FUTEBOL FEMININO

Cruzeiro: Byanca Brasil fala sobre representatividade em comemoração contra Atlético

Camisa 10 celeste revelou ao No Ataque os bastidores da comemoração em homenagem à causa LGBTQIA+
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O cronômetro batia os 22 minutos do segundo tempo. O clássico decisivo entre Cruzeiro e Atlético, pela grande final do Campeonato Mineiro feminino, no Independência, em 19 de novembro de 2023, estava empatado em 0 a 0 e ganhava contornos tensos para os dois lados, até que a bola caiu no pé da melhor jogadora da competição. Camisa 10 da Raposa, a atacante Byanca Brasil recebeu na cara do gol e fez o que melhor sabe fazer: balançou as redes, pela 12ª vez no torneio. Na comemoração, a atleta protagonizou momento icônico. Foi até o canto do gramado e levantou com orgulho a bandeirinha de escanteio, que estava com as cores do movimento LGBTQIA+.

O gol garantiu o título do Estadual ao time celeste, que já batia na trave em decisões contra o rival alvinegro há três anos, mas também deu a Byanca a chance de realizar ação cuja importância vai muito além das quatro linhas. Quando a camisa 10 do Cruzeiro levanta a bandeira colorida, expressa o orgulho de pertencer a um grupo que tanto sofre com preconceito e marginalização na sociedade e no esporte – um claro ato de resistência.

Durante coletiva de imprensa na Toca da Raposa II nessa quarta-feira (7/2), a jogadora respondeu ao No Ataque sobre a representatividade do ato, explicou a importância da luta pelos direitos LGBTQIA+ na vida dela e revelou os bastidores da emblemática comemoração.

Representatividade e inspiração

Não foi só na comemoração que Byanca fez questão de homenagear a causa, e sim desde antes do início da partida. A atacante entrou em campo na final com tranças especiais, nas cores da bandeira LGBTQIA+.

A ação inspirou Isabel, torcedora mirim do Cruzeiro, a fazer o mesmo. Fã da camisa 10 do Cruzeiro, a garota de oito anos replicou o penteado colorido para entrar em campo com o cabelo igual ao da craque celeste. ‘Bel’, como é carinhosamente chamada por Byanca, mora São Paulo e foi a Belo Horizonte só para assistir a final do Mineiro feminino.

“Eu estava entrando em campo com o cabelo bem colorido, já com essa ideia de representatividade. Vejo isso (a luta pelos direitos LGBTQIA+) com muita importância. A Bel, torcedora pela qual tenho um carinho muito grande, meu amuleto da sorte, já sabia que eu ia fazer uma trança e perguntou o que eu iria fazer no cabelo, porque ela iria fazer igual. Uma menina, que também sonha em ser jogadora de futebol, perguntou o que eu ia fazer no cabelo e fez igual. Isso entra no meu objetivo de querer marcar meu nome na história do Cruzeiro e do futebol feminino com a representatividade”

Byanca Brasil, atacante do Cruzeiro
Byanca Brasil e Isabel, antes do início da final do Campeonato Mineiro de 2023 - (foto: Staff images Woman/Cruzeiro)
Byanca Brasil e Isabel, antes do início da final do Campeonato Mineiro de 2023(foto: Staff images Woman/Cruzeiro)

Bastidores da comemoração

Byanca revelou que a ideia de levantar a bandeirinha de escanteio foi da diretora de futebol do Cruzeiro feminino, Kin Saito.

“Antes de entrar em campo, a Kin falou sobre eu levantar a bandeira. Eu ainda falei que iria tomar cartão amarelo, e ela falou que estava liberado. Além do meu cabelo e da entrada com a Bel, levantar a bandeira deixou mais explícito o quanto a gente quer representatividade dentro dos clubes“, contou.

Em entrevista à Revista Marta após a partida, Byanca deixou claro que a comemoração foi um símbolo contra todos os preconceitos presentes na sociedade: “levantei a bandeira em homenagem não só à pauta LBGTQIA+, mas também contra o racismo, qualquer tipo de criminalidade que a gente vai contra. O Cruzeiro nos apoia nisso e a gente se sente livre pra fazer o que a gente bem entende. Minha esposa tava aqui no estádio, estou feliz demais de representar e também de ser uma representatividade no meio do futebol e fora dele.”

‘Livre para ser quem eu sou’

Em resposta ao No Ataque, a camisa 10 celeste também destacou a importância da liberdade de expressão que o Cruzeiro possibilita às atletas do time feminino.

“Acho que até se a Kin não tivesse dado a ideia de levantar a bandeira eu teria a liberdade de fazer isso. Aqui no Cruzeiro, eu me sinto muito livre para ser quem eu sou e com certeza vou sempre buscar representar bem (a luta LGBTQIA+)”, disse.

Byanca Brasil pelo Cruzeiro

A atacante de 28 anos chegou ao time celeste em janeiro de 2023, vinda do Palmeiras, com a missão de ser a principal referência ofensiva da Raposa. E, desde então, ela tem cumprido bem o papel que lhe foi confiado.

O encaixe de Byanca com o Cruzeiro foi imediato. A camisa 10 foi a artilheira e principal jogadora da equipe celeste no ano passado, comandando duas grandes campanhas do time.

  • No Campeonato Brasileiro, marcou 11 gols e distribuiu quatro assistências em 16 partidas, liderando a campanha de classificação inédita para as quartas de final da competição. Foi a primeira vez que um time mineiro chegou na fase eliminatória da Série A1 feminina.
  • No Mineiro, marcou 12 gols em oito jogos e comandou a campanha que rendeu ao Cruzeiro o bicampeonato da competição. O time celeste havia ficado quatro anos sem vencer o torneio – a primeira e única vez que a Raposa saiu com o título foi em 2019.

Byanca Brasil tem, no total, 23 gols e quatro assistências em 24 jogos pelas Cabulosas. Em 2024, a atacante espera manter a boa forma para que o Cruzeiro possa sonhar com vôos mais altos e, quem sabe, avançar mais ainda na Série A1 do Campeonato Brasileiro.

Competições que o Cruzeiro feminino disputará em 2024

  • Supercopa do Brasil: 11 a 18 de fevereiro
  • Campeonato Brasileiro A-1: 17 de março a 22 de setembro
  • Campeonato Mineiro: a definir (mas, provavelmente, começará no fim de setembro ou em outubro e terminará em novembro)

Primeiro compromisso do Cruzeiro feminino em 2024

O time celeste se prepara para enfrentar o Real Brasília neste sábado (10/2), no Estádio Bezerrão, na capital do Brasil, pelas quartas de final da Supercopa do Brasil.

O confronto abre a temporada 2024 para o Cruzeiro. Se avançar, as semifinais serão no dia 14 de fevereiro (quarta-feira) e a final será no dia 18 de fevereiro (domingo).

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