CAMPEONATO BRASILEIRO

Ex-jogador do Atlético, goleiro ‘muito doido’ vira ‘Rei dos Pênaltis’ na Série D

Goleiro revelado pelo Galo em 2007 sonha em entrar no Guinness, o livro dos recordes, após série de defesas de pênaltis em jogos mata-mata
Foto do autor
Compartilhe

A Série D do Campeonato Brasileiro de 2024 está prestes a coroar seu campeão, e o nome de um ex-goleiro do Atlético desponta como um dos principais destaques da competição: Darley Torres, agora também conhecido como “Rei dos Pênaltis”, jogador do Retrô, time de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco.

Natural de Pedro Leopoldo, na Grande BH, em Minas Gerais, Darley, de 34 anos, defendeu oito pênaltis em quatro disputas consecutivas no mata-mata da Série D. O feito fez com que companheiros de equipe, inclusive, sugerissem a inclusão do goleiro no Guinness World Records.

Agora, o goleiro e o Retrô estão na final contra o Anápolis, com o acesso à Série C de 2025 já garantido, mas de olho no título.

O primeiro jogo da final da Série D será neste domingo (22/9), a partir de 16h, no Estádio Jonas Duarte, em Anápolis, Goiás. Já a segunda partida vai ser disputada no domingo seguinte (29/9), às 17h, na Arena Pernambuco.

Rei dos Pênaltis

As atuações de Darley nas disputas por pênaltis não apenas garantiram o Retrô na Série C, como também lhe renderam o apelido de “Rei dos Pênaltis”. E não é para menos. O goleiro defendeu três pênaltis contra o América-RN na segunda fase da Série D, um contra o Manauara nas oitavas de final, dois diante do Brasiliense nas quartas – no jogo que sacramentou o acesso -, e mais dois nas semifinais contra a Itabaiana.

“Tem gente que até brinca: ‘Você tem que entrar no Guinness! Tem que procurar se já teve no mundo um goleiro que defendeu pênaltis em quatro jogos seguidos de mata-mata’. Sou muito grato a Deus por me capacitar porque não é uma coisa fácil, não”, comentou Darley, em entrevista exclusiva ao No Ataque.

Ao contrário do que acreditam alguns torcedores, Darley não vê a disputa de pênaltis como uma “loteria”. A preparação detalhada é essencial, e o goleiro do Retrô conta com o auxílio dos treinadores e dos analistas do clube pernambucano para estudar os rivais. Entretanto, na hora das disputas, ele acredita que a intuição também é uma ferramenta valiosa.

“Claro que a gente estuda bastante. Tem os analistas e o nosso treinador de goleiros, o Júnior Matos, que me passa algumas dicas. Mas cada goleiro tem seu jeito de se preparar. Procuro ficar muito focado no momento presente e esquecer totalmente o externo. Muitas vezes estudamos os batedores e eles mudam a forma de cobrar o pênalti no dia da disputa, batendo em outro canto. Meu treinador de goleiros sempre me fala para eu acreditar no feeling do momento”, ponderou.

Darley ainda revelou seu segredo para defender tantos pênaltis. “É fazer aquela leitura do movimento do jogador e tentar explodir o máximo possível, isso tem ajudado. Em algumas cobranças eu esperei ao máximo para tentar ver o movimento do batedor. Mas sempre peço a Deus tranquilidade para o momento”, completou.

Goleiro ‘muito doido’

Além do aspecto técnico, Darley revela que tenta desestabilizar os batedores de formas inusitadas. Antes das cobranças, o goleiro costuma andar de um lado para outro e falar consigo mesmo, em voz alta, para distrair os adversários.

“A gente percebe que o batedor está meio nervoso, não é fácil, é uma adrenalina ali. Tento entrar um pouco na mente do batedor. Os caras falam que sou muito doido. Fico andando e falando comigo mesmo em voz alta até para o batedor escutar: ‘Darley você vai pegar, Deus é contigo’. Se pegar minhas reações antes e depois dos pênaltis, vou aos meus companheiros passar uma energia positiva. Isso tudo vale no momento dos pênaltis”, ressaltou.

Darley também é chamado de “Paredão” pelos fãs em Pernambuco (Reprodução/YouTube/TV Retrô Oficial)

Influências e ídolos

A trajetória de Darley no futebol começou muito cedo. A primeira referência foi seu pai que, embora não tenha sido profissional, chegou a jogar nas categorias de base do Cruzeiro. Além da influência paterna, ele cresceu assistindo grandes goleiros, e alguns dos nomes mais icônicos o inspiraram a seguir a carreira sob as traves.

Ao No Ataque, o “Rei dos Pênaltis” relembrou momentos marcantes, como a Copa do Mundo de 1994, e citou outros grandes goleiros que admira. “O Taffarel na Copa, eu era pequeno, mas lembro do que aconteceu. Dida, Marcos e Buffon também eram goleiros que gostava de assistir. Também admiro o Victor e o Diego Alves, quando eu subi da base, inclusive, era ele o goleiro do Atlético. Gosto de ver esses goleiros e pegar um pouco de cada um, como a liderança do Rogério Ceni. Pego a qualidade de cada um e tento levar para meus treinamentos”, explicou.

Da base do Atlético à carreira internacional

Darley começou sua trajetória no Atlético aos 13 anos, nas categorias de base, em 2003. Ele rapidamente se destacou e, aos 17, já fazia parte do elenco profissional do Galo. Ao longo de sua formação, teve a oportunidade de conviver com grandes nomes, como Diego Alves e Juninho. Quase seguiu para o Japão com o técnico Levir Culpi, mas o destino o levou para a Europa, onde defendeu o Feyenoord, da Holanda.

“Fomos campeões mineiros em 2007 e ele [Levir] saiu para o Cerezo Osaka do Japão. Com uma semana lá ele mandou convite para mim. Fui olhar a possibilidade de ir, mas não consegui porque ainda não tinha 18 anos. Até tentaram arranjar emprego para meu pai ir também, mas eu não podia porque não conseguiria o visto de trabalho. Acabei indo no final daquele ano para a Holanda, no Feyenoord”, contou.

Depois do Feyenoord, Darley voltou ao Brasil e vestiu a camisa dos seguintes clubes: Naútico, Criciúma, Tombense, América, Boa Esporte, Botafogo-SP, CSA e Mirassol. Pelo Tombense, ele conquistou – há exatos 10 anos – o título da Série D. E no Mirassol, em 2022, levantou a taça da Série C.

Defesas de Darley no mata-mata da Série D

  • Retrô 0 (7) x (6) 0 América-RN – Três pênaltis defendidos – Segunda fase
  • Manauara 2 (1) x (4) 0 Retrô – Um pênalti defendido – Oitavas de final
  • Brasiliense 1 (2) x (3) 1 Retrô – Dois pênaltis defendidos – Quartas de final
  • Itabaiana 0 (3) x (4) 1 Retrô – Dois pênaltis defendidos – Semifinal

Compartilhe