ENTREVISTA

Ídolo de Atlético e Cruzeiro deixou a Globo após ser proibido de participar do Casseta e Planeta

Em entrevista ao No Ataque, ex-lateral de Galo e Raposa contou bastidores inéditos de saída da emissora, em 2007

Ídolo de Cruzeiro e Atlético, o ex-lateral-direito Nelinho revelou os bastidores de sua saída da Globo, emissora para a qual trabalhou de 2004 a 2007. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, ele relembrou a trajetória de comentarista esportivo e contou como uma proibição de participação no programa humorístico Casseta & Planeta Urgente influenciou o seu pedido de demissão.

Apesar de gostar de assistir aos jogos e apontar detalhes técnicos e táticos, Nelinho se incomodava com o fato de não gravar os nomes dos jogadores.  “Eu tinha dificuldade enorme de gravar os nomes dos caras e dos times. Só conhecia Cruzeiro e Atlético pela convivência aqui. Ia comentar os jogos dos outros times e falava: ‘o número 4, o beque central’. Não sabia”. 

“Me chamaram uma vez para comentar a Copa do Mundo. Polônia contra não sei quem, aqueles nomes difíceis. O que eu ia falar? Não sabia nada. Não estudava nada da seleção. Eu comentava o que estava vendo. Só falava isso. Agora, esse negócio de ficar decorando, ‘ah, fulano de tal tem tantos anos, já fez tantos jogos’, como vou saber? Não gostei, achei horrível”, relembrou.

Nelinho, ex-lateral de Cruzeiro e Atlético, em entrevista ao No Ataque(foto: Edésio Ferreira/EM D.A Press)

Nelinho também não gostava da rotina

Outro ponto que deixava Nelinho desanimado com a função era a rotina. O ex-jogador ficava com pesar de ir ao Mineirão em pleno domingo, enquanto a família se reunia em almoços de confraternização. 

“Na Globo, é aquele negócio de jogos à tarde. Eu ia em casa, almoçava às 11h, minha família toda reunida na piscina, tomando cervejinha. E eu: ‘tchau’. Ia para o Mineirão quatro horas antes para chegar em casa às oito ou nove horas da noite. Pelo amor de Deus. Tanto que pedi demissão da Globo. Para mim, a melhor coisa foi ser jogador mesmo (risos)”, relembrou.

Nelinho

Nelinho em frente à academia, em 2020(foto: Ivan Drummond/EM/D. A Press)

Nelinho conta bastidores inéditos

Não foi apenas a rotina que influenciou na decisão de Nelinho. Ao No Ataque, o ex-jogador de Cruzeiro e Atlético contou que o estopim da trajetória na Globo foi o veto de uma gravação no Casseta & Planeta Urgente, humorístico estrelado por Cláudio Manoel, Hubert Aranha, Hélio de la Peña, Cláudio “Bussunda”, Beto Silva, Marcelo Madureira e Reinaldo Figueiredo.

O programa foi criado por colegas de faculdade em meados dos anos 1980, como revista e depois tabloide, até migrar para a TV em 1992. Em 2007, o grupo ainda passava por período luto pela morte de Bussunda, em 2006.

O Casseta & Planeta acabou em 2010, após 18 anos de exibição na Globo. Antes disso, foi um marco na televisão brasileira, conhecido por suas sátiras políticas e culturais, bem como pelas piadas de duplo sentido.

“O jeito que eu saí da Globo, ninguém sabe. Estou falando em primeira mão aqui. Fui convidado algumas vezes para os programas da Globo, mas não deixavam. Fui convidado para o Casseta e Planeta. Era um sábado de manhã, eles queriam gravar comigo num sábado de manhã em Belo Horizonte”, iniciou.

“Nem comentei nada, pois era um programa no sábado de manhã, e era Globo. Alguém ficou sabendo e comunicou ao diretor. O diretor então falou: ‘não, você não pode gravar não’. Me proibiu de fazer a gravação”, relembrou. 

Ao ser proíbido de participar do programa, Nelinho disse que só ficaria na emissora se recebesse um aumento, o que não aconteceu. 

“Achei uma coisa tão sem nexo. Não tinha nada a ver. Fiquei tão revoltado que procurei o diretor na segunda-feira e falei com ele assim. ‘Olha, vocês me proibiram, mas não concordo. Acho que essa exclusividade que vocês estão querendo da minha parte está sendo muito grande, até em razão do próprio programa da Globo’”. 

“Eu sabia que com outras emissoras não podia, mas da própria Globo? Essa exclusividade é muito grande para o salário que vocês me pagam. Então, a partir de hoje, eu quero aumento. Um salário bem melhor. Aí serei exclusivo de vocês em Belo Horizonte. Ele respondeu: ‘tudo bem, vou falar com o chefe, mas posso te adiantar que não será possível’”.

Nelinho

“Ele voltou no dia seguinte e falou comigo: ‘como previa, o chefe não aceitou’. Falei assim: ‘como faço para ir embora?’. ‘Você vai no RH e fala lá’. ‘Tá legal’. Ele disse: ‘se você não quiser cumprir o aviso, eu te libero’. Ih, rapaz, coisa boa. Me levaram para fazer o acerto no sindicato, estava tudo certo, e eu saí. Não consegui entender a atitude deles. Aproveitei o ensejo para poder ir embora. Não estava mais aguentando”, finalizou Nelinho.

Outros trabalhos de Nelinho após se aposentar

Nelinho encerrou a carreira como jogador em 1988, aos 37 anos. O jogo de despedida foi em grande estilo. No Mineirão, ele marcou dois gols de falta no duelo entre o combinado de Atlético e Cruzeiro contra a Seleção Mineira. 

Nessa época, ele já era deputado estadual, cargo no qual permaneceu por quatro anos. Depois, trabalhou por três anos como secretário-adjunto de esportes e um ano na gestão do Mineirão na extinta Ademg.

Ele voltaria ao futebol em 1993, quando treinou o Atlético por 17 jogos. “Foi uma experiência boa para saber que era horrível. Não seria nunca. No Atlético fui mais respeitado, mas peguei um time muito fraco, em reformulação. Foi só Campeonato Mineiro.”

No Cruzeiro, a passagem foi ainda mais rápida no ano seguinte. Com o ex-lateral, o time celeste venceu quatro partidas e empatou duas, mas o extracampo acabou pesando, e Nelinho caiu precocemente. 

“E o Cruzeiro foi o início, poucas partidas, nós nem perdemos. Num jogo contra o Valeriodoce, em que estávamos perdendo por 2 a 0, os caras começaram a brigar comigo. “Vem um menino lá atrás: ‘Ô Nelinho burro!’. Pelo amor de Deus. Aturar isso? Não tinha estômago. Por que esse cara está me chamando de burro? Não gostei”.

Além da falta de paciência com os torcedores, Nelinho entende que a saída do Cruzeiro foi muito influenciada por Osvaldo Faria, renomado cronista esportivo da Rádio Itatiaia. 

“Nisso, o Osvaldo Faria começou a incentivar o presidente a me trocar. Ele tinha brigado comigo, pois falou mal de mim. Nessa altura, eu já tinha sido trocado. Fui para o intervalo, mas não sabia. Coloquei o Careca, que estava na reserva, e viramos o jogo para 4 a 2. Daí me mandaram embora. Já tinham contratado o Procópio”.

“A imprensa achou feio, como se o Osvaldo Faria estivesse mandando no clube. E na segunda-feira fui para ser mandado embora. Eles voltaram atrás em relação ao Procópio, mas contrataram o Ênio Andrade. Ele foi campeão invicto (no Mineiro). Nem precisava de treinador. Ronaldo Fenômeno, Luizinho…”.

Nelinho

Entre as breves experiências como técnico e a ida para a Globo, Nelinho atuou como comentarista no programa “EM Esportes”, dos Diários Associados, transmitido pela TV Horizonte no início dos anos 2000. 

Após a saída da Globo, Nelinho focou apenas em administrar a academia que tem em Belo Horizonte. Agora, ele já pensa em vender o local para ter uma vida mais tranquila.

“Já estou com 75 anos, cansado, querendo aproveitar a vida, o que me resta. Então comecei a alugar algumas partes da academia, a musculação eu já saí. Eu permaneço nas áreas de natação, hidroginástica, lutas e balé clássico”.

Nelinho é ídolo de Cruzeiro e Atlético

Nelinho defendeu o Cruzeiro por nove anos. Ele fez 105 gols em 411 jogos e ajudou o time a conquistar quatro Campeonatos Mineiros (1973, 1974, 1975 e 1977) e a Copa Libertadores de 1976.

Já pelo Atlético, o ex-lateral marcou 52 gols em 274 jogos. Ao longo da trajetória, ajudou o Galo a conquistar os Mineiros de 1983, 1985 e 1986. Além disso, fez parte dos times que foram semifinalistas do Campeonato Brasileiro em 1984, 1985 e 1986.

Assista à entrevista com Nelinho

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