Alessandro está no grupo de jogadores que defenderam os três principais clubes de Minas Gerais. Contudo, ele não repetiu em Cruzeiro e Atlético o sucesso alcançado no América. Em entrevista ao No Ataque, o ex-centroavante relembrou as experiências na Toca da Raposa 2 e na Cidade do Galo, ambas no mesmo ano, em 2009.
A história no Cruzeiro começa no fim de 2007, quando Alessandro terminou a Série B como artilheiro pelo Ipatinga, com 25 gols. Sensação do futebol mineiro daquela época, a equipe do Vale do Aço conquistou o inédito acesso à elite do Campeonato Brasileiro ao somar 67 pontos, na segunda posição (20 vitórias, sete empates, 11 derrotas).
O então vice-presidente da Raposa, Zezé Perrella, telefonou para o jogador dizendo que queria contratá-lo para 2008. Contudo, Alessandro tinha proposta financeiramente vantajosa do Albirex Niigata, do Japão. No continente asiático, deu sequência aos bons números com 36 partidas e 17 gols – 13 na J1 League, três na Copa Nabisco e um na Copa do Imperador.
Tudo mudou a partir da gravidez da esposa de Alessandro, Keli Rangel. Com o sonho de ter o filho no Brasil, o jogador foi novamente procurado pelo Cruzeiro e, dessa vez, aceitou a oferta, firmando um vínculo de três anos. A negociação se arrastou um pouco porque os japoneses não pretendiam abrir mão de um de seus principais atletas.
“Eu tinha feito um ano muito bom. Fui vice-artilheiro da J-League. Porém, com minha esposa grávida, o Zezé me ligando e o sonho de disputar a Libertadores, pensei: ‘poxa, vou voltar para Belo Horizonte’. Mesmo assim, o clube japonês não queria abrir mão. Custamos a fazer um acordo lá. Mas foi bom financeiramente para mim”.
Alessandro
Veto de Adilson Batista
Alessandro estreou pelo Cruzeiro em amistoso contra o Atlético, no dia 17 de janeiro de 2009, pelo Torneio de Verão, no Uruguai. Ele entrou no segundo tempo no lugar de Wellington Paulista e participou da vitória por 4 a 2. No Campeonato Mineiro, disputou os duelos com Social, como suplente, e Guarani de Divinópolis, entre os titulares. O time venceu ambos por 5 a 0.
Diante do Guarani, Alessandro marcou o primeiro gol celeste, completando assistência de Elicarlos, e teve chance para ampliar os números pessoais, mas falhou na finalização. O jogo do dia 12 de fevereiro seria o terceiro e último do atacante com a camisa celeste. O motivo? O veto do técnico Adilson Batista.
“Quando eu percebi que não era a vontade do treinador Adilson Batista contar com o nosso trabalho, eu senti um pouquinho a má vontade em relação à minha pessoa dentro do clube. Levantei o questionamento com o (Eduardo) Maluf, dirigente daquela época, e cheguei a conversar por duas vezes com o próprio Adilson. Ele falava que não tinha pedido a minha contratação, e sim a do Soares e do Wellington Paulista. Ali acabei entendendo que (a contratação) foi pela diretoria, e não um consenso da comissão técnica”.
Um episódio às vésperas da estreia do clube no estadual pode ter contribuído para o atrito. Alessandro pediu uma explicação a Adilson Batista sobre as razões de ter sido cortado do compromisso da primeira rodada, contra o Uberlândia, no Parque do Sabiá, em 25 de janeiro de 2009. O técnico optou por Soares pouco antes de o ônibus sair da Toca 2 para o aeroporto. O Cruzeiro ganhou por 2 a 1, gols de Gerson Magrão e Fernandinho.
“No início do Campeonato Mineiro, o primeiro jogo do Cruzeiro era contra o Uberlândia. Antes desse jogo, nós concentramos dois dias na Toca 2 para irmos ao Aeroporto da Pampulha e pegar o voo. Não estava sabendo que eles tinham contratado o Soares. Na véspera do jogo, no café da manhã, o Adilson me chama na Toca e fala que eu não ia participar mais da relação porque a documentação do Soares tinha ficado pronta”.
“Eu questionei, pois nem vi o Soares treinando. ‘Como que você vai me cortar?’ E ele falou que não tinha que dar explicação nem nada e acabou me cortando. Gerou aquela questão porque o ônibus estava ali para nos levar ao Aeroporto da Pampulha. Ali, com a cabeça quente, falei alguma coisa, o Adilson também falou. Mas a questão foi essa, ele cortou por opção dele e porque queria levar o Soares, que tinha chegado a BH no outro dia”.
Alessandro
‘Carta branca’
Para Alessandro, faltou pulso firme à diretoria nas tratativas com Adilson Batista. “Acredito que a situação poderia ser facilmente resolvida se a diretoria chegasse em uma conversa aberta com o Adilson e comigo. ‘Você vai utilizar o Alessandro? Não. Então vamos emprestá-lo a outro clube e deixá-lo jogar’. Mas vi que o Adilson tinha carta branca para fazer o que quisesse. Na época, o Zezé e o Maluf foram omissos em relação a isso. Por isso pedi para sair”.
Outro ponto que geriu um ruído foi o fato de o atacante não ter gostado de treinar fora de sua função. “Um auxiliar técnico do Adilson, que eu não me recordo o nome, me colocou na função de ala direita. Eu fiquei surpreso e questionei. Falei que era centroavante e estava vindo para fazer gols. Creio que com a informação que o auxiliar passou para o Adilson iria ficar difícil de jogar. O Adilson dizia que o jogador teria que jogar em três ou quatro posições diferentes. Se não fosse assim, com ele ia ser muito difícil jogar. A partir desse meu questionamento surgiu essa questão da rescisão”.
Ida para o Atlético após ligação de Kalil
Alessandro rescindiu o contrato com o Cruzeiro em 12 de fevereiro de 2009. Duas semanas depois, no dia 27, o jogador se apresentou ao Atlético, com vínculo até dezembro de 2010. O convite partiu do então presidente Alexandre Kalil e teve o aval do técnico Emerson Leão.
“Quando eu piso fora da Toca da Raposa, meu telefone toca. É o Alexandre Kalil me convidando pra ir pro Atletico. Falei que aceitava, mas com uma condição. Se o Emerson Leão me ligasse falando que contaria comigo no grupo. Passaram-se dois minutos, o Leão me ligou também. Então, chegamos a um acordo e fui para o Atlético”.
Como já tinha disputado duas partidas do Campeonato Mineiro pelo Cruzeiro, Alessandro não pôde atuar na competição pelo Atlético. E Emerson Leão acabou demitido após perder o estadual para o rival – derrota por 5 a 0, no jogo de ida da decisão, e empate por 1 a 1, na volta. Pesou também o revés por 3 a 0 para o Vitória no primeiro confronto das oitavas de da Copa do Brasil.
Sai Leão, entra Celso Roth
Kalil contratou Celso Roth para o lugar de Leão. Alessandro, que tinha anotado dois gols nos quatro primeiros jogos pelo Galo, começou a perder espaço. Além da grande fase vivida pela dupla titular – Diego Tardelli marcou 43 gols no ano, enquanto Éder Luís fez 21 -, o novo treinador pediu as contratações do colombiano Rentería, ex-Internacional, e de Pedro Oldoni, do Athletico-PR.
“Com a chegada do Celso Roth, perdi muito espaço. Na reta final, em que o Atlético deixou de garantir a vaga na Libertadores, eu praticamente não jogava mais”, relembrou o atacante, que fechou a temporada com 21 jogos (três entre os titulares) e três gols – um no clássico contra o Cruzeiro, vencido pelo time alvinegro por 3 a 0, no Mineirão, em 12 de julho de 2009.
O Atlético começou muito bem o Brasileirão, praticamente sendo o líder da sexta até a 14ª rodada. No 31º jogo, o time alvinegro estava na segunda posição, com 53 pontos, um a menos que o então primeiro colocado, Palmeiras. Nos sete últimos embates, o Galo ganhou apenas um e perdeu seis, despencando para a sétima posição (56 pontos). O campeão foi o Flamengo, com 67.
Acredito que o Celso Roth não soube fazer a gestão do grupo. Principalmente nessa reta final, em que o atleta está mais sobrecarregado, cansado e tal, ele não soube gerir a questão de parte técnica, tática e a gestão de pessoas. Começaram a ter alguns atritos de alguns jogadores, como aconteceu comigo. Eu passei a não ir mais para os jogos, aí aconteceu com outros jogadores também. Ficou um pouquinho tumultuado, e o time acabou perdendo até a classificação para a Libertadores.
Alessandro
Em 2010, o Atlético buscou Vanderlei Luxemburgo, que liberou Alessandro e pediu a contratação de Neto Berola, do Vitória. O ex-atacante do América regressou ao Ipatinga, pelo qual viveu mais um grande ano – fez sete gols no Mineiro e 21 na Série B.
Retorno ao América
Alessandro iniciou 2011 no Sport, mas logo regressou ao Ipatinga. Havia um acordo para que ele fosse liberado após o Campeonato Mineiro. Assim, a pedido do técnico Mauro Fernandes, o América voltou a surgir no caminho do atleta.
O Coelho tinha subido para a Série A do Brasileiro ao terminar a B de 2010 em quarto lugar, com 63 pontos. Alessandro formou dupla de ataque com Fábio Júnior, hoje comentarista esportivo da Globo, e ainda esteve ao lado de Kempes, que faleceu em 2016 na queda do avião da Chapecoense na Colômbia.
Apesar de o América ter sido rebaixado para a Série B – 19º colocado, com 37 pontos -, Alessandro teve bom desempenho ao contabilizar nove gols em 23 jogos. Em dado momento, ele brigou pela artilharia do Brasileirão. Contudo, um estiramento muscular sofrido na coxa direita contra o Atlético-GO, na 19ª rodada, o tirou do circuito por 11 partidas.
Até a oitava rodada, o Ronaldinho Gaúcho (Flamengo) era o artilheiro, com seis gols, e eu era o vice, com cinco. E tinha aparecido uma proposta do Kashima Antlers (Japão), só que para um contrato de seis meses. Eu não quis retornar, pois acreditava que faria uma boa Série A. Apesar da lesão, foi um bom ano também. O Salum (presidente do América) me acolheu, assinamos o contrato na sala da casa dele. Ele me mostrou as fotos que tinha lá e tal”.
Alessandro
Reta final da carreira
Em 2012, Alessandro vinha muito bem na Série B até romper o ligamento cruzado do joelho esquerdo, na vitória por 2 a 1 sobre o Guaratinguetá, fora de casa, em 16 de outubro. Na ocasião, o camisa 9 anotou um dos tentos do Coelho e foi a 12 em 21 partidas na Segunda Divisão.
Quando se recuperou, em julho de 2013, Alessandro entrou em campo no decorrer da Série B. O ritmo já não era o mesmo em comparação aos anos anteriores, e o atacante marcou somente três gols em 16 jogos. O Coelho fechou o campeonato em nono lugar, com 57 pontos. O Figueirense, quarto colocado, obteve 60.
Sem o acesso à elite nacional, o América reformulou o elenco. E Alessandro, que tinha perspectivas de renovar o contrato por mais dois anos, ficou fora dos planos do clube. Ele revelou decepção com a diretoria por não continuar no Lanna Drumond.
“Nessa minha segunda passagem, eu tinha tudo acertado com dois diretores do América para renovar. Antes da lesão, tive duas propostas, uma do Palmeiras e uma da Ponte Preta, mas fiz o acordo para renovar por mais dois anos e depois trabalhar nas categorias de base do América. Porém, quando tive a lesão, mudou radicalmente”.
Em 2014, Alessandro se transferiu para o Kyoto Sanga, do Japão. No mesmo ano, retornou ao Brasil para jogar no Bahia. As dores provocadas por lesões no joelho e no tornozelo levaram o atleta a encerrar a carreira para abrir o próprio negócio. Desde 2015, ele administra a Arena Pampulha, complexo esportivo com escolinha de futebol em Belo Horizonte.
Alessandro no América – ano a ano*
- 2000 – 1 jogo, nenhum gol
- 2001 – 44 jogos, 10 gols
- 2002 – 20 jogos, 4 gols
- 2003 – 25 jogos, 8 gols
- 2011 – 23 jogos, 9 gols
- 2012 – 38 jogos, 19 gols
- 2013 – 16 jogos, 3 gols
*Os números ano a ano de Alessandro no América têm o site O Canto do Coelho como fonte. A soma corresponde a 53 gols em 167 jogos. Porém, segundo o historiador Carlos Paiva, o atacante marcou 56 gols em 169 partidas pelo clube.
Entrevista de Alessandro ao No Ataque
Autor do gol do título do América no Mineiro de 2001, Alessandro concedeu entrevista especial ao No Ataque. O ex-jogador falou de diversos temas, como o projeto para formar craques na Arena Pampulha, o sonho do filho de se tornar atleta profissional e os momentos curiosos em sua trajetória no futebol. Fique ligado no portal para conferir as reportagens desse bate-papo!