Ferroviária e Ferroviário começam a decidir nesta quarta-feira (13/9) o título da Série D do Campeonato Brasileiro. A bola rola a partir das 20h na Arena Fonte Luminosa, em Araraquara, no interior de São Paulo. O segundo duelo será no sábado (16/9), às 16h, no estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, no Ceará. Conforme dão a entender os nomes, os quase xarás foram fundados por colaboradores de antigas empresas que operavam ferrovias.
Ferroviário
O Ferroviário Atlético Clube surgiu em 9 de maio de 1933 no lazer de trabalhadores da Rede de Viação Cearense (RVC), que fazia a gestão das duas primeiras linhas férreas do estado do Ceará – Estrada de Ferro de Baturité e Estrada de Ferro de Sobral. Os operários responsáveis pela manutenção das locomotivas aproveitavam o intervalo entre o fim do expediente normal, às 16h25, e o início das horas extras noturnas, às 18h, para praticar futebol, conforme relata o site oficial do clube nordestino.
Com uma grande quantidade de tarefas e serviços para executar, o corpo diretivo da RVC determinou a realização de horas extras noturnas, das 18h às 20h, nas citadas oficinas do Urubu, visando assim recuperar mais locomotivas, carros e vagões. Encerrando-se o expediente normal às 16h25, decidiram os operários mais jovens, sobretudo aqueles que moravam longe, aproveitarem o “intervalo forçado” para divertirem-se, passarem o tempo e jogarem o foot-ball, como chamavam. Cotizaram o dinheiro para a compra de uma bola e, armados de pás e enxadas, limparam um terreno vazio dentro das oficinas, tirando matos, arrancando tocos e nivelando-o. Para completar a construção do campo, confeccionaram traves a partir de tubos retirados de caldeiras de velhas locomotivas.
Trecho do site do Ferroviário
Quem acompanhava tudo atento era o chefe do setor de manutenção da RVC, Valdemar Cabral Caracas. Apaixonado por futebol, ele levou a sério a ideia de fundar um clube de futebol para participar de torneios. Assim, em 1934, o Ferroviário já participava da Liga Suburbana, da qual se sagrou campeão em 1937. Com o sucesso desportivo, recebeu, em 1938, convite da Associação Desportiva Cearense (ADC) para jogar a primeira divisão local. Posteriormente, fez frente às duas principais agremiações esportivas do estado, Fortaleza e Ceará.
Nascido em 9 de novembro de 1907, Valdemar Caracas ultrapassou um século de vida e morreu em 14 de novembro de 2013, aos 105 anos. A longevidade proporcionou ao fundador ver o Ferroviário ganhar o estadual em nove edições (1945, 1950, 1952, 1968, 1970, 1979, 1988, 1994 e 1995), além de ser vice-campeão 20 vezes. Ele ainda acompanhou o surgimento de nomes conhecidos no país, como Mirandinha, primeiro brasileiro a jogar no Campeonato Inglês (Newcastle); Mário Jardel, ídolo de Grêmio, Porto e Sporting; e Mota, campeão da Tríplice Coroa pelo Cruzeiro em 2003.
Terceira força do Ceará, o Ferroviário participou seis vezes da Série A do Campeonato Brasileiro, sete da Série B, 17 da Série D e três da Série D – da qual foi campeão em 2018. Na Copa do Brasil, alcançou a quarta fase em 2018, sendo eliminado pelo Atlético.
Ferroviária
A Associação Ferroviária de Esportes iniciou suas atividades em 12 de abril de 1950 por um grupo de funcionários da antiga empresa Estrada de Ferro Araraquara (EFA). Segundo o site oficial do clube, “na reunião articulada por Antônio Tavares Pereira Lima, ficou definido que o time teria as cores grená e branco e escudo semelhante ao da EFA, mas com as letras invertidas”.
No segundo ano de fundação, em 1951, a Ferrinha disputou a primeira competição oficial, a Série A2 do Campeonato Paulista. O acesso para a elite veio em 1955, quando o clube ergueu o troféu no torneio com 24 clubes e ainda teve o artilheiro, João Carlos Cardoso, com 28 gols.
Em 1959, a Ferroviária fez a sua melhor campanha na primeira divisão do Paulista, um terceiro lugar, com 23 vitórias, sete empates e oito derrotas. O torneio tinha formato similar ao Brasileirão: 20 clubes se enfrentando em turno e returno, totalizando 38 rodadas. Santos e Palmeiras terminaram em igualdade na liderança, e o campeão foi decidido após três jogos de desempate, com o Peixe levando a melhor.
De 1966 a 1996, a Ferroviária esteve na elite do futebol de São Paulo, além de jogar o Brasileirão uma vez e a Série B em três ocasiões. Após um período de crise, o clube de Araraquara se transformou em Sociedade Anônima em 2003, oscilando entre três escalões do estadual e conquistando dois troféus da Copa Paulista (2016 e 2018).
No fim de 2019, o empresário Saul Klein, herdeiro de Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, comprou a maior parte das ações da Ferroviária por R$ 10 milhões. Ele se afastou do comando da agremiação em março de 2022 em meio à condenação na Justiça por exploração sexual de jovens mulheres e adolescentes.
Em novembro de 2022, Giuliano Bertolucci – empresário de jogadores da Seleção Brasileira como Bruno Guimarães (volante do Newcastle), Marquinhos (zagueiro do PSG) e Gabriel Magalhães (zagueiro do Arsenal) – adquiriu 92% das ações da Ferroviária que pertenciam a Saul Klein. O time foi mal no Campeonato Paulista e acabou rebaixado à Série A2, mas se recuperou na Série D e subiu à Terceira Divisão Nacional, garantindo assim um calendário cheio na temporada 2024.
Campanhas
Único clube invicto nas quatro divisões do Campeonato Brasileiro, o Ferroviário liderou o Grupo B da Série D, com 36 pontos – 13 à frente do segundo lugar, Atlético-CE. Nos mata-matas, passou por Princesa-AM (2ª fase), Nacional-PB (oitavas de final), Maranhão (quartas de final) e Caxias (semifinal). O destaque do Tubarão é o experiente Ciel, de 41 anos. Ele marcou 11 gols em 12 jogos na competição e chegou a 22 em 38 partidas na temporada.
A Ferroviária, por sua vez, avançou em quarto no Grupo G, com 20 pontos. Posteriormente, eliminou Hercílio Luz-SC, Anápolis-GO, Sousa-PB e Athletic-MG. O artilheiro do time na Quarta Divisão é Pilar, ex-América, com seis gols. Curiosamente, ele divide a liderança do ranking da temporada com John Kennedy, que disputou o Paulista em Araraquara e retornou ao Fluminense para o Brasileiro.