Não somente o gol perdido por Paulinho. Aliás, muito longe disso. A seguir, o No Ataque lista cinco motivos para mais uma eliminação do Atlético diante do Palmeiras na Copa Libertadores.
Na última quarta-feira (9/8), no Allianz Parque, em São Paulo, Verdão e Galo empataram por 0 a 0. Como havia vencido o jogo de ida por 1 a 0 no Mineirão, em Belo Horizonte, o time paulista assegurou a classificação às quartas de final.
Os fatores apresentados na análise a seguir conversam entre si. São razões, inclusive, com até certa relação de causa e consequência, que ajudam a explicar a dura queda alvinegra nas oitavas de final do torneio continental.
Enfraquecimento do elenco
O Atlético segue dispondo de uma das maiores folhas salariais do futebol brasileiro, mas promoveu significativa queda no nível do elenco nos últimos anos. Dos 32 nomes que compuseram o grupo em 2021, ano mais vitorioso da história do clube, apenas 11 seguem na Cidade do Galo.
As reposições, em sua maioria, são peças que mantiveram o Atlético em bom nível competitivo, mas definitivamente mais distante dos principais concorrentes. Problema no planejamento da diretoria, que focou na redução da folha (de cerca de R$ 18 milhões para aproximadamente R$ 14 milhões mensais) e na aprovação da SAF, deixando a disputa por títulos em segundo plano.
O grupo é desequilibrado. A escassez de opções no ataque chama atenção. O único atleta com características semelhantes às de Pavón (velocidade e drible), por exemplo, é o jovem Alisson Santana, das categorias de base.
A comprovação da piora do elenco também pode ser medida pelos resultados. Se em 2021 o Atlético conquistou o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e foi semifinalista da Libertadores, em 2023 ocupa a 10ª colocação da Série A e caiu nas oitavas de final de ambos os mata-matas.
Momento do Atlético
O primeiro confronto entre Atlético e Palmeiras nas oitavas de final da Libertadores ocorreu justamente durante uma das piores sequências alvinegras nas últimas décadas. Com a derrota no jogo de ida, o Galo chegou a 10 jogos sem vitórias e igualou um jejum que só havia acontecido em 1992.
Os resultados, é claro, interferem na confiança dos atletas. Por mais que o time mineiro tenha vencido o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro antes do duelo de volta, ainda buscava restabelecer uma continuidade nos bons resultados.
Distância em relação ao Palmeiras
Talvez, o principal ponto para explicar a queda alvinegra. O Palmeiras é treinado pelo português Abel Ferreira desde outubro de 2020, ostentando o trabalho mais longevo da elite do futebol nacional.
Somado a isso, a manutenção de uma base de elenco no clube paulista tem sido determinante para temporadas vitoriosas em sequência. Desde a chegada de Abel, o Verdão conquistou duas Libertadores (2020 e 2021), uma Copa do Brasil (2020), dois Campeonatos Paulistas (2022 e 2023), uma Recopa Sul-Americana (2022), um Brasileiro (2022) e uma Supercopa do Brasil (2023).
O Palmeiras dispõe de uma identidade de jogo bem definida, claramente assimilada pelo elenco e muito bem executada dentro das quatro linhas. Um time consistente defensivamente, letal nos contra-ataques e preciso nas bolas paradas.
Por sua vez, o Atlético trocou o comando técnico cinco vezes desde a chegada de Abel Ferreira ao Brasil. Ainda que quatro dessas mudanças tenham partido dos próprios treinadores, o número chama atenção e ajuda a explicar a distância entre os times.
A mais recente dessas trocas representou uma grande ruptura na Cidade do Galo. Se Eduardo Coudet pensava o futebol alvinegro de forma propositiva, com protagonismo na posse de bola e no campo adversário, Felipão quer um Atlético mais precavido, consistente na defesa e mais propenso aos contra-ataques para ameaçar os rivais.
A maioria das trocas de trabalhos durante uma temporada tendem a gerar problemas. Ainda mais quando as filosofias de jogo mudam de forma tão radical, como se viu no clube mineiro. Novo ponto a questionar no trabalho da diretoria.
Luiz Felipe Scolari tratou a eliminação diante do Palmeiras com certa naturalidade e disse ver evolução no Atlético, tomando como base os últimos dois jogos. A reportagem, de toda forma, enxerga a situação de outra maneira.
Problemas defensivos no jogo de ida
Dentro de campo, o Atlético deixou muito a desejar no jogo de ida no Mineirão. Os problemas de compactação entre as linhas geraram diversos ruídos na marcação, e o Galo cedeu espaços preciosos ao Palmeiras jogando como mandante.
No primeiro tempo do duelo, o Verdão teve ao menos três oportunidades de contra-ataques em excelentes condições. O time mineiro contou com algumas falhas nas tomadas de decisão e nos gestos técnicos de jogadores do Palmeiras, tendo sofrido “apenas” o gol de Raphael Veiga em lance de desatenção defensiva.
Ataque inofensivo
A defesa teve até certa evolução, mas cedeu espaços no jogo de volta. Prova disso foram as boas intervenções de Everson, que evitou com que o Atlético fosse para o vestiário no intervalo com um revés parcial no placar.
No segundo tempo, na base do “abafa”, o Galo se lançou ao ataque. De toda forma, o que se viu foi uma grande falta de repertório ofensivo.
Movimentos de desmarque em fase ofensiva, maior aproximação entre os atletas e mais soluções no corredor central são alguns dos pontos que precisam ser melhor trabalhados por Scolari. Ainda que inferior ao de 2021, o elenco do Atlético pode produzir muito mais.
Segundo o SofaScore, plataforma de estatísticas, das sete finalizações tentadas pela equipe no Allianz Parque, cinco foram para fora e duas travadas. O Galo não obrigou o goleiro Weverton a fazer sequer uma única intervenção na classificação palmeirense.
A situação, é claro, não passa somente pelo trabalho de Felipão. Maus momentos individuais são propulsores de um coletivo fraco, que segue devendo futebol.
Em suma, para além do gol perdido por Paulinho na única boa chance do Galo no jogo, há outras razões mais importantes para a eliminação alvinegra na Libertadores. Lições que devem ser absorvidas e profundamente consideradas para uma eventual participação no torneio continental na temporada 2024.