Cinco anos após cair para a Série B do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro disputa a final da Sul-Americana neste sábado (23), contra o Racing, e pode conquistar o primeiro título de projeção após a grave crise que assolou o clube. Neste contexto, veja exemplos de clubes que escaparam de momentos difíceis e voltaram a ser campeões.
A queda para a Segunda Divisão foi apenas uma das faces da crise financeira-administrativa que atingiu o Cruzeiro no fim da última década. O clube esteve sob investigação da Policia Civil devido a transações irregulares e uso de empresas de fachada para ocultar crimes cometidos internamente.
A situação afetou drasticamente o âmbito esportivo da Raposa, que ficou três anos na Série B e conquistou o acesso em 2022, após Ronaldo adquirir a SAF do Cruzeiro e adotar uma política de austeridade administrativa. Desde então, o clube voltou, lentamente ao nível que historicamente representou para o futebol brasileiro. Agora, tem a oportunidade de voltar às conquistas, como outros times que atravessaram complicações similares.
Napoli
Tricampeão italiano e conhecido como time de Maradona na Europa, o Napoli declarou falência no início deste século e chegou a ser expulso da liga da Itália em 2004.
Com a aquisição por parte do produtor de cinema Aurelio de Laurentis, o clube retornou com outro nome e teve que recomeçar na Terceira Divisão Italiana. Na temporada 2007/2008, retornou à elite do futebol do país.
Lentamente, o Napoli voltou a conquistar protagonismo no futebol italiano. Em 2011/2012, se sagrou campeão da Copa da Itália ao bater a arquirrival Juventus na final. Foi a primeira grande conquista do clube desde a crise.
Depois, a equipe conquistou a Copa da Itália outras duas vezes (2013/2014 e 2022/2023) e uma vez o Campeonato Italiano (2022/2023). Nesta temporada, o Napoli lidera o torneio nacional.
Borussia Dortmund
A má gestão financeira deixou o Borussia Dortmund, um dos mais tradicionais clubes da Alemanha, muito perto da falência. Em 2003, o time não tinha dinheiro para pagar a folha salarial e recebeu o empréstimo de 2 milhões de euros (R$12 milhões de reais na cotação atual) do rival Bayern de Munique.
Com o passar dos anos, a situação do Dortmund não melhorou. Em 2005, as ações do clube na Bolsa de Valores de Frankfurt despencaram 80%. A solução para a crise foi cortar salários dos jogadores, vender os naming rights do estádio e lucrar com a venda de atletas.
Na temporada 2006/2007, o clube escapou do rebaixamento por apenas um ponto, uma marca vergonhosa na história de um time que, quase sempre, briga nas primeiras posições do Campeonato Alemão.
Nos anos seguintes, o Dortmund começou a se reorganizar financeiramente e entrou numa crescente. Com a chegada do técnico Jurgen Klopp em 2008, o time passou a chamar a atenção no futebol europeu, com um elenco jovem e promissor.
Na temporada 2010/2011, conquistou o Campeonato Alemão e igualou o número de títulos do arquirrival Schalke 04. No ano seguinte, repetiu o feito e fez uma dobradinha pela primeira vez na história.
Além disso, em 2012-2013 chegou na final da Liga dos Campeões, em que foi derrotado pelo Bayern de Munique. O Dortmund voltou à decisão continental na última temporada (2023/2024), mas perdeu para o Real Madrid.
Racing
Adversário do Cruzeiro na final da Copa Sul-Americana, o Racing chegou a ficar perto de desaparecer. O time de Avellaneda devia 66.500.000 de pesos (R$ 94 milhões na cotação atual) e não tinha dinheiro em caixa para fazer o pagamento. Assim, foi impedido pela Justiça de disputar o Apertura do Campeonato Argentina de 1999.
Os torcedores da Academia, indignados, criaram uma enorme mobilização. Mais de 30 mil torcedores foram ao Cilindro e manifestaram seu amor pelo Racing, com camisas, faixas e bandeiras. Muitos fanáticos invadiram o campo e fizeram uma peregrinação de joelhos.
As imagens da paixão alviceleste correram o mundo. Com grande pressão popular, a Câmera de Apelações permitiu que o time voltasse a jogar, mas ordenou a liquidação dos bens. Um grande movimento de torcedores impediu que houvesse a venda do patrimônio do time.
Para tentar controlar a crise, o Racing passou a ser gerenciado pela empresa Blanquiceleste S/A, que tinha dez anos para equilibrar a dívida do clube. Depois de algum tempo, a empresa, contudo, faliu. Assim, coube ao próprio Racing Club Asociación Civil se responsabilizar pela última parcela que precisava ser paga.
Durante esse processo e em meio a uma grave crise que atingia a Argentina, o Racing montou um elenco modesto e fez 42 pontos, um a mais que o River Plate, conquistando o Apertura de 2001. A festa da torcida foi imensa.
Em 2008, o Racing teve a falência encerrada pela Justiça e foi devolvido aos seus sócios. Desde então, já conquistou o Campeonato Argentino duas vezes (2014 e 2019). Hoje, tem um dos melhores elencos do país.