O torcedor do Cruzeiro foi a Buenos Aires disposto a festejar e se divertir antes mesmo do jogo com clima de decisão contra o Boca Juniors, na Bombonera, pela ida das oitavas de final da Copa Sul-Americana. A ‘invasão’ celeste à capital argentina foi evidente, tanto que a cada bar que se olhava, via-se um brasileiro orgulhoso gritando e exibindo a camisa com as cinco estrelas.
A maior concentração de cruzeirenses se deu em Puerto Madero, uma região mais nobre da cidade. Os torcedores organizaram um encontro entre os redutos – grupos de torcedores que se reúnem para assistir aos jogos – no Kraken Bar horas antes da partida. Mais de 500 pessoas passaram pelo local durante o esquenta para o jogo.
A ideia de reunir centenas de torcedores do Cruzeiro em um bar na Argentina partiu de um mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, a 340 quilômetros de Belo Horizonte, e que mora no país latino desde 2016. À reportagem de No Ataque, Marcelo Borges Pinto detalhou todo o processo para a realização do evento gratuito aos celestes.
“Eu sou o organizador do reduto, que é o Argentinazeiros. É incrível a gente estar organizando isso aqui em Puerto Madero, porque fazia tempo que o Cruzeiro não vinha, desde 2019. Desde 2016 a gente começou esse projeto, por meio de outras influências que a gente tem lá no Brasil”, iniciou.
O estudante de medicina também contou que os cruzeirenses que vivem em Buenos Aires costumam se reunir para assistir a praticamente todos os jogos da Raposa. Os encontros também servem para matar um pouquinho a saudade de casa no Brasil.
“Em todos os jogos, a gente faz um churrasquinho, se encontra num bar. Não em Puerto Madero, infelizmente, porque não a gente não tem essa estrutura toda, mas é sempre num barzinho bem raiz, que a gente faz o possível para ver a maioria dos jogos, reunindo a galera. A galera que está aqui não consegue ir ao estádio, porque a gente mora aqui, a maioria é estudante. E é possível ter pelo menos até um aconchego, tanto do Cruzeiro, tanto de matar um pouquinho a saudade da família, às vezes o parente cruzeirense e tudo mais”, completou.
Caravanas celestes para Buenos Aires
Se já é difícil organizar uma festa gratuita para centenas de cruzeirenses, imagine planejar e executar a viagem dos sonhos de vários torcedores. Apesar da grande responsabilidade exigida, é isso que Leonardo Ferreira, de 46 anos, escolheu para se dedicar. O agente de uma empresa de turismo organizou uma caravana de 100 pessoas para acompanhar o jogo contra o Boca Juniors.
“A Caravana Azul existe desde 2003, desde aquele gol do Alex, aquele de letra lá no Maracanã. É a quinta vez que eu faço aqui em Buenos Aires. Já fiz Cruzeiro x Boca, que o Dedé foi expulso; Cruzeiro x River; Cruzeiro x Huracán, uma chuva terrível; e até Cruzeiro x Racing. E agora voltamos contra o maior time da Argentina, com o maior time do mundo, o Cruzeirão Cabuloso”, contou.
Leozinho, como é conhecido o responsável pelo projeto, explicou como o torcedor fez para viajar com ele na caravana. Os cruzeirenses saíram de BH na segunda-feira (12/8) e chegaram no dia seguinte. Segundo ele, alguns aproveitaram o passeio para acompanhar o duelo entre San Lorenzo e Atlético, no Nuevo Gasómetro.
“A Caravana Azul é uma agência de turismo, a gente sempre olha as melhores opções. Quando o jogo do Cruzeiro foi anunciado, as passagens aéreas de Belo Horizonte estavam muito caras e os valores e os voos não estavam muito bons. Aí a gente cria novas opções, mais em conta, saídas do Rio de Janeiro em aeronaves menores. Mas que são voos pela metade do preço, voos diretos. A gente dá opção das pessoas saírem de São Paulo ou Rio”, detalhou.
“Aqui na nossa caravana tem gente de Fortaleza, de Brasília. A gente olha o melhor custo-benefício para todo mundo. Opções de hotéis, desde hotéis básicos, três estrelas, até hotéis superiores, quatro estrelas, do jeito que a pessoa escolher e do jeito que fica melhor o bolso. Estamos sempre auxiliando a melhor forma para operacionar, para que a pessoa consiga economizar e acompanhar o Cruzeiro”, concluiu.
Cruzeirenses viajaram de carro e de avião
Em contrapartida dos cruzeirenses que preferem encontrar tudo já pronto para viajar, sem preocupações, há aqueles que fazem por conta própria. Esse é o caso de Claudinei Vilela, mineiro de Itaúna. Ele chegou à capital argentina após horas de viagem de carro e avião.
“Saímos de Itaúna na segunda-feira (12/8), às 16h, de carro e fomos para Guarulhos, porque inflacionou demais a passagem de avião. Passagem que era R$ 1.000 subiu para R$ 3.000 por causa do jogo. Aí nós chegamos em Guarulhos, o nosso voo saiu 4h40, super atrasado. Chegamos em Buenos Aires de madrugada, na manhã da terça-feira (13/8), e estamos no centro ali”, relatou.
Companheira de viagem de Claudinei, a engenheira Gabriel Barbosa disse que apesar da hostilidade da polícia local no desembarque do Cruzeiro, a recepção dos argentinos com os brasileiros tem sido boa de modo geral. Nessa quarta-feira (14/8), dezenas de torcedores foram retirados pelos militares da porta do hotel onde a delegação celeste está hospedada.
“A recepção foi mediana, algumas pessoas nos receberam muito bem, excepcionalmente, no dia que o Cruzeiro chegou, a gente foi bem maltratado. A polícia foi bem hostil com quem estava lá para recepcionar o ônibus. Mas, no geral, a gente conseguiu encontrar algumas pessoas bem bacanas aqui que nos receberam bem”, finalizou.