Entrega física e vontade não faltaram! Longos 16 anos se passaram, e a Seleção Brasileira Feminina de Futebol, enfim, está garantida em uma final de Olimpíada. A equipe nacional fez diferente de todos os jogos, superou a favoritíssima Espanha, atual campeã do mundo, e se classificou à decisão, contra os Estados Unidos.
Irene Paredes (contra), Gabi Portilho, Adriana e Kerolin fizeram os gols do Brasil na vitória por 4 a 2, nesta terça-feira (6/8), no Estádio Vélodrome, em Marselha, pela semifinal do torneio. Paralluelo descontou para as espanholas.
O triunfo sobre a Espanha talvez não fosse considerado nem pelos torcedores mais otimistas. Não pela incapacidade da Seleção Brasileira, e sim pela campanha ao longo do campeonato. O fato de o melhor time do mundo estar posicionado do outro lado do campo também contribuiu para o pessimismo geral.
O sofrido trajeto
Para chegar à semifinal, o Brasil sofreu. Na etapa classificatória, derrotou a Nigéria por 1 a 0 – e contou com plena atuação de Lorena para somar os três pontos. No jogo seguinte, perdeu para o Japão por 2 a 1 – virada quase traumática, já nos acréscimos do segundo tempo, quando parecia não ter tempo para mais nada. Depois, o favoritismo da Espanha se confirmou, e a Seleção Brasileira saiu de campo derrotada mais uma vez, por 2 a 0.
No fim, precisou da sorte para avançar ao mata-mata na oitava colocação geral, a última vaga. Ali, sabia que enfrentaria pedreira nas quartas de final. E veio a França, anfitriã e dona da melhor campanha. Sobrou raça, estrelismo de Lorena e espírito de equipe para, aos 36 minutos da etapa final, Gabi Portilho escapar em uma das poucas chances do Brasil e fazer o único gol da partida.
Pelo chaveamento, a Seleção Brasileira sabia que reencontraria a Espanha. Apesar das probabilidades, o time, embalado, acreditou que era possível. E fez.
O técnico Arthur Elias também foi desafiado. Não contou com Marta, suspensa, Tamires e Antonia, ambas fora da Olimpíada por lesão. Ele promoveu algumas mudanças em relação ao jogo anterior. A princípio, sacou Adriana, Duda Sampaio, Ana Vitória e Gabi Nunes e deu espaço a Angelina, Ludmilla, Yaya e Priscila.
Para Marta, a oportunidade de ouro
Quando recebeu o cartão vermelho, justamente na partida contra a Espanha, pela fase de grupos, Marta deixou o campo aos prantos. A indefinição ecoava na mente da camisa 10. Se o Brasil não avançasse, ela, aos 38 anos, daria adeus à última Olimpíada da carreira de forma traumática.
Mas a Seleção Brasileira sobreviveu, e Marta respirou. Terá, agora, a chance de conquistar o inédito ouro para a equipe nacional e se despedir da forma mais nobre possível após seis edições. A Rainha integrou os times que conquistaram a prata em Atenas 2004 e Pequim 2008.
Existe gol sem finalizar?
A resposta é sim. A Seleção Brasileira mudou a postura em relação à derrota por 2 a 0 para a Espanha, pela terceira rodada da fase de grupos. Afinal, eram duas opções: fazer diferente ou se despedir do torneio. As comandadas por Arthur Elias entraram em campo mais agressivas na marcação, e a pressão deu resultado: sem nem finalizar, o time balançou a rede.
Aos seis minutos do primeiro tempo, a atacante Gabi Portilho apertou a saída de bola das adversárias. A goleira Cata Coll, abafada, não tomou a melhor decisão. Na tentativa do chutão, acertou as costas da defensora Paredes, e a bola morreu no fundo da rede espanhola: 1 a 0.
A Seleção da Espanha parece ter sentido o golpe. Para se recuperar do prejuízo, buscou o ataque, mas se comprometeu defensivamente. O Brasil, então, abusou, positivamente, de passes em profundidade e criou pelo menos três boas oportunidades na sequência, principalmente com Gabi Portilho e Ludmilla, mas não aproveitou.
A pouco menos de 10 minutos do fim da parcial, Priscilla, que viajou a Paris na condição de suplente e foi relacionada para a partida na vaga da zagueira Rafaelle, desperdiçou a principal chance do Brasil no jogo até então. A atacante recebeu lançamento de Yaya, ganhou de Ona no corpo e na corrida e, cara a cara com a goleira, chutou rasteiro à direita do gol. Como é de senso comum no mundo do futebol, em jogos decisivos como este, desperdícios custam caro. Dessa vez, a conta não veio.
No fim da parcial, a Espanha trocou mais passes, mas, barrada pela marcação brasileira, não assustou. A Seleção Brasileira, em mais um contragolpe, apareceu no campo de ataque. Dessa vez, de forma eficiente. A lateral-esquerda Yasmin, mais utilizada, a princípio, para fechar espaço, desceu com a bola na beirada do campo e cruzou para Gabi Portilho. Livre de marcação e bem posicionada, a atacante precisou dar um toque na bola com o pé direito para ampliar o marcador: 2 a 0.
Pela primeira vez em todos os quatro jogos do Brasil na Olimpíada de Paris, a goleira Lorena não passou sufoco e deixou o campo para o intervalo um pouco distante do status de ‘salvadora da pátria’. A principal aparição foi em um chute de Hermoso, ainda aos 29 minutos do primeiro tempo.
Pode comemorar! A classificação está garantida
A treinadora Montse Tomé tentou dar outro ar à defesa e substituiu Olga Carmona, duramente exigida por Gabi Portilho no primeiro tempo, por Oihane Hernandez. Depois, quem saiu foi Paredes, autora do primeiro gol da Seleção Brasileira, para a entrada de Laia Aleixandri.
Nos minutos iniciais, nada que a técnica propôs surtiu efeito – diferentemente do restante da parcial. Num primeiro momento, as defensoras espanholas bateram cabeça, e Gabi Portilho, mais uma vez em cima, quase aproveitou. Poucos minutos depois, Ludmilla soltou a bomba, e Cata Coll mandou para escanteio. Na cobrança, Jheniffer, livre de marcação, se esticou, mas não conseguiu encontrar a bola para balançar a rede.
Arthur Elias também ‘entrou em jogo’. Substituiu, por exemplo, Ludmilla, responsável por grandes chegadas da Seleção Brasileira, e Angelina, importante na marcação. Entraram na equipe Duda Sampaio, meio-campista ofensiva, e Adriana.
O jogo ganhou dinamismo. Até porque a atual campeã do mundo não deixaria a vaga para a final escapar de qualquer forma. Apesar da pressão espanhola, o Brasil conseguiu ampliar. Aos 26 minutos, nasceu a jogada. Em contra-ataque, Priscila disparou na lateral do campo e encontrou Adriana. A camisa 9 encheu o pé, mas acertou a volta. Gabi Portilho aproveitou o rebote e serviu Adriana novamente. Dessa vez, ela não deixou passar. Cabeceou para marcar terceiro gol da Seleção Brasileira: 3 a 0.
Naquela altura, restava administrar o placar. O Brasil se fechou defensivamente. Após cobrança de escanteio de Alexia Putellas, no bate-rebate, Paralluelo cabeceou para trás e descontou: 3 a 1. A ansiedade tomou conta dos brasileiros, mas não demorou a passar. Nos acréscimos, Kerolin teve sangue frio. Sozinha com a goleira, deu toque preciso entre as pernas: 4 a 1.
Os 15 minutos acrescidos pela árbitra Rebecca Welch, da Inglaterra, demoraram a passar. Lorena foi exigida algumas vezes. Na sequência, em mais um lance confuso na área, também oriundo de cobrança de escanteio, Paralluelo marcou o segundo da Espanha: 4 a 2. Aos 62 minutos, enfim, o som do apito. Pode comemorar, torcedor brasileiro! A classificação à final está garantida!
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Decisão dos Jogos Olímpicos
Na final, a Seleção Brasileira vai encarar os Estados Unidos. O jogo está marcado para este sábado (10/8), às 12h.
Ficha técnica
Espanha
Cata Coll; Olga Carmona (Oihane Hernandez), Laia Codina, Irene Paredes (Laia Aleixandri), Ona Batlle; Teresa Abelleira (Patri Guijarrro), Aitana Bonmati, Jennifer Hermoso; Mariona, Salma Paralluelo, Eva Navarro (Del Castillo). Técnica: Montse Tomé
Brasil
Lorena; Thaís Ferreira, Lauren (Kerolin) e Tarciane; Yasmim, Yaya, Angelina (Duda Sampaio), Ludmilla (Adriana); Jheniffer, Priscila (Gabi Nunes) e Gabi Portilho. Técnico: Arthur Elias
- Gols: Paredes (contra, aos 6′ do 1ºT), Gabi Portilho (aos 49′ do 1ºT), Adriana (aos 26′ do 2ºT), Paralluelo (aos 40′ do 2ºT e aos 57′ do 2ºT) e Kerolin (aos 46′ do 2ºT)
- Cartões amarelos: Gabi Portilho, Cata Coll, Adriana, Teresa Abelleira
- Motivo: semifinal da Olimpíada de Paris 2024
- Local: Estádio Vélodrome, em Marselha (França)
- Data: 6 de agosto de 2024 (terça-feira)