Nesta sexta-feira (5/9), o Mineirão completa 60 anos. E o significado do estádio vai além de um local onde são realizadas partidas de futebol. O Gigante da Pampulha carrega diversos traços culturais que ultrapassam a emoção do futebol.
A culinária é parte importante da experiência de quem frequenta o Mineirão compõe a memória afetiva dos torcedores. Ao contar os detalhes desse lugar tão simbólico para Belo Horizonte, o famoso tropeiro não pode ficar de fora.
A comida típica de Minas Gerais foi o alimento dos viajantes, conhecidos como tropeiros, ao longo do século XVIII. O prato recebeu nome semelhante ao desses homens que atravessavam regiões de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, para abastecer as populações ao levar mantimentos e diferentes produtos.
Em comemoração ao aniversário do estádio, a equipe do No Ataque esteve no Mineirão para conversar com os funcionários do Ancho Catering. São eles os responsáveis por metade dos bares do estádio e servem o famoso tropeiro, além de outros alimentos e bebidas. O Tropeiro Real, da conhecida Dona Sônia – que morreu neste ano – fornece alimentos para a outra metade.
O Ancho começou a trabalhar no Mineirão em 2018 e, desde então, assumiu a responsabilidade de preparar e vender essa comida tão importante. O tropeiro servido é composto por arroz, feijão tropeiro, couve, ovo e bife de porco.
“Eu costumo falar que não tem como pensar em tropeiro sem pensar em Mineirão, e não tem como falar em Mineirão sem falar em tropeiro. É muito gratificante trabalhar aqui e é uma responsabilidade muito grande que a gente abraça com muito amor”, disse Wilker Júnior Machado Botelho, de 40 anos, um dos proprietários do Ancho.
Segundo o empresário, entre 2 mil e 2,5 mil tropeiros são vendidos por jogo – cerca de 1,5 mil quilos de alimentos. Em casos especiais, como clássicos entre Atlético e Cruzeiro, o número pode chegar a 4 mil unidades vendidas.
“O tropeiro do Mineirão é sucesso. Desde criança, eu venho aqui, e não pode faltar. Ele vem cheio de carne, bem preparado, com um tempero maravilhoso, vem do jeito que a gente gosta, é coisa de mineiro”, elogiou o motorista Alexandre Luiz Vieira, de 51 anos.
O tropeiro do Bar-13
O tradicional Bar-13, como era apelidado o bar que instaurou o tropeiro no Mineirão, faz parte dessa história. Tudo começou com a ideia de colocar o tropeiro à venda para funcionários e torcedores, nos anos 1970.
A novidade foi um completo sucesso e perdura até os dias de hoje.
A moda do tropeiro se espalhou por todos os bares naquela época. A família de Eliane Assis de Campos, 58, atual dona do bar, permaneceu no Mineirão por 34 anos. Nos melhores dias, a venda chegava a 3,5 mil tropeiros por jogo.
“Eu falo que a gente aconchegava todo mundo e nós tínhamos clientes que tinham até caderneta lá. Às vezes, o time perdia, e ele voltava depois de um ano. E tinha aquela coisa de você conversar com o cliente, de saber o nome do cliente. Isso era muito gostoso”, contou Eliane.
“Eu tenho toda a minha memória de infância no Mineirão por causa da minha família. Conheci meu ex-marido, que já faleceu, dentro do Mineirão. Meus filhos foram criados no estádio também. Isso é muito gratificante, é uma memória afetiva. A comida é uma memória afetiva também, e o tropeiro é exatamente isso”, finalizou.
Atualmente, o Bar-13 está em atividade na Avenida Geraldo Olímpio Mourão Filho, nº 190, no Bairro Planalto, em Belo Horizonte.