FUTEBOL NACIONAL

Fã de Gandhi, Senna e Bernardinho: quem é o técnico do Nova Iguaçu, finalista do Carioca

Treinador do Nova Iguaçu, Carlos Vitor levou a equipe à final do Campeonato Carioca e está há décadas no clube; conheça ele
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Por trás de uma das grandes sensações do futebol brasileiro neste início de temporada, há um comandante cujas inspirações vão de Mahatma Gandhi a Ayrton Senna, passando por times históricos do Flamengo e da Seleção Brasileira. Técnico do Nova Iguaçu, Carlos Vitor é um dos principais responsáveis pela grande campanha da equipe, que superou o Vasco nesse domingo (17/3) e chegou à final do Campeonato Carioca pela primeira vez na história.

Sob o comando dele, a equipe superou gigantes na primeira fase do estadual: ficou em segundo lugar, desbancando Vasco, Fluminense e Botafogo, com impressionantes 72,7% de aproveitamento. Foram sete vitórias, três empates e apenas uma derrota, para o tricolor carioca, em 11 partidas disputadas.

Nas semifinais, contra o Vasco, o Nova Iguaçu se impôs e saiu invicto – mesmo jogando fora de casa nos dois embates, diante de milhares de vascaínos no Maracanã. No primeiro jogo, empate por 1 a 1. No segundo, vitória por 1 a 0 e classificação para a final, que será disputada contra o Flamengo. É a primeira vez em 18 anos que a decisão do Carioca terá apenas um dos quatro gigantes do estado.

Para além dos resultados impressionantes – que vão além do estadual: na primeira fase da Copa do Brasil, o Nova Iguaçu goleou o Itabuna por 8 a 0 -, o time carioca contagia pelo estilo de jogo ofensivo e envolvente, com características marcantes jogo brasileiro. Mente por trás da ‘Laranja Mecânica da Baixada Fluminense’ – apelido dado ao time inspirado na Seleção da Holanda, que tem a mesma cor predominante que o clube carioca -, Carlos Vitor está há 32 anos no clube e treina o time profissional desde 2021. Conheça a história dele.

Mais de três décadas no clube

Carlos Vitor passou mais da metade da vida no Nova Iguaçu. Dos 52 anos de vida dele, 32 foram dedicados ao time carioca.

Ele chegou no Laranja da Baixada em 1992, aos 20 anos, depois de impressionar Vitor Lima, então diretor atual vice-presidente do clube, em pelada. Lá, conquistou a Série B do Carioca em 1994.

A carreira de Carlos como jogador, contudo, não foi longeva: aposentou-se em 1999, com apenas 25 anos. Depois de pendurar as chuteiras, ele se dedicou a trabalhar no futebol fora das quatro linhas, e atuou em vários cargos no Nova Iguaçu. Desde então, foi treinador de todas as categorias de base do clube – desde o Sub-12 -, tornou-se auxiliar técnico permanente do time profissional e chegou a comandar a equipe principal em alguns períodos curtos, até assumir de vez como técnico efetivo em 2021.

Inspirações no futebol

Carlos Vitor tem dois times como inspiração no futebol: o Flamengo de 1981, que, com Zico no auge, venceu Libertadores e Mundial de Clubes, e a Seleção Brasileira de 1982, treinada por Telê Santana, que encantou o mundo e ficou marcada como um dos melhores times da história, mesmo sem ter conseguido vencer a Copa do Mundo daquele ano – foi eliminada para a Itália, de forma surpreendente, na segunda fase de grupos.

Muito do estilo de jogo do treinador tem as duas equipes históricas como base. Carlos prioriza as aproximações entre os atletas, trocas de passe rápidas, posse de bola e liberdade aos jogadores de ataque, para que possam interagir entre si, buscar o drible e movimentos mais ousados em campo. Mas, em compensação, o técnico não abre mão que o time todo se aplique defensivamente.

Gandhi, Senna e Bernardinho: as inspirações de Carlos fora do futebol

Fora do futebol, Carlos Vitor é leitor voraz e tem lista seleta de inspirações: Mahatma Gandhi, ativista indiano que foi liderança da resistência anti-colonial não violenta no país e inspira lutas pela paz em todo o mundo, Ayrton Senna, lendário piloto de Fórmula 1 brasileiro, e Bernardinho, treinador mais vitorioso da história do vôlei e atual técnico da Seleção Brasileira masculina.

As leituras do treinador o inspiraram a se preocupar com o time para além das quatro linhas. A saúde mental dos atletas é fator preponderante para ele, que se dedica a recuperar jogadores em baixa – parte do time do Nova Iguaçu é composta por jogadores ainda jovens, que não vingaram em grandes clubes brasileiros, como o atacante Carlinhos, ex-Corinthians, artilheiro do Carioca 2024 com oito gols, o meia Yago, ex-Fluminense, e o atacante Bill, ex-Flamengo.

“Sempre fui uma pessoa de ler muito. Li Mahatma Gandhi, Ayrton Senna, Bernardinho… Daí você vai tendo conotações que, com as ideias que você tem, propiciam que você seja fidedigno com essas questões (que valorizam a saúde mental). Se você não tiver com a mente boa, não vai conseguir produzir e performar. É importante ser equilibrado independente do que está passando. É difícil? Muito. Mas esse é o grande segredo.”

Carlos Vitor, técnico do Nova Iguaçu, ao jornal o Globo

Comparações com Fernando Diniz e Guardiola

O grande desempenho do Nova Iguaçu em 2024 tem rendido comparações em tom de brincadeira que colocam Carlos Vitor ao lado de Fernando Diniz, técnico do Fluminense, atual campeão da Libertadores, e Pep Guardiola, treinador do Manchester City, atual campeão da Champions League e da Premier League.

“CalDiniz” e “CalDiola” são as alcunhas usadas dentro do clube para se referir a Carlos. Os apelidos foram inventados por Andrezinho, coordenador técnico do Nova Iguaçu e ex-jogador de Internaciona, Flamengo e Vasco, que os reveliou em entrevisra ao podcast Ubuntu Esporte Clube, do ge.globo.

Próxima missão do Nova Iguaçu: superar Flamengo e vencer título inédito

A Laranja Mecânica da Baixada Fluminense – apelido dado ao time inspirado na Seleção da Holanda, que tem a mesma cor predominante que o clube carioca – é a única equipe que conseguiu marcar contra o Flamengo na temporada. Dono do elenco mais estrelado do Brasil, o time de Tite sofreu apenas um gol em jogos oficiais no ano – para o Nova Iguaçu de Carlos Vitor, em jogo que terminou empatado em 1 a 1, pela segunda rodada do estadual.

As duas equipes voltarão a se enfrentar pela final do Campeonato Carioca, que será disputada em dois sábados: 30/3 e 6/4. Se para o Flamengo o confronto vale “só mais um” título estadual – já são 37 na galeria -, para o Nova Iguaçu vale título inédito, que seria o mais importante da história do clube.

O resultado da final, ainda que seja o “lógico” – vitória do Flamengo – não diminui em nada a campanha histórica do Nova Iguaçu. O time da Baixada Fluminense nunca havia chegado na decisão do estadual. Carlos Vitor, portanto, já deixou importante legado na história do clube.

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