Mesmo com larga vantagem na semifinal da Copa Libertadores, o Atlético pode esperar um ambiente hostil na Argentina. O Monumental de Núñez, tradicionalíssimo estádio do River Plate em Buenos Aires, está quase sempre lotado com 84.567 torcedores. Mas por quê?
O No Ataque visitou o local às vésperas da decisão desta terça-feira (29/10) e ouviu diversos torcedores e funcionários dos “Millonarios” para explicar como um país que tem enfrentado uma grave crise econômica consegue sustentar uma paixão deste tamanho.
A capacidade de levar tanta gente aos jogos fez o River caminhar na contramão das principais arenas esportivas do planeta. Recentemente, o clube empreendeu obras para ampliar – e não reduzir, como feito tantas vezes no Brasil, por exemplo – a casa, que antes podia receber pouco mais de 72 mil hinchas.
O número de sócios-torcedores ajuda a entender essa realidade. O clube tem cerca de 350 mil associados e conta com uma das maiores torcidas do país.
Deste total, cerca de 150 mil são sócios com vantagens mais expressivas, como maiores descontos nos ingressos e prioridade de compra. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, essas categorias já são responsáveis pelo esgotamento dos bilhetes antes de todos os jogos.
Mesmo dispondo de um estádio com capacidade para quase 85 mil torcedores, o River Plate não consegue abrigar todos os que desejam ir ao campo.
Trata-se de um cenário raro: a maioria dos sócios do River Plate sequer pode comparecer ao Monumental, mas tem nos planos de sócios uma forma de apoiar a instituição – principalmente no aspecto financeiro.
O “Somos River”, quadro de associados mais barato, exige pagamento inicial de 11.500 pesos argentinos (R$ 66 na cotação atual, divididos em seis meses), além de uma cota mensal de 5.750 (R$ 33).
Já o “Socio Activo Pleno”, modalidade mais cara, exige pagamento inicial de 48 mil pesos argentinos (R$ 277, também divididos em seis parcelas), além de uma cota mensal de 24 mil (R$ 138).
O salário mínimo argentino está em 271 mil pesos (cerca de R$ 1.567,00). Os valores mais caros de planos de sócios-torcedores do River representam, portanto, uma parcela expressiva da renda dos menos afortunados.
Paixão pelo River – e por Gallardo
A paixão dos argentinos pelo futebol é vivida intensamente. Assim como no Brasil, é comum ver torcedores com tatuagens dos respectivos clubes e histórias de uma vida de dedicação às instituições pelas quais são apaixonados.
Para Gonzalo Gallo, um dos torcedores do River, o amor pelo clube é fator determinante. “Acredito que a paixão. E a concentração da Argentina também, porque o Brasil tem times diferentes em diferentes áreas do país. Aqui, talvez a liga esteja mais concentrada. Mas bem, o River é hoje o maior aqui e isso também reflete em seu povo”, disse ao No Ataque.
O torcedor, de toda forma, reconheceu as dificuldades para comprar ingressos. “É muito caro (ir ao jogo). Para ser sincero, é caro. Você tem que ser membro, tem que ser assinante porque senão você não vai conseguir a entrada. A verdade é que não se reclama porque se reflete com bom futebol e se reflete com obras”, pontuou.
Outra torcedora dos Millonarios, Paola Soares endossou o discurso. “Somos muitos os torcedores do River. Nem todos têm a possibilidade de entrar em campo porque temos que ser sócios e tudo mais, mas porque somos os maiores. Simples. Simples, não posso te dizer mais nada além disso. Somos os maiores”, afirmou à reportagem.
Para Enzo Núñez, os anos vitoriosos com Marcelo Gallardo foram fundamentais para o crescimento dos públicos do River. Ídolo máximo do clube, o treinador conquistou 14 títulos na primeira passagem, que durou de 2015 a 2022.
“Acredito que esses anos de Gallardo fizeram com que o Monumental ganhasse muita popularidade. Quando o River voltou à Primeira Divisão (2012), gerou-se um fenômeno que todo mundo se prendeu. Ainda por cima, todos os sucessos. Vieram um atrás do outro”, refletiu.
“Temos 85 mil pessoas por fim de semana, em todos os jogos. Batemos recordes e superamos todos, somos muito superiores. (O preço) é o que um clube como o River espera”, encerrou.
River Plate x Atlético no Monumental
Não restam dúvidas de que o Atlético enfrentará um verdadeiro “caldeirão” em Buenos Aires. A expectativa é de que, mais uma vez, o Monumental de Núñez receba cerca de 85 mil torcedores.
Com o apoio de sua gente, o River Plate busca reverter uma vantagem significativa do Galo na semifinal da Libertadores. O time alvinegro venceu o jogo de ida por 3 a 0 na Arena MRV, em Belo Horizonte.
O resultado exige dos Millonarios um placar improvável para a classificação: vitória por quatro gols de diferença. Em caso de triunfo alvirrubro por três tentos de vantagem, a decisão da vaga ocorrerá nos pênaltis.
Tetracampeão da Libertadores (1986, 1996, 2015 e 2018), o River Plate sonha com o penta do principal torneio do continente. Por sua vez, vencedor em 2013, o Atlético busca alcançar pela segunda vez a “Glória Eterna”.