Duas vezes campeão mineiro – 1937 e 1964 -, o Siderúrgica de Sabará prepara sua volta ao futebol profissional. O clube fundado em 1930 se afastou duas vezes da principal competição do estado: a primeira, em 1966, e a segunda, em 1997.
No entanto, graças ao investimento de Maycon Amaro Romão, de 36 anos, filho do ex-zagueiro Alfeu, a agremiação está próxima de renascer. O Siderúrgica já disputa competições de base da Federação Mineira de Futebol (FMF), nas categorias sub-14, sub-15 e sub-20.
Maycon recorreu a patrocinadores para quitar uma dívida de R$ 68 mil com a FMF. Resta ainda uma dívida trabalhista, cujo montante ainda não está totalmente definido.
O fim da dívida
Professor de educação física e funcionário público em Contagem, Maycon é o caçula dos 26 filhos de Alfeu. Ele jogou futebol amador e é presidente do Santa Helena, clube de Contagem, que é a base do projeto elaborado por ele.
Ele se aproximou do time sabarense em 2003. “É o time do coração, onde meu pai jogou. Procurei o Siderúrgica, com o propósito de ver o time disputando, novamente, o futebol profissional. Fiz uma proposta, que foi aceita”.
No entanto, não foi como Maycon sonhava. O Siderúrgica tinha uma dívida com a FMF e também pendências trabalhistas, que precisavam ser sanadas para que o time pudesse voltar a jogar.
Maycon resolveu assumir a dívida de R$ 68 mil com a FMF. Fez um acordo com o clube e iniciou um trabalho em conjunto com patrocinadores.
“Conversei com uma empresa de peças de mineração, revestimentos em borracha, a Reveste Bor. Na época, o patrocínio foi através do Santa Helena, o time de Contagem. Consegui também uma imobiliária, a Cri-Cri. E assim consegui pagar a dívida com a federação. O Siderúrgica poderia disputar os campeonatos oficiais novamente”.
Maycon Amaro Romão
A base
A base do Siderúrgica é o Santa Helena, time de futebol amador de Contagem. Assim, os treinos acontecem em Contagem, mas os jogos são sempre no estádio da Praia do Ó, em Sabará. “É o Siderúrgica de volta”, frisou Maycon.
De acordo com o professor de educação física, a manutenção da equipe se dá por meio de apoiadores. Ele conseguiu parceiros para bancar o uniforme, bolas, viagens, hospedagens, lanches, almoço e jantar.
O projeto se baseia num acordo com a distribuidora de materiais de construção Tambasa, que visa ao desenvolvimento da criança no futebol. “Assim, utilizamos as categorias de base do amador, do Santa Helena, o primeiro passo para viabilizar o projeto”.
É também desse apoio, segundo Maycon, que o clube consegue pagar seus cinco funcionários.
Com a estrutura de trabalho em Contagem e os jogos em Sabará, os resultados começaram a aparecer. O time sub-20, por exemplo, foi campeão da Copa Telê Santana, promovida pela TV Alterosa. “E este ano, estamos novamente na decisão de uma competição. Estamos na disputa das semifinais da Copa Capital, disputada em Belo Horizonte”, comentou o responsável pelo projeto.
Os resultados trouxeram também o apoio da Prefeitura de Sabará. “Antes, para jogar na Praia do Ó, a gente tinha de contratar seguranças, ambulância. Com o apoio da prefeitura, eles passaram a bancar isso. Hoje, por exemplo, quem cuida da parte da segurança dos nossos jogos é a Polícia Militar. Tudo custeado pela prefeitura”, ressaltou Maycon.
Prazos
Apesar de estar tudo caminhando positivamente, o Siderúrgica corre contra o tempo. É que o time tem um prazo, até 2026, para voltar a disputar uma competição oficial da FMF. Se não acontecer, o clube poderá ser extinto.
“Vamos disputar o Campeonato Mineiro Sub-20, neste ano de 2025. É o primeiro passo para termos uma equipe para a disputa do Mineiro da Terceira Divisão, a “Terceirona”, em 2026. É caso, dispendioso, mas tenho certeza que com a ajuda de nossos patrocinadores, dos apoiadores e da prefeitura de Sabará, conseguiremos chegar lá e o povo sabarense terá de novo o orgulho de torcer para o Siderúrgica”, destacou Maycon.
Ele citou um detalhe que considera fundamental: o resgate da tradição do clube e da cidade. “É muito importante que se preserve essa memória. O Siderúrgica tem dois títulos mineiros. Perde, apenas, no estado, para Atlético, Cruzeiro, América e Villa Nova. É um clube de grande importância para a nossa história”.
Abandono
A principal razão do abandono do Siderúrgica do futebol profissional, em 1966, dois anos depois da conquista de seu segundo título, foi o endividamento pelos gastos para a campanha de 1964. O clue perdeu o apoio financeiro da Belgo-Mineira em 1967.
Datas históricas
- 31/5/1930 – Fundação do Esporte Clube Siderúrgica, por iniciativa dos funcionários da Usina Siderúrgica Belgo-Mineira. Felício Roberto foi o primeiro presidente.
- 17/8/1930 – Primeiro jogo disputado no Estádio da Praia do Ó, construído em terreno doado pelo Recreio Club Siderúrgica, que reunia os funcionários da Belgo-Mineira. O adversário foi o Alves Nogueira Football Club, também de Sabará, que venceu por 5 a 4.
- 1931 – O Siderúrgica se filia à Liga Mineira de Desportos Terrestres – não existiam, ainda, o futebol profissional e a FMF. Portanto, era um time amador.
- 1931 – Na disputa de seu primeiro torneio oficial, conquistou o título da 2ª Divisão de Amadores.
- 1933 – Fez seu primeiro jogo como time profissional, vencendo o Palestra Itália, atual Cruzeiro, por 2 a 1.
- 1937 – Conquistou, pela primeira vez, o título de campeão mineiro, ao derrotar o tetracampeão Villa Nova. O Siderúrgica venceu o primeiro jogo por 3 a 1. Perdeu o segundo por 3 a 0. Ganhou o título na prorrogação, 1 a 0. O time era formado por Tonho, Rômulo Januzzi, Ferreira, Chico Preto, Mascote, Paulo Florêncio, Moraes, Geraldo Rebelo, Chiquinho, Arlindo e Princesa. Técnicos: Tonheca e Capitão.
- 1942 – O meio-campista Paulo Florêncio se torna o primeiro jogador do clube convocado para a Seleção Brasileira.
- 1943 – O Siderúrgica ganhou seu mascote, uma tartaruga, desenho feito pelo cartunista Fernando Pieruccetti, o Mangabeira, do Estado de Minas.
- 1954 – O Siderúrgica ganha o Troféu Louis Ensch, em homenagem ao patrono do clube, ex-presidente da Belgo-Mineira. Os jogos aconteceram em Sabará e Belo Horizonte.
- 1964 – Sagrou-se campeão mineiro pela segudna vez, na última edição antes da “Era Mineirão”. Venceu o América, no Estádio Otacílio Negrão de Lima, chamado de Alameda, por 3 a 1. O time era formado por Djair, Geraldinho, Chiquito, Ze Luiz e Dawson Laviolla; Edson e Paulista; Ernani, Silvestre, Noventa (Aldeir) e Tião Cavadinha. Técnico: Yustrich.
- 1967 – O Siderúrgica perde o apoio da Belgo-Mineira e deixa o futebol profissional. Pediu licença na FMF, sendo rebaixado pela entidade, e extinguiu seu departamento de futebol.
- 1993 – Voltou a disputar uma competição oficial, a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro. Deixou a competição no ano seguinte.
- 1997 – Retornou à ao futebol profissional disputando a Terceira Divisão do Mineiro, mas, sem sucesso, tornou a abandonar a disputa.
- 2011 – Participou da Segunda Divisão, mas é eliminado.
- 2015 – Competiu na Segunda Divisão, dessa vez jogando em Itabira.
- 2016 – Disputou novamente a Segundona do Mineiro.