
Um dos maiores ídolos do Cruzeiro, Joãozinho viveu expectativa por representar a Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo. Em 1978, ele foi preterido pelo técnico Cláudio Coutinho. Posteriormente, ouviu de Telê Santana, comandante em 1982, que teria vaga garantida como ponta. Porém, uma grave lesão tirou o craque da Raposa de cena.
“Eu achava que seria convocado. O Coutinho já tinha me convocado. Eu fiz parte das Eliminatórias em 1977. Pensei, não tem jeito: nem que seja na reserva, eu vou. Aí ele me convocou como 26º e não me levou. Fiquei decepcionado. Ele levou o Dirceu e o Zé Sérgio”, iniciou Joãozinho, em entrevista ao Cruzeiro Cast.
“Eu tinha um bom relacionamento com o Telê, que me convidava para ir à casa dele. Ele chegou para mim e falou: ‘João, você pode ficar tranquilo, pois você é o meu ponta em 1982. Quero que você se dedique, porque eu tenho plena confiança em você’. Infelizmente, em 1981, eu fraturei a perna”.
Joãozinho, ex-jogador do Cruzeiro

‘Até hoje sinto dor’
O dia 25 de janeiro de 1981 foi a fatídica data em que Joãozinho passou pelo pior momento no futebol. O Cruzeiro enfrentava o Sampaio Corrêa, no Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro.
Aos 8 minutos, o Bailarino, como era chamado o ponta-esquerda devido à sua habilidade para driblar os adversários, recebeu passe de Eduardo. Ao dominar a bola, levou um carrinho do zagueiro Darci Munique e quebrou a perna. A fratura exposta o tirou de campo por vários meses. Ao retornar, não conseguiu recuperar a desenvoltura para correr e chutar.
“Minha contusão foi muito grave. Ainda não tinha a evolução da medicina. Foi uma fratura exposta, muito feia. Fiquei um ano e pouco parado, foi duro. Até hoje sinto (dor no) meu tornozelo. Naquela época, fiquei nove meses engessado. O gesso fez com que meu tornozelo não tivesse mais um movimento legal. Isso atrapalhava. Eu ia treinar chute a gol, doía meu tornozelo. Foi a pior coisa que aconteceu comigo dentro do futebol”, disse Joãozinho.
“Vi que não tinha mais condições de correr. Ainda insisti parar ver se conseguia, mas doía muito. Depois disso, vários times quiseram me contratar, mas eu agradecia”.
Joãozinho

Ano ‘perdido’ em 1982
Joãozinho chegou a retornar aos gramados em outubro de 1981, inclusive fazendo gols nas vitórias sobre Uberaba (3 a 1) e Caldense (3 a 0), pelo Campeonato Mineiro. No entanto, o atleta lidou com complicações e praticamente perdeu a temporada de 1982, em que se transferiu para o Internacional.
Na Copa do Mundo, a Seleção Brasileira não teve nenhum jogador do Cruzeiro. Já o Atlético foi representado por três integrantes – o ponta Éder Aleixo, o zagueiro Luizinho e o volante Toninho Cerezo.
Telê Santana optou por uma formação próxima ao 4-4-2, que valorizava a posse de bola e a troca de posições. O time-base brasileiro teve Waldir Peres; Leandro, Oscar, Luizinho e Junior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho e Éder Aleixo.
O Brasil ganhou as quatro primeiras partidas da Copa: União Soviética (2 a 1), Escócia (4 a 1), Nova Zelândia (4 a 0) e Argentina (3 a 1). No quinto jogo, levou três gols de Paolo Rossi e perdeu por 3 a 2 para a Itália, que viria a ser campeã mundial.
Carreira de Joãozinho
Nascido em 15 de fevereiro de 1954, João Soares de Almeida Filho, o Joãozinho, é autor do gol mais emblemático da história do Cruzeiro. Na final da Copa Libertadores de 1976, contra o River Plate, da Argentina, o ponta-esquerda marcou o terceiro tento da vitória por 3 a 2, no Estádio Nacional de Santiago, no Chile. Ele cobrou falta por cima da barreira e correu para o abraço.
Joãozinho tomou uma decisão de muito risco, já que o batedor do Cruzeiro era o lateral-direito Nelinho, um dos grandes especialistas na bola parada no futebol brasileiro dos anos de 1970 e 1980. A ousadia do Bailarino rendeu puxões de orelha do técnico Zezé Moreira, mesmo com o time tendo conquistado o título continental.

Uma curiosidade sobre Joãozinho é que ele só virou jogador por insistência do pai, que o buscava em uma oficina mecânica e o levava aos treinos no Cruzeiro.
“Eu não ligava muito para futebol. Desde bem novo, já direcionei minha vida em ser mecânico. Muitas vezes, meu pai me pegava na oficina para me levar para o treino. Insistiu comigo até que na segunda vez que cheguei, assinei contrato de gaveta”.
Joãozinho
Pelo Cruzeiro, Joãozinho disputou 485 jogos, fez 119 gols e foi eleito pela Revista Placar o melhor de sua posição no Campeonato Brasileiro de 1979 – dois anos antes de quebrar a perna.
Ele também passou por Internacional, Palmeiras, Athletico-PR e Coritiba – pelo qual se aposentou em 1987, aos 33 anos, por causa dos efeitos da grave lesão que sofreu.
Em 2024, o No Ataque entrevistou o ex-jogador, que se mudou para os Estados Unidos no início dos anos 2000 e trabalha em uma pizzaria de Framingham, a 33 quilômetros de Boston, no estado de Massachusetts.
