Principal casa do futebol em Minas Gerais, o Mineirão é também parte da vida de todo jornalista esportivo. Em muitos casos, essa relação começa muito antes do início da escolha profissional – ou acaba por influenciá-la. Para celebrar os 60 anos da icônica arena – que serão completados nesta sexta-feira (5/9) -, o time do No Ataque abriu o baú de memórias, entrou em campo (alguns, literalmente) e listou os momentos mais marcantes vividos no Gigante da Pampulha.
‘Emoção de estar no gigante da Pampulha’
- Beatriz Marques, 20 anos, estagiária
O futebol faz parte da minha vida desde muito cedo. Seja praticando com meus primos, assistindo às partidas na TV ao lado do meu pai ou vivendo a emoção do esporte no Mineirão.
Minha primeira visita ao estádio ocorreu aos dois anos de idade. Embora eu ainda não soubesse me comunicar muito bem, pude sentir a emoção de estar no Gigante da Pampulha, mesmo tão pequena.
Ligada à minha paixão pelo esporte, decidi seguir a carreira de jornalista esportiva. Desde então, alimentei o sonho de trabalhar no Mineirão.
No sábado passado (30/8), tive a oportunidade de realizar um sonho de infância: fiz uma reportagem sobre o famoso tropeiro, em comemoração aos 60 anos desse local, que tem uma importância imensa na minha vida. Levarei essa experiência comigo para sempre.
‘Presente do destino’
- Izabela Baeta, 24 anos, repórter
Nasci em uma família apaixonada por futebol, então minhas lembranças no Mineirão começaram muito cedo, desde os quatro anos de idade, na arquibancada.
São muitos momentos felizes e marcantes vividos, mas guardo com muito carinho a minha primeira vez no estádio como imprensa.
Ainda como estagiária, em 2022, trabalhei na tribuna no clássico entre Atlético e Cruzeiro, pela final do Campeonato Mineiro Feminino. Para mim, como entusiasta do futebol de mulheres, foi um presente do destino.
Lembro-me de cada detalhe e de como foi desafiador escrever uma crônica ao vivo. Tenho muito orgulho de ter estado presente em um jogo tão simbólico e decisivo!
‘Atmosfera de outro mundo’
- Jéssica Mayara, 27 anos, repórter plantonista
O Mineirão é um daqueles lugares especiais e aconchegantes, feito casa. A primeira vez que pisei no Gigante foi literalmente de arrepiar e lágrima escorrer. A atmosfera é de outro mundo.
Em tantos anos, foram inúmeras histórias, as quais contarei aos meus filhos e netos. Vivi jogos marcantes, aprendizados gigantes e shows inesquecíveis.
Vi momentos memoráveis, Fábio ser herói, Messi em campo e o estádio inteiro dançar ao som de Bruno Mars. Impossível descrever a alegria que é fazer parte da história desse símbolo mineiro.
‘O oásis que se tornou segundo lar’
- João Victor Pena, 24 anos, repórter
Minha memória mais marcante do Mineirão é a festa da imprensa de dezembro de 2021, quando todos os colegas e amigos que conhecia apenas por telas de se tornaram de carne e osso após dois difíceis anos de pandemia.
Crescer longe de Belo Horizonte, no interior de Minas, tornou o Mineirão uma experiência fora da minha realidade durante a maior parte da minha vida.
Só aos 20, já após a pandemia de COVID-19, que o sonho ganhou vida, e o oásis se tornou meu segundo lar.
O Gigante de concreto da Pampulha, que tantas vezes serviu como escritório, agora é morada de sentimentos.
‘Desabafo em meio aos tempos sombrios de pandemia’
- João Vitor Marques, 29 anos, subeditor
O grito entalado por meio século enfim podia sair do peito, ainda que com a cautela usual de quem se acostumou a sofrer.
Naquele 28 de novembro de 2021, o Mineirão abarrotado – não tanto quanto em outros tempos, claro – balançava com o canto pelo título brasileiro que ainda não havia chegado matematicamente, mas, de alguma maneira, já era real depois da vitória do Atlético por 2 a 1 sobre o Fluminense.
Das tribunas de imprensa, para onde quer que eu olhasse, via pessoas chorando. Adultos barbados, garotinhas, idosos que carregavam um peso desde a histórica cabeçada de Dadá em 1971…
Uma catarse que só parecia ser possível ali: num estádio de futebol lotado com mais 60 mil pessoas em êxtase, uma espécie de desabafo em meio aos tempos sombrios de pandemia.
O extremo oposto do que aquelas arquibancadas haviam vivido exatamente dois meses antes: o silêncio incrédulo ao ver Veron e Dudu combinarem para o gol que adiou o sonho do bi da América.
‘Marcas que vão muito além do futebol’
- Kelen Cristina, 50 anos, subeditora e colunista
O Mineirão faz parte da minha vida muito antes do jornalismo esportivo. As memórias afetivas são, inclusive, tão (ou mais) fortes que as profissionais. Uma aliança que começou ainda no antigo estádio e que, por isso, me faz tão saudosista em relação àquele “Gigante”. Era quase o meu quintal de casa.
Décadas antes de a jornalista “entrar em campo”, o futebol já era paixão. As brincadeiras em casa ficavam de lado assim que meu pai tirava o carro da garagem para ir ao estádio. Não foram poucas as vezes em que o esperei, sozinha, em um cantinho perto da bilheteria enquanto ele se espremia na “fila desorganizada” para comprar os ingressos. Tinha 11, 12 anos, e estava tudo certo – não tinha medo de nada. No meio dos torcedores, eu me sentia em casa.
Anos depois, vieram as coberturas esportivas. Pelo meu olhar e relato, nas páginas do Estado de Minas, torcedores reviveram suas maiores alegrias, mas também remoeram grandes tristezas de seus times.
Àquela repórter, que escreveu suas primeiras linhas no jornal em 1998 e que 20 anos depois foi alçada à condição de colunista (como titular da Coluna Tiro Livre), foram destacadas missões que mais soavam como realização de sonho. A Copa de 2014 foi o capítulo mais especial. A satisfação de pertencer àquele mundo e a certeza de que a parceria com o Mineirão se fortaleceu com o futebol, mas deixou marcas que vão muito além dele.
‘Emoção ao subir as escadas de acesso ao gramado’
- Lucas Bretas, 27 anos, repórter
Certamente, um dos momentos mais marcantes que vivi no Mineirão foi a oportunidade de atuar no “Dérbi da Imprensa”, em dezembro de 2021. Ainda vivia o primeiro ano como estagiário no Estado de Minas e tive a chance de realizar esse verdadeiro sonho.
Ficará eternamente na minha memória a emoção que senti ao subir as escadas amarelas de acesso ao gramado.
Olhar para aquelas arquibancadas, ainda que vazias, e praticar o esporte que conduziu minha trajetória ao jornalismo esportivo no palco mais importante do futebol mineiro certamente é uma experiência pra uma vida inteira.
Sobre o desempenho dentro das quatro linhas, é melhor não comentar (risos).
Obrigado ao Gigante da Pampulha por ter proporcionado aos mineiros tantas grandes vivências ao longo destes 60 anos. Que venham muitos outros mais!
‘Realização de um sonho que jamais tive’
- Pedro Bueno, 24 anos, repórter
Por ter nascido no interior de Minas Gerais, demorei muito para visitar o Mineirão. Fiquei por duas décadas assistindo apenas pela televisão. Só fui entrar no estádio pela primeira vez com 20 anos.
Felizmente, dois anos depois, já estava trabalhando nas tribunas do Gigante. Só que um sonho que jamais tive foi realizado aos 23.
Pela falta de qualidade com a bola nos pés, nunca imaginei como seria jogar em um estádio como o Mineirão. Mas a oportunidade, graças ao “Dérbi da Imprensa”, surgiu e aproveitei para usar o vestiário, subir as escadas, ouvir o hino e se emocionar, obviamente.
Olhar aquela estrutura ao redor enquanto recebia uma bola foi incrível. Poder atuar no Mineirão é uma memória que vou recordar até o fim da minha vida.
‘De Igarapé ao Gigante da Pampulha no Fusquinha verde do Arílson’
- Rafael Arruda, 32 anos, subeditor
Para quem é do interior, ir ao Mineirão enquanto garoto era coisa “de outro mundo”. Tive a primeira oportunidade quando estava perto de completar 8 anos, em 28 de outubro de 2000. Fui levado pelo meu padrinho, Carlos Alberto, e um amigo dele, o Arílson, para assistir à rodada dupla na Copa João Havelange. Primeiro, vimos o América perder para o Vitória por 3 a 2. Depois, o Cruzeiro goleou a Portuguesa por 5 a 1.
Percorremos o trajeto de 50 quilômetros de Igarapé ao Gigante da Pampulha no Fusquinha verde do Arílson. Eu e mais três crianças (um primo e dois colegas) nos “esprememos” no banco de trás. A orientação era “baixar a cabeça” toda vez que tinha alguma blitz ou viatura da Polícia, para não correr o risco de levar multas de trânsito.
Chegando ao estádio, nossa entrada foi liberada, pois menores de 12 anos não pagavam. Comemos sanduíche de pernil e espetinho de boi, bebemos refrigerante, chupamos picolé e assistimos a dois jogos do Campeonato Brasileiro! Um programa divertido e especial para aquela tarde de sábado.
Mesmo com vários atrativos (o Cruzeiro brigava pela liderança do Brasileirão), o Mineirão recebeu apenas 10 mil espectadores. Como não havia tantas alternativas de transporte na época, muitas pessoas preferiam frequentar os estádios somente em partidas decisivas. Hoje, a cultura é totalmente diferente: jogos de meio de campeonato contam com mais de 30 mil torcedores e geram rendas milionárias aos clubes!
Entrei para o jornalismo esportivo em 2012, quando o Mineirão estava em fase final de reforma visando à Copa do Mundo de 2014. E para a minha sorte (ou azar?), permaneci na redação durante a fatídica derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1, na semifinal do Mundial.
Das coberturas marcantes no estádio, destaco a do título do Cruzeiro na Copa do Brasil de 2017 (vitória nos pênaltis sobre o Flamengo) e a de Brasil x Argentina nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018 (triunfo brasileiro por 3 a 0, em 10 de novembro de 2016). Ambos os eventos atraíram os olhares de veículos e emissoras de dentro e fora do país, bem como envolveram elevado número de profissionais na produção de conteúdos.
‘Um marco na minha incipiente carreira de jornalista esportivo’
- Rafael Cyrne, 22 anos, repórter
Aos sete anos, na despedida antes da reforma para a Copa do Mundo de 2014, fui ao Mineirão pela primeira vez. Foi também a minha estreia em um estádio de futebol. Depois da reabertura, foram inúmeras idas ao Gigante da Pampulha, seja para torcer pelo meu time de coração, ver a Seleção Brasileira, curtir a esplanada ou assistir a shows de artistas que gosto.
O Mineirão é parte intrínseca da minha infância, da minha adolescência e da minha – ainda curta – vida adulta, na qual ele também ganhou significado profissional. Em julho de 2023, foi o cenário da minha primeira cobertura esportiva fora de uma redação. Recém-contratado como estagiário, aos 20 anos, em julho de 2023, fui incumbido de acompanhar a transmissão de Brasil x Jamaica no estádio, pela terceira rodada da fase de grupos da Copa do Mundo Feminina de Futebol.
Jogadoras das categorias de base de Atlético e América estavam no evento, que também contou com os pais de Duda Sampaio, meio-campista mineira da Seleção Brasileira. Acompanhei, de perto, a frustração do público pela eliminação precoce do Brasil e tive que lidar com o contraste entre a minha decepção pessoal pelo resultado e a necessidade de entregar um trabalho de qualidade.
Aquele momento foi um marco na minha incipiente carreira de jornalista esportivo. Curiosamente, quase dois anos depois, em maio de 2025, já contratado como repórter e na reta final da faculdade, tive outra cobertura marcante no Mineirão sobre a Copa do Mundo Feminina. Mas, diferentemente da primeira, a notícia era animadora: o estádio foi anunciado como um dos palcos do primeiro Mundial de mulheres da história do Brasil, em 2027.
‘Visão privilegiada para trabalhar’
- Samuel Resende, 25 anos, repórter
Minha primeira vez a trabalho no Mineirão foi em 16 de junho de 2022. Apesar de ser setorista do América na época, fui cobrir Cruzeiro x Ponte Preta, pela 13ª rodada do Campeonato Brasileiro. O editor me escalou porque era feriado e para me dar experiência na cobertura in loco.
Obviamente já havia frequentado o estádio como torcedor, mas dessa vez era completamente diferente. Fui seguindo meu colega na época, Luiz Henrique Campos, que me guiou até a tribuna de imprensa. E que visão! O Mineirão tem essa vantagem: quem trabalha em jogos tem um ótimo lugar para analisar a partida.
Mas nem tudo são flores. O cabo da rede de internet não encaixou no notebook. Na hora soube que precisava de um adaptador, algo impossível naquele momento. Fiquei nervoso, mas consegui contornar a situação e escrevi matérias pelo celular mesmo e, ao fim, só pude agradecer pela oportunidade. Apesar do imprevisto, foi uma experiência que vou levar para a vida toda.
‘Histórias emocionantes, transformadoras e simbólicas’
- Sofia Cunha, 24 anos, repórter
Para um amante de futebol, a vida longe da capital torna o Mineirão ainda mais sagrado. Ciente do meu gosto pela modalidade, minha mãe fez questão de percorrer alguns quilômetros para me levar ao estádio em 2014.
A primeira ida, claro, é inesquecível. Naquele momento, o apelido ‘Gigante’ ganhou sentido.
Posteriormente, o sonho de fazer parte do esporte de alguma forma se tornou realidade. Curiosamente ou não, estreei na tribuna de imprensa 10 anos depois, em 22 de agosto de 2024.
Cobri a vitória do Cruzeiro nos pênaltis sobre o Boca Juniors, pelas oitavas de final da Sul-Americana. A Raposa voltava a percorrer grandes caminhos, enquanto eu, ainda em formação, iniciava o meu no jornalismo esportivo.
Que o principal templo do futebol mineiro continue por anos sendo o palco de histórias emocionantes, transformadoras e simbólicas – quem sabe em 2027 o título inédito da Seleção Brasileira no Mundial não seja encaminhado lá?
‘A decepção de um Mineirão lotado’
- Thiago Madureira, 36 anos, repórter
São tantos os eventos esportivos e culturais que marcaram os 60 anos do Mineirão, talvez nenhum outro tão marcante quanto a maior goleada sofrida pela Seleção Brasileira: 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo de 2014.
Estava na tribuna de imprensa trabalhando e vi de perto a decepção daquele estádio lotado.
Pra não dizer que não falei das flores, outro momento inesquecível foi a vitória brasileira por 3 a 1 sobre a Argentina, com três gols de Ronaldo, em 2004. Adolescente, vi de perto o talento do Fenômeno, maior craque da nossa geração, pela primeira vez.
‘Alegria, saudade, conexão e muito amor’
- Vitor de Araújo, 27 anos, estagiário
Ao longo de toda a minha adolescência, meu pai morou em Fortaleza, então tínhamos poucos encontros.
Algo que sempre nos conectou foi a paixão pelo futebol, minhas primeiras lembranças com ele são no Mineirão, mas ainda não tínhamos tido a oportunidade de assistir a um clássico (Atlético x Cruzeiro) juntos.
Por coincidência, naquele ano o clássico do Campeonato Brasileiro caiu no dia do aniversário dele, que estaria em Belo Horizonte.
De surpresa comprei os ingressos e estrearíamos no clássico juntos, no dia em que ele completaria mais um ano de vida.
O nosso time saiu perdendo, mas no fim do segundo tempo empatou. Naquele momento nos abraçamos, como nunca antes, em um misto de alegria, saudade, conexão e muito amor.
Dali em diante pouco importava o resultado, a possível vitória ou qualquer coisa. Somente o amor por meu pai, que se externou da forma mais bonita e genuína possível, graças a um encontro ocorrido no Gigante da Pampulha.