ESPORTE NA MÍDIA

Crise em jornal esportivo de Portugal faz trabalhadores pedirem ajuda

Ainda sem saber quando vão receber os salários, jornalistas do Global Media Group contaram com a ajuda da população portuguesa
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Jornalistas da Global Media Group, de Portugal, passam por momentos de angústia em razão de atrasos nas remunerações. Em meio a uma misteriosa negociação de venda das ações a um fundo das Bahamas, a holding que controla títulos como Diário de Notícias, Jornal de Notícias e O Jogo não pagou os vencimentos de dezembro e o subsídio de Natal (equivalente ao 13º salário no Brasil).

A crise levou os trabalhadores a mobilizarem campanhas nas redes sociais. Os jornalistas de O Jogo, um dos principais veículos de esportes em Portugal, criaram em 7 de janeiro a página “O Jogo das Nossas Vidas” no Facebook. No perfil são compartilhadas declarações de personalidades do futebol e outras modalidades em solidariedade aos profissionais afetados pelos problemas.

Entre as pessoas que já prestaram apoio público a O Jogo estão o técnico Fernando Santos, campeão da Eurocopa de 2016 por Portugal; António Salvador, presidente do Sporting Clube de Braga; e a ex-atleta Fernanda Ribeiro, medalhista de ouro na prova de 10 mil metros nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996 (clique para ler os depoimentos).

Ainda sem saber quando vão receber os salários, os jornalistas contaram com a ajuda da população portuguesa. Até 21 de janeiro de 2024, foram arrecadados mais de 23 mil euros (R$ 123,7 mil), que permitiram ajudar 66 colaboradores do grupo. As doações continuam.

“Enquanto os salários de centenas de trabalhadores continuam bloqueados como chantagem da administração contra a ERC e acionistas minoritários, a sociedade responde. O movimento solidário que começou no Natal para ajudar os trabalhadores a recibo verde transformou-se numa onda de apoio impressionante. A todos, nosso MUITO OBRIGADO”.

Perfil ‘O Jogo de Nossas Vidas’ no Facebook

Jornal ‘O Jogo

Fundado em 22 de fevereiro de 1985, O Jogo conta atualmente com 46 profissionais – entre jornalistas, secretários e gráficos – distribuídos pelas redações de Porto e Lisboa. A versão impressa tem 32 páginas majoritariamente focadas em notícias de futebol, enquanto o site apresenta seções dos 18 clubes do Campeonato Português, sobretudo de Benfica, Porto e Sporting.

Segundo o Ranking netAudience, o Global Media Group – do qual O Jogo, Jornal de Notícias, TSF Rádio Notícias e Diário de Notícias fazem parte – é o terceiro em maior alcance em Portugal, com 3,9 milhões de pessoas – quase 40% da população do país, de 10 milhões de habitantes.

Por que a Global Media Group está em crise?

A Global Media Group mergulhou em crise desde que teve 51% das ações adquiridas pelo fundo World Opportunity Fund (WOF), sediado nas Bahamas, país conhecido por ser “paraíso fiscal” (sem regulamentação para cobranças de impostos). De acordo com o jornal português Expresso, a compra teria sido fechada em 7 milhões de euros (R$ 37,5 milhões) em 21 de setembro de 2023.

Conforme informações da imprensa local, o WOF não deu qualquer garantia de colocar os salários em dia enquanto não houver uma definição da Justiça de Portugal e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Já a direção da Global Media pretendia negociar, em dezembro de 2023, as rescisões com 150 a 200 trabalhadores para “evitar a falência do grupo”.

Na onda de demissões e calotes, muitos colaboradores suspeitam que o WOF não teria recursos para honrar os pagamentos em dia. Enquanto isso, empresas de Portugal surgiram como alternativas para a Global Media Group. Um deles é o Nobias European Studios, especializado em criação de conteúdo, que acenou oferta de 10 milhões de euros (R$ 53,8 milhões) para ficar com 51% da holding.

Paralisação geral

Motivados pelo drama dos trabalhadores da Global Media Group, jornalistas de Portugal aprovaram a paralisação de um dia das atividades no país. A proposta aprovada nesta segunda-feira (22/1) conta com a adesão de todas as redações. Entre as principais queixas estão os “baixos salários”, o “não pagamento de horas extras” e as jornadas excessivas sem as devidas contrapartidas.

Somos desconsiderados desde o momento em que pomos os pés numa redação. Vivemos eternamente com baixos salários, somos precários, forçados a fazer longos turnos, a grande maioria sem receber horas extra. Somos pressionados por todos os lados, somos agredidos e temos cada vez menos voz. Tentam-nos dividir, mas há um momento em que temos, coletivamente, como classe profissional, de fincar o pé. Esse momento é aqui e agora. Não aguentamos mais, temos cada vez menos a perder.

5º Congresso dos Jornalistas de Portugal
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