Os áudios de conversas que serviram de base para a condenação do ex-atacante Robinho por estupro foram divulgados pelo Uol, nesta quarta-feira (14/6). Os diálogos foram obtidos por grampos telefônicos feitos pelo Ministério Público da Itália, órgão responsável pela investigação do caso envolvendo o ex-jogador brasileiro e outros cinco amigos.
Abaixo, leia a transcrição dos áudios das conversa entre Robinho e outros envolvidos no caso de estupro de uma mulher albanesa, em 2013, em Milão.
Risos e indiferença de Robinho
“Por isso que eu estou rindo, eu não estou nem aí. A mina estava extremamente embriagada, não sabe nem quem que eu sou”, disse Robinho em conversa com Ricardo Falco, outro condenado pelo estupro em Milão.
Em outro momento, Robinho diz que viu os amigos fazendo sexo com a mulher.
“Os moleques que estão f… Olha como Deus é bom. Eu nem toquei na menina. Agora eu vi o Rudney ‘rangando’ ela, e os outros caras ‘rangando’ ela. Então, os caras que ‘rangaram’ ela vão se f…”, disse
“Se ela for acusar, ela vai acusar o Claytinho (Clayton Florêncio dos Santos) que tocou nela. De resto, ninguém tocou nela”, complementou.
Participação no estupro
Já em um dos trechos das conversas grampeadas, Robinho admitiu que participou do estupro coletivo: “Vamos chutar errado. ‘Ah, deu alguma coisa, descobriram que o Ricardo participou, que o Neguinho [apelido de Robinho entre os amigos envolvidos no caso] com… a mina.’ ‘É, eu com…, pô! Porque ela quis. Aonde eu forcei a mina?”, disse.
“Eu com… a mina. Ela fez ‘chupeta’ pra mim e depois eu saí fora. Os caras continuaram lá”, complementou.
“Caralho, se esse bagulho sair na imprensa, vai me fo…”, comentou o ex-atacante, em outro trecho da gravação.
Soco na cara da vítima
“A mina sabe que tu não fez p… nenhuma com ela. Ela é idiota? A gente vai dar um soco na cara dela. Tu vai dar um murro na cara, vai falar: ‘P…, o quê que eu fiz contigo?'”, disse Robinho em outro trecho da conversa com Falco.
Entenda o caso
O caso ocorreu em 2013, em Milão, época em que Robinho defendia o Milan. Segundo a sentença, o ex-atacante e mais cinco amigos estupraram uma mulher albanesa em uma boate que tocava música brasileira na capital italiana.
Apenas Robinho e Ricardo Falco acabaram condenados. Os outros três homens deixaram a Itália durante as investigações e não foram processados. A pena é de nove anos de prisão, em última instância, proferida em janeiro de 2022.
Apesar da condenação, Robinho permanece livre, já que está no Brasil. A extradição dele foi solicitada, mas a negativa aconteceu pelo Ministério da Justiça do Brasil baseada no artigo 5 da Constituição Federal, que proíbe a extradição de cidadãos brasileiros.
Dessa forma, a Justiça da Itália solicitou o cumprimento da pena no Brasil. O Ministério Público Federal (MPF) afirmou não existir qualquer restrição no cumprimento da sentença no país para um crime pelo qual foi condenado na Itália.
No entanto, a possibilidade de um brasileiro cumprir pena dada por outro país é controversa e opõe juristas.
Em março deste ano, O Superior Tribunal de Justiça (STJ) aceitou como “amicus curiae” na ação que julga se Robinho deve ou não ser preso. O pedido foi feito pela Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim).
Assim, um ‘amigo da corte’ pode participar do processo, apresentar documentos e argumentar oralmente no julgamento.
Segundo o STJ, a Anacrim foi aceita para garantir a “paridade de armas” na ação. Antes, a participação da União Brasileira de Mulheres, uma entidade a favor da prisão de Robinho, também foi aceita no caso.
O STJ não julgará se Robinho é culpado ou inocente. De acordo com o Regimento do STJ, nos processos de Homologação de Decisão Estrangeira, os ministros não devem se debruçar sobre o mérito do processo original, mas somente verificar se a sentença estrangeira cumpre os requisitos legais para ser válida no Brasil. São esses requisitos que serão analisados no julgamento, ainda sem data marcada.
Apesar de defender a liberdade de Robinho, a Anacrim não faz parte da defesa dele. O ex-jogador contratou um escritório de advocacia de Brasília, que também tentará convencer o tribunal que a sentença italiana não é válida no Brasil. Por outro lado, o Ministério Público já deu parecer favorável à continuidade do processo. E a União Brasileira de Mulheres também defenderá a prisão do ex-jogador.
Com informações da Folhapress