FUTEBOL INTERNACIONAL

Ex-presidiário, artilheiro da Sul-Americana trabalhou como pedreiro e catador de lixo

Adrián Martínez passou seis meses na cadeia, trabalhou como pedreiro e catador de lixo e perdeu um irmão assassinado com três tiros
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Artilheiro da Copa Sul-Americana, com nove gols, o atacante Adrián Martínez, do Racing-ARG, viveu uma história de superação antes de iniciar a carreira profissional. ‘Maravilha Martínez’, como é conhecido, passou seis meses na cadeia, trabalhou como pedreiro e catador de lixo e perdeu um irmão assassinado com três tiros.

O goleador do clube de Avellaneda-ARG atuou em parte da infância e da adolescência em um time amador, o Las Acacias, que era presidido pela sua mãe. Para ajudar a família financeiramente, trabalhou como coletor de lixo e pedreiro.

Em 2014, foi acusado de atear fogo na casa do homem que matou seu irmão. Martínez passou seis meses preso na cidade de Campana, na Região Metropolitana de Buenos Aires, como principal acusado pelo crime. Posteriormente, a polícia descobriu o verdadeiro criminoso.

Realidade na cadeia

Em entrevista ao jornal Olé, da Argentina, ele explicou a estrutura da cadeia. “Era como se fosse um banheirinho, dois por dois, onde você levanta, dorme, faz tudo ali. Você não pode sair daquele pequeno quadrado. Um pouco de luz entrava por uma pequena janela com grades. Dali não saía, só quando tinha visita às sextas-feiras. Fiquei preso ali até que me transferiram para um lugar maior”, disse.

Em outra parte da prisão, ‘Maravilha Martínez’ tinha mais espaço, mas os perigos eram maiores. “Às 7h, os cadeados eram abertos. Você tinha que acordar porque se ficasse dormindo, eles iriam roubar você”, disse o jogador, que tinha medo de ser morto na prisão.

“Fiquei com medo pela minha vida. Passei por duas ou três situações muito difíceis… Estive prestes a ser esfaqueado (por um problema telefônico), não aconteceu por pouco”.

O atacante chegou a ver assassinatos. “Eu vi como as pessoas foram mortas, porque lá eles te matam como se você fosse um nada… Eu vi um morrer: agarraram pelas pernas e levaram embora. É assim. Eles mesmos dizem: ‘Se eu te matar, pego dois anos a mais’. Dizem isso porque pode ser considerado legítima defesa”.

Na prisão, ele afirmou que não recebia alimentação do governo, apenas comida que a família levava e doação de outros presidiários.

“Onde eu estava, só comíamos se a família nos trouxesse alguma coisa. Não havia cozinha nem nada, mas era possível colocar dois tijolos, os prisioneiros cruzavam os fios e se conectava à energia. E eles cozinhavam macarrão branco em uma panela. Passei muito mal. Lá, um prisioneiro cozinhava para mim e me dava comida. Pedi à minha família que me trouxesse biscoito ou chá, coisas que durassem”.

Vida após a prisão

Quando deixou a cadeia, viu como era dura a vida de um ex-presidiário. “É muito difícil, porque quando você sai as pessoas não te dão oportunidade. Para todos você é um ladrão, um canalha, um assassino. Eles têm a mentalidade de mudar, mas aqui fora não dão essa possibilidade”.

Apesar de todas as dificuldades, Martínez deu a volta por cima. “Prometi a Deus que iria jogar futebol. E tive a oportunidade de começar no Defensores Unidos de Zárate”.

Depois, passou por Atlanta-ARG, Sol de América-PAR, Libertad-PAR, Cero Porteño-PAR, Coritiba, Instituto-ARG. Hoje é um dos grandes nomes do Racing, que tenta voltar ao protagonismo internacional nesta Sul-Americana. O time argentino enfrentará o Corinthians, na semifinal do torneio.

“Temos um grupo muito bom. Tenho companheiros que comemoram mais meus gols do que eu… Isso é impressionante. Vejo um grupo muito positivo, com muito entusiasmo. São todas boas vibrações e isso me dá muita confiança”, afirmou.

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