
O volante Gabriel Felipe tem apenas 18 anos, mas já carrega uma história marcada por superação, fé e recomeços. Em dezembro de 2023, ele perdeu o pai – figura essencial em sua trajetória. O luto abalou profundamente o jovem, mas não foi suficiente para apagar o sonho de se tornar um jogador profissional. Foi nesse momento delicado que o futebol voltou a fazer sentido. E com o apoio de Rafael Estevam, ex-jogador do América e treinador do projeto “CT R6”, Gabriel reencontrou forças para continuar.
“Perdi meu pai e deu uma desanimada. Independentemente da religião, creio muito em Deus, sou cristão, tive fé em Deus e isso me fortaleceu”, contou à reportagem de No Ataque.
Silvio Nunes, massagista do América, se tornou peça-chave nessa reviravolta. Ao conhecer o talento e dedicação do garoto, ele indicou Gabriel a Rafael Estevam após o jovem sofrer uma lesão no joelho. A recuperação foi rápida, e a presença de um ex-atleta como mentor trouxe motivação extra.
“Estou 100% com o Rafa depois de três meses parado. Estou nesse rumo, o Rafa está me ajudando demais, já fiz um jogo contra o Betim sub-20 e vou para cima”.
Do Norte de Minas para BH
Nascido em Várzea da Palma, no Norte de Minas, Gabriel vive em Belo Horizonte desde pequeno. Foi no bairro São José, entre as regiões Noroeste e Pampulha, que começou a se aproximar do futebol. Aos seis anos, assistia aos treinos de um projeto social com campo de terra na comunidade, voltado para afastar crianças da criminalidade.
“Esse projeto existe para não deixar as crianças se influenciarem pelo crime na favela. Isso é muito interessante e eu sempre passava lá. Minha mãe achava perigoso, mas fui convencendo ela”, conta.
Com dedicação e disciplina, o garoto foi conquistando espaço. Aos 15 anos, chegou ao Santa Cruz, tradicional time amador de BH que participa de torneios de base da Federação Mineira de Futebol. Por lá, disputou campeonatos importantes e chegou a viajar para São Paulo, onde buscava mais visibilidade no cenário esportivo.
- Ex-meia de Vasco e América treina ao lado do pai e sonha com ida à Europa para mudar vida da família
Após a morte do pai, Gabriel ainda passou pelo futebol capixaba e carioca, onde fez testes em clubes como Sampaio Corrêa, Boavista e Campo Grande Atlético Clube. A lesão o trouxe de volta a Belo Horizonte, mas foi também o que o reconectou com sua caminhada no esporte.
Hulk e Dudu como referências
Hoje, no “CT R6”, Gabriel treina ao lado de atletas profissionais e amadores, recebendo orientações técnicas e físicas de Rafael Estevam. A nova fase devolveu ao garoto o prazer de competir e a esperança de alcançar um lugar no futebol profissional.
“Meu maior sonho era que meu pai pudesse me ver jogar. Tenho certeza de que ele não gostaria que eu parasse agora. Minha família me deu total apoio, minha mãe sempre esteve comigo. E Deus colocou o Silvio na minha vida, justamente por causa disso. Tenho como um pai agora”.
Entre as referências que carrega, valoriza a humildade e o profissionalismo de atletas como Hulk, do Atlético, e Dudu, do Cruzeiro.
“Não tenho ídolo, sou cristão, mas tenho como referência no Brasil o Hulk, o Dudu, cara bastante humilde. Acho que isso é legal pois é importante ter o pé no chão, a humildade”.
Inspiração para os mais novos
No bairro onde mora, virou inspiração. Os mais novos o procuram em busca de conselhos e ele faz questão de compartilhar suas vivências.
“No meu bairro tem vários meninos da minha idade. Eles sempre buscam conselhos, mas os menores buscam mais. Mostro para eles o que aconteceu na minha vida. No Santa Cruz, eu pegava ônibus, deixava a escola cedo, chegava em casa correndo e só trocava de roupa, almoçava no ônibus mesmo, e depois andava debaixo de sol. Sempre procuro motivar os outros e falar de Deus. É uma rotina muito puxada, mas tenho muita fé”.
Após se destacar em um amistoso contra o sub-20 do Betim, Gabriel recebeu o convite para um período de avaliação no clube. Encarando o momento com humildade, ele segue determinado. “O pessoal até gostou de mim em Betim, querem que eu passe um período lá de avaliação. Mas se essa não for a porta, terão outras”.