Por Ivan Drummond
Um filho de lutador e neto de jogador de vôlei que defendeu a Seleção Brasileira pode se tornar o primeiro brasileiro quarterback a jogar na Liga Norte-Americana de Futebol Americano (NFL). Ele é Davi Belfort, de 18 anos, filho de Vitor Belfort, ex-número 1 do MMA, e Joana Prado, neto de José Marcos Belfort – que jogou pelo Minas por 12 anos, sete deles também servindo à Seleção Brasileira.
Davi é considerado um fenômeno no futebol americano. Seus números impressionam tanto que ele tem avaliação melhor que a de Patrick Mahomes, considerado o melhor da posição ao lado de Tom Brady, que era três estrelas quando estava no oitavo ano, na High School. Além disso, Davi é considerado o oitavo melhor quarterback dos EUA.
O brasileiro tem quatro estrelas e está a caminho de uma universidade, a Virginia Tech, escolhido entre 31 propostas que recebeu ao final da liga na temporada 2022/2023.
Davi e o futebol americano
A história de Davi com o futebol americano começa aos seis anos, quando a família (ele, o pai, a mãe e as irmãs Vitória e Kyara) se mudaram para os Estados Unidos, em função da carreira do pai, que se tornou uma das maiores estrelas, até hoje, do MMA.
Ele conta que quando chegou aos EUA e conheceu o esporte, se apaixonou. “Fui jogar no que é chamado de clube, para iniciantes no esporte, perto da minha casa”.
Foi aos 13 anos que decidiu se tornar jogador e ser um quarterback. “Eu estava na Western High School. Minha escolha e por quem quero ser, campeão nacional. Ainda tenho uma temporada, um ano, aqui. Rumo ao título, é o pensamento”.
Logo Davi se tornou titular e surgiram os observadores. Segundo conta, surgiram convites para trocar de escola, mas ele não quis. estava adaptado e não via sentido em mudar.
Com o passar do tempo vieram as propostas de universidades. A primeira foi da Alabama University. A partir daí, uma enxurrada de propostas. Todas foram analisadas.
“Minha opção pela Virginia Tech foi porque lá vou me sentir como se fizesse parte de uma família. A escola tem um esquema familiar. Isso é o mais importante, pois será uma continuidade da minha casa e da minha atual escola. Têm ótimos treinadores”, diz.
Seus números atuais impressionam, mas ele diz que não deixa isso subir à cabeça. “Não posso relaxar. Eu busco, sempre, me motivar. E sei que tenho de treinar cada vez mais. Mais e mais, por assim dizer.”
Na Virginia Tech, Davi terá de optar por um curso. “Vou estudar business (negócios). É o melhor curso empresarial dos EUA. Vou juntar as duas coisas, o esporte e o estudo. Será essa a minha formação”.
Possibilidade de NFL
Davi confessa estar ansioso para estar num time da NFL, mas não quer passar o carro na frente dos bois. “Eu foco o momento. Quero, primeiro, ser campeão do High School. Depois, pensarei na universidade e, depois disso, no futebol profissional”.
Nos EUA, não se pode, por exemplo, largar um curso universitário, para ir para um time profissional. Existem regras a serem seguidas. “Serão cinco anos na universidade, até eu me formar. Somente a partir do terceiro ano é que você ser vinculado a um time. Ou seja, somente depois de três anos posso ir para a NFL. Tenho de saber ter paciência, embora esse seja o meu sonho”.
Davi diz que torce para o Dallas Cowboys e mostra que acompanha o esporte de perto. Tem ídolos, todos quarterbacks como ele. “Tenho três jogadores que são meus ídolos, que me inspiraram: Drew Brees, Russell Wilson e Bryce Young. O Bryce, por exemplo, é meu amigo. Ele me ajuda muito, é um dos meus mentores. Drew e Russell jogaram no passado. O Bryce é recente”, diz.
Para ele, Tom Brady é o destaque em todos os tempos. Por tudo que fez na carreira: “Ele não foi o melhor nem no High School e nem no College. Foi crescendo depois disso, ano a ano, para se tornar o melhor. É um exemplo”.
Futebol americano no Brasil
Davi conta que tem um sonho maior. Não quer só chegar à NFL, mas também quer o desenvolvimento do esporte no Brasil, que é sua terra natal. E fala de planos.
“É, pra mim, uma honra muito grande representar o Brasil na NFL. Eu amo meu país. E o futebol americano é o esporte que eu amo. Quero juntar meus dois amores. Quero ver o esporte crescer no nosso país. Sonho, por exemplo, estar na NFL e poder mostrar a bandeira do Brasil. Nós podemos crescer o esporte aqui também”, diz.
“A carreira de Davi foi planejada”. Quem diz isso é o pai, Vitor Belfort. “Desde que ele nasceu, sonhava com ele praticando um esporte e que gostasse dele. E que o fizesse com maestria.” Vitor foi judoca, tenista, jogou futebol e foi para as lutas.
Ele diz estar feliz pelo filho escolher o futebol e que sempre ajudou em sua formação. “Eu e a Joana fomos alimentando esse desejo. Aí, um dia, ele chegou pra gente e disse que queria ir pra NFL. Esporte é educação, principalmente nos EUA. No Brasil não é, infelizmente. Pois eu e a mãe o incentivamos, sempre.”
Vitor diz que o filho é muito esforçado e que a carreira, até aqui, é fruto do próprio trabalho: “A cor do olho, o tamanho, não é a gente que escolhe, mas a atividade esportiva, profissional, sim. Eu aceito e dou todo o apoio possível. Fico feliz em ver que meu filho é assim, esforçado.”
A família Belfort é mesmo de esportistas. Basta lembrar do avô, no vôlei. Pois Davi tem duas irmãs. Vitória joga vôlei. Kyara pratica atletismo. “Pode escrever. Elas vão longe. Não se surpreendam se chegarem aos Jogos Olímpicos. São convocadas, constantemente, para competições escolares, em suas modalidades”, diz Davi.
Brasileiros na NFL
Na história do futebol americano dos EUA, apenas quatro brasileiros, nascidos no país, foram inscritos e defenderam times, sendo um deles, mineiro, natural de Governador Valadares.
- Breno Giacomini
Breno nunca morou no Brasil, apesar de ser presença constante em Governador Valadares, a terra de seus pais. No entanto, ele tem dupla cidadania e foi adotado pelo torcedor brasileiro. Sua posição, bloqueador (Right tackle). Foi recrutado pelo Green Packers. Seu melhor momento foi no Seattle Seahawks, que foi campeão em 2014.
- Maikon Bonani
Nascido em Matão, São Paulo, Maikon se mudou para os EUA com 11 anos. Era kicker na Universidade do Sul da Flórida (USF), da primeira divisão colegial. Assinou com o Tennessee Titans, mas nunca disputou uma partida na temporada regular.
- Cairo Santos
É considerado o primeiro brasileiro a jogar na NFL. Nasceu em Limeira, São Paulo, e jogou na Universidade de Tulane, do estado de Louisiana. Ganhou o prêmio de melhor kicker universitário, o Lou Groza Award. Isso o levou a assinar contrato com o Kansas City Chiefs, em 2014, time que defendeu por três temporadas. Mas devido a uma sequência de contusões, foi dispensado em temporada 2017. Jogou ainda no New York Jets, Los Angeles Rams, Tennessee Titans e atualmente está no Chicago Bears, onde joga desde 2020.
- Durval Queiróz
Nascido em Cuiabá-MT, é chamado de “Duzão”. Foi o primeiro atleta brasileiro a participar de um jogo da NFL por meio do programa NFL Undiscovered. Joga como guard (bloqueador ofensivo) e está, há três anos, no Miami Dolphins.
Agregados
Três outros jogadores, filhos de brasileiros, ou que viveram algum tempo no país também passaram pela NFL. Rodrigo Blankenship é kicker e joga pelo Indianapolis Colts. Ele não nasceu no Brasil, mas sua mãe é pernambucana, natural do Recife. Vinha visitar os avós e chegou a treinar futebol, passando pelas categorias de base do Náutico. Se destacou na Universidade da Georgia.
Tim Mazzetti nasceu em Old Greenwich, Connecticut. Ele viveu dos 2 aos 17 anos no Brasil, o que faz muitos o considerarem o primeiro jogador brasileiro na NFL. Teve curta passagem na NFL, jogando como kicker (chutador) do Atlanta Falcons de 1978 até 1980.
Damian Vaugh também não nasceu no Brasil, mas no Alasca. Tem parentes em Divinópolis, onde morou dos 6 meses aos 5 anos. Sua posição, Tight-End, mescla recebedor e bloqueador. Defendeu três equipes: Cincinnati Bengals, Miami Dolphins e Tampa Bay Buccaneers, no final dos anos 1990, mas nunca disputou uma partida de temporada regular.