planos mais atrativos que incentivem a adesão e a permanência dos associados.