FUTEBOL MINEIRO

Integrantes de clube mineiro são punidos por manipulação na Série D

STJD concluiu que três jogadores, dois membros da comissão técnica e dois investidores participaram de esquema na Série D

Sete integrantes do clube mineiro Patrocinense foram punidos pelo STJD devido a um esquema de manipulação na Série D do Campeonato Brasileiro de 2024. Três jogadores, dois membros da comissão técnica e dois investidores foram condenados.

A manipulação se deu no duelo entre Patrocinense e Inter de Limeira, em 1º de junho de 2024, pela 7ª rodada do grupo A7 da Série D. O duelo, no interior de São Paulo, terminou com a vitória dos donos da casa por 3 a 0. 

Conforme o relator Gustavo Favero Vaughn, há “prova confortável” de manipulação da partida. A decisão do STJD se baseia nos elementos apresentados: denúncia e inquéritos policial e da Justiça Desportiva. Com base no art. 70.1 do Código Disciplinar da FIFA, as punições têm validade internacional.

Punições do STJD a integrantes do Patrocinense

O dirigente Anderson Ibrahin Rocha (que é acusado de “calote” ao Patrocinense) e o investidor Conceição terão de pagar multa de R$ 50 mil e R$ 25 mil, respectivamente. A investigação apontou para a dupla como responsável por agenciar os atletas no esquema.

A Quarta Comissão Disciplinar do STJD do Futebol ainda puniu três jogadores que representaram o Patrocinense no confronto. O zagueiro Richard Bala, que marcou gol contra suspeito contra a Inter de Limeira, foi suspenso por 720 dias e terá de pagar multa de R$ 25 mil.

Já o goleiro Felipe Gama foi punido com multa de R$ 20 mil e suspensão por 549 dias. E o lateral Dener, que, segundo o STJD, não participou do esquema, mas tinha conhecimento e não relatou ao clube ou federação, recebeu multa de R$ 2,5 mil.

Também por não denunciarem a manipulação, o técnico Estevam Soares e o auxiliar Rodolfo Dodô foram terão que pagar multa de R$ 20 mil e R$ 10 mil, respectivamente.

Richard Bala, ex-atleta do Patrocinense 

Richard Bala foi protagonista de gol contra sofrido pelo Patrocinense. Foi o terceiro tento da partida, nos acréscimos do primeiro tempo, em um lance considerado anormal e suspeito. O zagueiro, sozinho na área, arrematou a bola contra sua própria meta. Em depoimento, o jogador negou os fatos, porém três envolvidos apontaram com convicção sua participação na manipulação do jogo, além da conclusão da Polícia Federal de unir os principais pontos que atestam a participação de Richard.

O atleta possuía contas em várias plataformas de apostas e há registros de conversas em que ele solicitava apostas em jogos do seu próprio time. Na partida em questão, Richard revelou a sua companheira que apostaria na derrota do Patrocinense por mais de 2,5 gols.

Felipe Gama, ex-atleta do Patrocinense

No minuto 27 da partida, o goleiro do Patrocinense não conseguiu afastar uma bola perdida, permitindo que o adversário ganhasse a bola e marcasse de curta distância abrindo o placar da partida. Em depoimento, os atletas, que também jogavam no clube mineiro, afirmaram que o goleiro gritou que a bola era dele e o próprio deixou o atleta adversário marcar o gol.

Em conversas de WhatsApp encontradas no celular do dirigente Anderson Ibrahin Rocha, foram extraídos elementos indicando a participação de Felipe na manipulação da partida em questão e também em jogos anteriores.

Dener, ex-atleta do Patrocinense

Escalado como lateral, o camisa 2 do Patrocinense foi apontado pela empresa responsável pela investigação como “pessoa de interesse”, por não ter acompanhado adequadamente o avanço do jogador adversário na segunda trave que resultou no segundo gol do jogo. No vídeo da partida é possível apontar a falha técnica do lateral que possibilitou a marcação do gol sem maiores problemas.

Em conversas no celular, Dener confirmou que o jogo havia sido entregue. Em depoimento o jogador afirmou que desconfiou que o goleiro Felipe e o lateral esquerdo Richard Bala podem ter recebido alguma vantagem ou promessa de vantagem.

Embora não haja prova da participação ativa de Dener no esquema de manipulação, o atleta tinha plena ciência do comportamento de outros envolvidos na partida e permaneceu omisso ao não relatar o ocorrido ao seu clube.

Estevam Soares, ex-treinador do Patrocinense

O treinador do Patrocinense na época teve o celular apreendido pela Polícia Federal, que encontrou mensagens entre o dirigente Anderson e Edivaldo Ramalho Da Silva afirmando que um esquema seguro de manipulação precisaria da participação do treinador.

Após ser demitido do Patrocinense, Estevam passou a cobrar de Anderson o valor de R$ 5 mil e demonstrou insatisfação com o repasse de responsabilidades entre Anderson, Iuri de Jesus e Conceição (suposto investidor que estava aportando capital no esquema). Em outra conversa Estevam envia áudio aparentando estar convicto da manipulação de resultados e afirma que o Patrocinense é uma máfia. As investigações indicam que o treinador detinha conhecimento do esquema, tendo contribuído diretamente através da escalação dos jogadores indicados por Anderson, como Rodolfo e Richard Bala.

Rodolfo “Dodô”, auxiliar técnico do Patrocinense

Apesar do nome do auxiliar não estar presente na lista inicial de suspeitos, no decorrer das investigações, as oitivas e material coletado do celular do dirigente Anderson Ibahin confirmaram a participação de Dodô no esquema de manipulação no jogo em debate e em partidas anteriores.

Os diálogos entre Dodô e Anderson são esclarecedores sobre o modus operandi. Em conversa com Anderson, fica clara a função do auxiliar no esquema criminoso, como responsável por fazer reuniões com jogadores cooptados e dar o sinal do que é para ser feito pelos jogadores dentro de campo.

Em depoimento, a PF recebeu a informação de que Dodô ameaçou o zagueiro Guilherme Neto para que contribuísse para a manipulação de resultado na partida contra o Inter de Limeira, informação confirmada em conversas obtidas entre o auxiliar e Anderson.

Anderson Ibrain Rocha, ex-dirigente do Patrocinense e sócio da empresa Air Golden

Apontado no relatório da Polícia Federal como figura-chave por ser responsável pelo agenciamento de atletas operadores do esquema criminoso. A empresa de Anderson é suspeita de cooptar jogadores para atuar no esquema de manipulação de partidas, gerando lucro ilícito para os investidores ligados à sociedade e, consequentemente, para os demais envolvidos.

As suspeitas tiveram início após contrato de gestão firmado entre o Patrocinense e a Air Golden, onde Anderson passou a exercer o cargo de dirigente e gestor do clube, responsável por contratar jogadores e treinador.

Marcos Vinicius da Conceição, investidor para aportes financeiros nas apostas esportivas

Diversos atletas apontaram a participação de Marcos Vinicius da Conceição do Nascimento, de codinome Conceição, no esquema de manipulação da partida citada. Conceição pagou os salários de todo o elenco do clube uma semana antes da partida investigada, além de presentear Richard Bala com um celular e mais R$ 5 mil após a partida com o Inter de Limeira.

Documentos dão conta de que Conceição também estava por trás da empresa Air Golden e atuava junto com Anderson no esquema de manipulação.

Patrocinense corre risco de ‘fechar as portas’ após ‘calote’

O Patrocinense acusa a empresa Air Golden de não cumprir o investimento de R$ 600 mil que manteria os salários em dia e viabilizaria a contratação de reforços para a Série D do Campeonato Brasileiro de 2024. O clube do interior de Minas Gerais terminou a fase de grupos com apenas cinco pontos em 14 rodadas (uma vitória, dois empates e 11 derrotas). Agora, em 2025, corre o risco de “fechar as portas”, segundo disse o atual presidente, Roberto Avatar, à reportagem de No Ataque.

Conforme Avatar, o Patrocinense lida com 13 processos trabalhistas e busca um parcelamento das dívidas contraídas na época passada anterior para conseguir operar em 2025. Nesta temporada, o time de Patrocínio integrará o Módulo 2 do Campeonato Mineiro – foi rebaixado na elite do ano anterior depois de abrir mão da repescagem em meio a problemas econômicos.

Roberto relatou ao No Ataque que o sócio da Air Golden, Anderson Ibrahin Rocha, disse “que não iria pagar, pois não tinha nada com o clube”. A declaração teria sido dada logo após a derrota do Patrocinense para a Inter de Limeira, que culminou nas condenações por manipulação – inclusive, a do próprio dirigente da Air Golden.

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