Já são mais de 25 anos sem títulos internacionais. Mas, neste sábado (23/11), esse jejum amargado pelos torcedores do Cruzeiro pode, enfim, se encerrar – e com troféu inédito: o da Copa Sul-Americana. A Raposa enfrentará o Racing, da Argentina, no estádio Nueva Olla, em Assunção, capital do Paraguai, a partir das 17h, pela grande final da competição continental.
A última vez que o time celeste levantou taça de um torneio que tinha um time de outros país foi em 1999 – naquele ano, a equipe sagrou-se campeã da Recopa Sul-Americana ao derrotar duas vezes o gigante argentino River Plate – tanto no Mineirão (2 a 0) quanto no Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires (3 a 0). A competição era referente a 1998 – o Cruzeiro classificou-se por ter vencido a Libertadores de 1997, também em cima do River.
A Raposa terá pela frente adversário que amarga jejum ainda maior: o último troféu internacional erguido por La Academia foi a Supercopa Libertadores, em junho de 1988, mais de 36 anos atrás, vencido justamente diante do Cruzeiro.
Em fase irregular, com apenas duas vitórias nos últimos 11 jogos, o time treinado por Fernando Diniz terá pela frente adversário complicado, que encontra-se na melhor forma do ano e está invicto há oito partidas. Mas será que, mesmo assim, os cruzeirenses estão otimistas para a final da Sul-Americana? Nas vésperas da decisão, o No Ataque foi às ruas de Belo Horizonte para descobrir.
‘Seremos 12 mil loucos em Assunção’
Vice-presidente da Máfia Azul, principal torcida organizada do Cruzeiro, Messias Cardoso, de 33 anos, diz que confia no título apesar das oscilações recentes da equipe de Fernando Diniz. Para ele, vai ser sofrido: 1 a 0, com gol do atacante Kaio Jorge.
No momento que conversava com a reportagem, na tarde dessa quinta-feira (21/11), Messias se preparava para partir de ônibus rumo a Assunção, em viagem cuja duração estimada é de mais de 30 horas. A expectativa é de chegar ao Paraguai no sábado, horas antes do jogo.
“Somos 12 mil loucos que vamos estar presentes em Assunção, cantando e apoiando o tempo todo. Vamos sair de caravana aqui do Barro Preto (bairro da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde fica a sede da Máfia Azul), serão aproximadamente 50 ônibus, sem contar o pessoal que já foi de avião e de carro”
Messias Cardoso, vice-presidente da Máfia Azul
‘Depois de tanta luta e fase ruim…’
O marceneiro Igor Mendes, de 24 anos, acabava de comprar uma camisa do Cruzeiro para seu filhinho, que acompanhará a final da Sul-Americana trajado com o uniforme estrelado. Diferentemente de Messias, eles mandarão as boas energias para a Raposa à distância, já que acompanharão a decisão em Belo Horizonte.
Igor garantiu que está ‘confiante demais’ pelo título, e afirmou que o time “merece o título, depois de tanta luta e fase ruim”. Ele se refere ao drama passado pelo clube celeste nos últimos anos – em 2019, a equipe foi rebaixada para a Série B do Campeonato Brasileiro, onde permaneceu por três temporadas consecutivas. A Sul-Americana seria o primeiro troféu “de expressão” conquistado pelo Cruzeiro desde a Copa do Brasil de 2018.
De Teresina-PI a Assunção: 4800 percorridos pelo Cruzeiro
A história da operadora de caixa Jéssica Lygia, de 32 anos, é, sem dúvidas, a mais impressionante escutada pela reportagem. Ela saiu de Teresina, capital do Piauí, percorreu 2.593,9 km para chegar ao Rio de Janeiro, depois mais – mais 440,8 km para chegar a Belo Horizonte, onde embarcaria de ônibus para ir até Assunção. No total, serão aproximadamente 4.800 km de estrada só para ver o Cruzeiro in loco.
“É a primeira vez na minha vida que faço uma caravana dessas, nunca tinha feito. Já peguei um tempão de estrada para chegar até aqui, ainda vou pegar mais um tempão. A expectativa é boa, vamos trazer a taça para cá (BH)”
Jessica Lygia, operadora de caixa
Jéssica não é mineira. A paíxão pelo Cruzeiro, portanto, veio após ela conhecer o namorado, que, segundo ela, é “doente” pela Raposa. Ele, que mora no Rio de Janeiro, vai acompanhá-la na viagem até Assunção.
‘Cinco dias na estrada’
Wesley Hudson, de 32 anos, é outro que pegou estrada só para chegar em Belo Horizonte – ele é de Ponte Nova, na Zona da Mata Mineira, aproximadamente 180km distante da capital de Minas.
“Vim do interior só para partir para o Paraguai. Vão ser uns cinco dias na estrada, somando ida e volta. Acredito demais no título, depois de muitos anos podemos voltar a conquistar um grande título”, disse ele, que também apostou no atacante Kaio Jorge como o herói do Cruzeiro na final contra o Racing.
‘Primeira vez fora do país’
O assistente de estoque Maurício da Silva, de 23 anos, foi de Governador Valadares, na Região do Vale do Rio Doce de Minas Gerais. Ele percorreu 320km só para chegar a Belo Horizonte e embarcar na caravana da Máfia Azul rumo ao Paraguai.
Crente no título, Maurício também aposta que o atacante Kaio Jorge será o autor do gol do título da Sul-Americana, e explicou a sensação de poder acompanhar o time in loco fora do Brasil: “Estou muito ansioso, é a primeira vez fora do país. Espero o melhor, se Deus quiser vamos voltar com o título para casa”.
Cruzeiro precisa muito do título
O barbeiro Lucas Tadeu, de 27 anos, é de Itabirito, cidade que fica na Região Central de Belo Horizonte, a 57km da capital. Ele também vai até Assunção de ônibus, com a caravana da Máfia Azul: “Vamos encarar a estrada, o percurso é longo, mas estamos confiantes”.
“Essa já é minha segunda experiência de viagem internacional com o Cruzeiro, mas a expectativa é como se fosse a primeira, sempre que pego a estrada, para ir até mesmo no Mineirão, é único, cada jogo é uma história”, disse Lucas, que espera chegar ao Paraguai na madrugada de sábado.
O barbeiro reforçou que a Raposa “precisa muito do título, porque vinha de anos difíceis, e vai ser importante pro futuro do Cruzeiro”. Para ele, o craque da final será o meia-atacante Matheus Pereira, destaque do Cruzeiro na temporada, mas que passa por fase irregular. Tadeu confia que o jogador vai dar “reviravolta” e mostrar “o tamanho da camisa 10” celeste.
