FUTEBOL NACIONAL

Conheça o jogador autista que ajudou clube a se classificar para a Série D

Lateral-esquerdo Caio Pedro, de 21 anos, se destacou pelo Horizonte no Campeonato Cearense; time disputará a Série D do Brasileiro em 2025
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Um jogador de futebol com Transtorno do Especto Autista (TEA) teve papel importante para a classificação de seu clube à Série D do Campeonato Brasileiro de 2025. O lateral-esquerdo Caio Pedro, de 21 anos, foi titular do Horizonte em grande parte do Campeonato Cearense e contribuiu com dois gols e uma assistência em 10 partidas.

O Horizonte se garantiu na Série D ao terminar o playoff do rebaixamento em primeiro lugar, com 12 pontos em seis rodadas. Caio marcou um gol de cabeça na vitória sobre o Atlético-CE por 2 a 1 e um de pé esquerdo no empate por 1 a 1 com o Caucaia.

Já a assistência do lateral ocorreu ainda na fase de grupos da competição, na derrota por 4 a 2 para o Floresta, fora de casa. Caio fez a ultrapassagem em direção à linha de fundo e deu um carrinho na bola para o atacante Eric anotar o segundo gol da equipe no estádio Presidente Vargas.

O jovem já havia sido fundamental para a campanha do Horizonte rumo à elite do futebol cearense. Em 2023, Caio Pedro participou de 13 partidas na segunda divisão estadual e contabilizou dois gols, ajudando o clube a conquistar o título do torneio.

Os times do Ceará com vagas na Série D de 2025 são Iguatu, Maracanã e Horizonte – os dois primeiros também vão competir em 2024 ao lado do Atlético-CE. Atualmente, o estado tem o Fortaleza na Série A, o Ceará na B, e Floresta e Ferroviário na C.

Autismo de Caio Pedro

Caio Pedro foi diagnosticado com autismo aos quatro anos de idade. Além do TEA, ele tem surdez parcial nos dois ouvidos – grau leve no direito e moderado no esquerdo –, o que dificultou a comunicação na infância. Graças às terapias especializadas e à prática esportiva como inclusão, o garoto se desenvolveu a ponto de transformar o futebol em atividade profissional.

Em fevereiro, Caio foi tema de reportagem do jornal Diário do Nordeste, do Ceará. Ao lado da mãe, Tatiana Barros, de 38 anos, o jogador falou da trajetória no futebol e de quando quase desistiu da carreira devido à falta de espaço. Após conquistar uma oportunidade, agarrou de vez para colocar o Horizonte na elite estadual e no cenário nacional.

“Fui para o Sub-17 do Horizonte e não gostei muito. Saí, depois fui para o Sub-20, joguei a Copa Seromo (torneio de base). Em 2022, eu não queria jogar. Estava desanimado. Eu queria jogar sempre, mas queria desistir também. Em 2023, o Adriano foi à minha casa, o Vitão, o Júnior e o Zé Hamilton conversaram comigo e estou aí de novo. Agora estou feliz demais”.

“Eu sempre gostava de jogar de titular. Ninguém gosta de ficar na reserva. Acabou que deu certo. Vi uma portinha aberta. Fiquei esses jogos todinhos, fiz gol, ganhei título. Joguei a final… Minhas pernas pesaram, que não dava nem vontade de jogar mais. (Pensei) Como é que eu vou correr agora? Aí fiquei na minha mente. Joguei até o final e deu certo”.

Caio Pedro, lateral-esquerdo do Horizonte-CE

Apoio da mãe

Tatiana, que trabalha como serviços gerais na Prefeitura de Horizonte – cidade de 68 mil habitantes no Ceará – contou ao Diário do Nordeste como lidou com o autismo do filho.

“Por não entender as coisas direito por causa da audição, chamavam ele de doido. Muitas vezes ele não ficava na creche porque as crianças faziam bullying. Aí minha mãe disse: ‘procure mais conhecimento, vá a um especialista’. E fui. Acabou detectado também a perda auditiva de grau leve no lado direito e moderado no esquerdo, a dificuldade de falar e o déficit de aprendizado. Aí procurei e tinha na escola onde ele estudava”.

A mãe de Caio Pedro deixou uma mensagem que serve de inspiração para outras famílias. “Se seu filho pega uma bola e diz que quer ser jogador, corra atrás. Corra! É difícil. A gente chora, sofre, passa por bons bocados, mas no futuro a gente vê a recompensa”.

Jogador de seleção com TEA

Um jogador de renome internacional recebeu diagnóstico de autismo já na fase adulta. Trata-se de James McClean, meia da Seleção da Irlanda que atua no futebol inglês desde a temporada 2011/2012. Ele tornou público o TEA em março de 2023 ao postar foto com a filha, Willow Ivy, que também está no espectro.

“Quanto mais Erin e eu aprendemos sobre autismo, mais começamos a reconhecer que eu era muito semelhante a Willow em mais maneiras do que pensávamos. Vejo tantos pequenos traços nela que vejo em mim, então decidi fazer uma avaliação de TEA”, escreveu McClean no Instagram.

“Tem sido uma jornada e agora, tendo um diagnóstico, sinto que é hora de compartilhá-lo, pela semana que está nele. Eu debati por um tempo em compartilhar isso publicamente, pois fiz isso por Willow-Ivy, para que ela saiba que eu entendo e que ser autista não vai e nunca deve impedi-la de alcançar seus objetivos e sonhos. Garota do papai”.

James McClean

Aos 34 anos, McClean soma 105 partidas e 11 gols pela Seleção da Irlanda. Na Inglaterra, defendeu Sunderland, West Bromwich Stoke City e Wigan Athletic, totalizando 158 jogos na Premier League e 222 na EFL Championship. Atualmente, o meia está no Wrexham, clube de País de Gales que disputa a League Two (quarta divisão do futebol inglês).

O que é o Transtorno do Espectro Autista?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) está relacionado ao desenvolvimento atípico da comunicação, do comportamento e da interação social. Pessoas que se encaixam na condição geralmente demandam acompanhamento multidisciplinar que envolve as áreas de psiquiatria, psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional.

De acordo com especialistas, quanto mais cedo o diagnóstico de TEA, melhor será a resposta do paciente às intervenções que possibilitarão grandes resultados em vários aspectos da vida (profissional, educacional, pessoal, etc.).

Nos Estados Unidos, o percentual de crianças autistas é de 2,8%, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), vinculado ao governo. No Brasil não há números detalhados a respeito do tema.

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