
A recente aprovação do modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) pelo Juventus da Mooca, tradicional clube de São Paulo fundado por imigrantes italianos, representa mais do que uma reestruturação financeira: é um passo rumo à modernização do “futebol raiz” no Brasil. Com investimentos de até R$ 500 milhões e a ampliação do estádio Conde Rodolfo Crespi, na Rua Javari, para 15 mil lugares, o projeto busca devolver protagonismo ao clube e reacender o vínculo emocional com a torcida local e a comunidade ítalo-brasileira.
Para Marcelo Godke, sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Empresarial e Direito Societário, a iniciativa reforça o caráter cultural do futebol brasileiro. “Sabemos que o futebol é uma questão de paixão e gosto pessoal, e torcer para um time como Santos, São Paulo, Corinthians ou Juventus muitas vezes transcende a lógica, sendo uma questão de amor. Isso pode ter um forte vínculo cultural. No caso do Juventus, por ser um time com origens na comunidade italiana de São Paulo, a impressão é que, se for reestruturado financeiramente e tiver um time forte, as pessoas voltarão ao estádio”, afirma. Segundo ele, esse resgate é um caminho para fortalecer laços entre gerações e manter viva a identidade ítalo-brasileira no cenário esportivo.
Além da dimensão afetiva, a aprovação da SAF atende a uma necessidade premente do futebol brasileiro: a profissionalização da gestão. “A SAF, com sua estrutura de sociedade anônima especial, foi criada para promover a organização profissional. O futebol, além de esporte, é também entretenimento, mas é fundamentalmente um esporte. A SAF é, portanto, um mecanismo jurídico inteligente e interessante, criado no Brasil para unir esses dois aspectos, permitindo que o esporte se organize de maneira profissional, sem perder sua essência”, destaca Godke.
A expectativa é que o Juventus consiga retornar à elite do futebol brasileiro nos próximos 10 anos, resgatando seu prestígio histórico. A profissionalização traz também maior transparência na gestão, atratividade para investidores e novas possibilidades de receita — como naming rights, parcerias comerciais e um maior aproveitamento da marca da equipe no mercado esportivo.

Retrospecto do Juventus
Fundado em 1924, o Clube Atlético Juventus só adotou o nome atual em 1930, em homenagem à Juventus, da Itália. A sugestão partiu de seu principal incentivador, o conde Rodolfo Crespi (1874-1939), empresário italiano do ramo têxtil que fez fortuna no Brasil no início do século 20.
Campeão paulista em 1934, o Juventus disputou a elite estadual em 72 oportunidades, sendo a última em 2008, quando caiu em 17º lugar, com 17 pontos em 19 rodadas. O clube da Rua Javari alcançou outros feitos importantes, como a conquista da Série B do Campeonato Brasileiro de 1983 e da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1985, além do vice da Série C em 1997.
Em 2025, o Juventus da Mooca disputou a Série A2 do Campeonato Paulista, terminando em 11º lugar entre 16 participantes, com quatro vitórias, sete empates e quatro derrotas (19 pontos).
Dois jogadores que fizeram sucesso no Cruzeiro saíram da base do Juventus: o zagueiro Luisão e o volante Augusto Recife, que celebraram, entre vários títulos, a Tríplice Coroa em 2003 (Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro).
A transformação em SAF
A aprovação da SAF do Juventus ocorreu no último sábado (28/6). Na assembleia geral, 322 dos 388 associados presentes votaram a favor da proposta — um índice superior a 83% de aprovação. Houve ainda 62 votos contrários, 3 em branco e 1 nulo.
A nova SAF, constituída em parceria com as empresas Contea Capital e REAG Capital Holding S/A, atendeu aos critérios técnicos e administrativos definidos previamente no edital aprovado pelo Conselho Deliberativo.
Com a decisão, o Juventus entra oficialmente em uma nova fase, com foco em um projeto robusto de reestruturação que contempla investimentos de R$ 60 milhões em infraestrutura e até R$ 480 milhões no futebol nos próximos dez anos. A meta esportiva é clara: chegar à Série A1 do Campeonato Paulista e, em longo prazo, retornar à elite do futebol brasileiro até 2035.

As melhorias na estrutura do Juventus
- R$ 20 milhões para melhorias na sede social, incluindo:
- Troca do gramado do campo da sede;
- Construção de camarotes;
- Modernização da estrutura para os associados.
- R$ 40 milhões na Arena Juventus (Rua Javari), com foco na revitalização e profissionalização do estádio.
Metas no futebol até 2035
Segundo as gestoras do projeto, o investimento no futebol do Juventus, na ordem de R$ 480 milhões ao longo da próxima década, será aplicado em:
- Folha salarial do elenco profissional;
- Reestruturação completa das categorias de base;
- Reformas na Rua Javari e centro de treinamento.
As metas esportivas incluem:
- Subir à Série A1 do Paulistão até 2027;
- Disputar a Série C do Brasileirão em 2028;
- Chegar à Série B em 2031;
- Alcançar a Série A do Brasileirão até 2035;
- Disputar competições internacionais de base e torneios continentais até 2033.
Além do campo, a proposta visa transformar o Juventus em uma referência em formação de atletas, com uma abordagem educacional multidisciplinar e modelo de gestão inspirado em clubes europeus.
Está prevista também a criação de um novo centro de formação que incluirá:
- Hotel para atletas;
- Centro de fisioterapia e spa;
- Restaurante;
- Academia de alto rendimento;
- Nova estrutura administrativa.