A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, criticou o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, ao discursar em um evento para mulheres realizado em Brasília, na noite de terça-feira (27/8).
A chefe da pasta falava sobre a campanha “Feminicídio Zero”, que já foi levada a estádios e conta com a colaboração de clubes de futebol, e sobre a prática de silenciamento contra mulheres quando rememorou o episódio em que o treinador agiu de forma machista em relação a uma jornalista.
Durante entrevista concedida a veículos de imprensa no sábado (24), Abel interrompeu uma pergunta feita pela repórter Alinne Fanelli, da rádio BandNews FM, e disse que devia satisfações “a três mulheres só: minha mãe, minha mulher e à presidente (do Palmeiras) Leila Pereira”.
A resposta foi dada depois de Fanelli pedir uma atualização sobre a situação do jogador Mayke, que se lesionou durante a partida contra o Cuiabá e foi para o banco de reservas chorando naquele sábado.
“Quando eu falo ‘feminicídio zero’, sempre passa pela minha cabeça o silenciamento das jornalistas”, afirmou Cida. “As nossas jornalistas que são todos os dias agredidas da forma que são. A gente viu aí o treinador do Palmeiras tratando uma repórter da forma como tratou”, acrescentou.
“Se não nos matam na bala, no automóvel, na faca, nos calam na ameaça, com o silêncio, na ameaça à nossa família, aos nossos filhos”, afirmou a ministra.
Após o episódio, Abel publicou uma nota em suas redes sociais em que disse ter sido “infeliz” na declaração e afirmou ter telefonado para a jornalista para se retratar pelo “mal-entendido”.
Cida discursou na terça em evento da Confraria Atena, grupo recém-lançado que quer promover encontros e troca de experiências entre mulheres que ocupam espaços decisórios e de liderança. O evento reuniu cerca de 30 convidadas e teve a ministra como sua homenageada.
Mulheres ocupando espaços
A auxiliar do presidente Lula (PT) brincou que, antes da campanha contra o feminicídio, não entendia nada sobre futebol, mas que agora “entende tudo”. Ela ainda afirmou que quer que os homens que integram o governo também endossem a iniciativa e compareçam às ações realizadas pelo ministério.
“Estar naquele espaço [estádios de futebol], que é o espaço dos homens, da disputa que eles fazem todos os finais de semana e dizer que nós não queremos morrer, que nós queremos estar vivas e que eles têm que vir com a gente, é um desafio super importante. Sair da nossa bolha é muito importante”, disse Cida.
Em seu discurso, a chefe da pasta afirmou que não é fácil organizar um ministério e criticou a gestão de sua antecessora, Damares Alves, hoje senadora pelo Republicanos do DF, sem citá-la nominalmente.
“As lutas que nós fizemos para estar nos lugares que nós estamos, para estarmos como advogadas, como economistas, simplesmente foram traduzidas em ‘mulheres usam rosa e homens usam azul’. A mensagem dada era a de ‘voltem para a cozinha’, ‘fiquem lá'”, disse sobre a ministra da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Às convidadas do evento, Cida ainda afirmou que, em reuniões ministeriais, costuma se queixar de que é mais fácil conseguir investimentos em asfalto e para programas como o Minha Casa, Minha Vida do que para ações em defesa da “dignidade, cidadania e defesa” das mulheres.
“É por isso que eu brigo por muito recurso, porque eu estou investindo mais do que eles. Nós, vivas, damos muito mais lucro do que o agronegócio e a indústria em qualquer lugar nesse país”, disse.