
Do interior do Rio Grande do Norte para os alojamentos de um dos gigantes do futebol brasileiro. Foi no Vasco que Kauan Pereira, na adolescência, começou a viver o sonho de tantos garotos espalhados pelo Brasil. Mais tarde, vieram os dias em Belo Horizonte, vestindo a camisa do América. Na capital mineira, entretanto, ocorreu a frustração de um contrato não renovado. Hoje, aos 20 anos e livre no mercado, a jovem promessa do futebol reencontra a esperança no “CT R6”, espaço de treinamentos no Parque Ecológico da Pampulha.
Sem clube desde o fim do vínculo com o Coelho, encerrado em janeiro, Kauan segue em preparação enquanto aguarda uma nova oportunidade. O meia-atacante foi um dos entrevistados pela equipe de No Ataque durante visita ao projeto idealizado por Rafael Estevam, ex-lateral-esquerdo com passagens por América, Caldense, Tupi, Cuiabá e Uberlândia.
Natural de São Gonçalo do Amarante, o meia começou no futebol por influência do pai, que também sonhou em ser jogador. A paixão virou projeto de vida. Aos 13 anos, Kauan se mudou para o Rio. O que era sacrifício individual virou luta coletiva: pouco tempo depois, seus pais largaram tudo em Natal para viver com ele.
“Assinei o primeiro contrato profissional muito novo, outros garotos não tiveram essa oportunidade. Desde ali, sabia que havia um propósito de Deus para mim no futebol. Não foi à toa que saí de Natal, fui para o Rio e depois para BH”, destaca o meio-campista.
“Sou muito grato pelos pais que tenho, porque poucos têm a coragem de largar tudo e correr atrás do sonho do filho. Meu pai tinha empresa em Natal, minha mãe também trabalhava. Eles largaram tudo para me oferecer o suporte que precisava naquele momento. Se não fosse por eles, não estaria mais no futebol. Eles me deram a estrutura necessária para que eu continuasse”, reconhece.
Sonho com o futebol europeu
“Em nome de Jesus, vou para fora agora”. A frase foi dita com convicção por Kauan, que mantém o brilho nos olhos mesmo diante do momento em que está distante de um clube profissional. A meta é clara: alcançar o futebol europeu e transformar a realidade da família.
“Então, nunca houve essa coisa de ‘não dá mais’. Sou novo, tenho ótima base e ótima progressão. Sempre tive uma cabeça muito boa quanto a isso. Meus pais me prepararam para isso, dizendo que sempre haverá momentos bons e ruins. Que era para desfrutar de todos, para elevar o nível. Esse processo está me amadurecendo bastante, não apenas como atleta, mas como pessoa”, ressalta.

Com fé e disciplina, o jovem enxerga na circunstância uma oportunidade de crescimento. Enquanto aguarda uma nova chance, ele segue firme nos treinos no Parque Ecológico. A rotina de preparação física e técnica é intensa no CT R6, projeto que conheceu por acaso – por meio do pai, Manoel Fonseca, que hoje divide com ele o campo, os exercícios e os sonhos.
“Caminhando pelo parque, meu pai ficou observando o nível de treino e viu um potencial enorme para me ajudar a manter o preparo físico para chegar bem ao próximo clube. Chegou em casa falando da oportunidade de treinar com ele. Há mais de um mês estou com ele. Estou me sentindo bem fisicamente. Quando cheguei, estava um pouco abaixo, devido ao tempo em que fiquei em uma mini férias. Fui ao Rio de Janeiro aproveitar e ver minha namorada, que é nutricionista e está me ajudando nesse processo. São minha base de incentivo e ensinamento. Tenho que agradecer a Deus e aos meus pais, que correm bastante atrás”.
Kauan Pereira, jogador do projeto “CT R6”
Humildade e personalidade
Aos poucos, Kauan vai retomando o ritmo ideal e se preparando para o que acredita ser uma fase de virada na carreira. Além do suporte da família, o jovem meio-campista tem aprendido com atletas experientes que integram o projeto de Rafael Estevam, como o lateral-direito Patrick Vieira, cria da base do América, e Euller, o “Filho do Vento”, ídolo do Coelho, Atlético, Palmeiras e Vasco.
“Tive a oportunidade de treinar com o Euller, já combinamos várias estratégias no treino. Dentro de campo, a gente se entende. Sinto-me honrado de treinar com essas pessoas, pois estou aprendendo muito com eles”, salienta.
Apesar da fala humilde e afável, Kauan esbanja personalidade. O meia, inclusive, ganhou visibilidade nacional na Copa São Paulo de Futebol Júnior (Copinha) de 2024 com um vídeo que viralizou nas redes sociais. Na partida contra o Desportivo Brasil, o jovem marcou um golaço de pênalti, com cavadinha, na segunda fase da competição. Os times empataram por 2 a 2 e, nas penalidades, o Coelho eliminou o adversário ao converter todas as batidas: 5 a 3.
Futuro melhor para a família e amor pelo futebol
O desejo de mudar de vida vem acompanhado de metas bem definidas. O futebol, para Kauan, é também caminho para retribuir tudo o que recebeu até aqui.
“Sonho com uma carreira bem-sucedida para fazer minha vida no futebol e oferecer um futuro melhor à minha família. Uma casa, um carro melhor. Situações melhores. Pretendo desfrutar”, projeta o jogador, ressaltando ensinamento que teve com o técnico William Batista, com quem trabalhou no Vasco e reencontrou no América.
“É uma palavra que aprendi com o William Batista. Foi um cara com quem aprendi bastante. Aprendi a ver o futebol de uma forma diferente. Não é só pelo dinheiro, e sim porque amo esse esporte. Quando trabalhamos com o que gostamos, não é apenas trabalho, e sim uma diversão. Procuro me divertir dentro de campo, e o futuro a Deus pertence. A gente faz planos, mas os planos de Deus são muito maiores do que imaginamos”.
Com estilo versátil, o jogador acredita que suas características podem abrir portas em diferentes contextos. “Sou um jogador canhoto, meia-atacante, jogo também como segundo volante. Tenho ótimo passe, ótima visão de jogo, condução de bola e finalização de fora da área. Essas são minhas principais características”.
