Natural de Atalaia (AL), Mário Jorge Lobo Zagallo se mudou para o Rio de Janeiro ainda bebê e construiu a maior parte da carreira futebolística na capital fluminense. No entanto, o ídolo – que morreu nessa sexta-feira (6/1) aos 92 anos – tem ligações especiais com Minas Gerais. Mais especificamente com lendas de Atlético e Cruzeiro.
Chegada à Seleção Brasileira
Tudo começou décadas atrás. Aposentado dos gramados, Zagallo buscava espaço entre os principais técnicos do Brasil após ser bicampeão mundial como ponta-esquerda em 1958 e 1962. Foi quando, às vésperas da Copa do Mundo de 1970, surgiu a grande oportunidade.
O Brasil vivia sob a cruel pressão da ditadura militar. E as imposições se faziam presentes com rigor especial no futebol, uma das armas propagandistas do regime.
Irritado com o técnico João Saldanha – militante do então Partido Comunista Brasileiro -, o general Emílio Garrastazu Médici impôs a mudança no comando meses antes da viagem ao México para o Mundial. E o nome para assumir o cargo foi o de Zagallo.
Novidade no ataque: chance para ídolo do Atlético
O primeiro ato do novo técnico da Seleção Brasileira foi convocar Dario, o Dadá Maravilha, preterido por Saldanha. Médici era fã inconteste do centroavante do Atlético, um dos grandes goleadores do país à época.
No ano anterior, Dadá tinha marcado nada menos que 40 gols em 43 partidas com a camisa alvinegra. De ‘quebra’, chamou a atenção ao fazer o da vitória do Galo por 2 a 1 sobre a Seleção Brasileira em amistoso no Mineirão, também em 1969.
“Vou ser sincero: eu estava indo para o Mineirão igual um boi quando vai para um matadouro para morrer”, disse, em entrevista em 2019. Ele garante ter jogado melhor que Pelé naquele dia: “Eu estava impossível”.
Em meio àquela comoção e pressão, Dario foi convocado para a Copa do Mundo de 1970. Não jogou, mas integrou o estelar elenco que faturou o tricampeonato e se consagrou como uma das melhores seleções da história.
Tostão vira peça-chave para título
Porém, antes da consagração, Zagallo chegou ao México com muitas dúvidas sobre o time titular. Talento não faltava. Aliás, sobrava. Na convocação, estavam cinco típicos ‘camisas 10’, armadores clássicos que eram os craques dos times em que atuavam.
Mas como encaixá-los na mesma equipe? Com uma formação tão ofensiva, a defesa não ficaria sobrecarregada?
Bem, o “Velho Lobo” deu um jeito. Para isso, recorreu à genialidade de um dos maiores ídolos da história do Cruzeiro: Tostão.
O craque celeste foi deslocado para a posição de centroavante. A escolha por um jogador leve e de mobilidade para o setor causou estranhamento no começo, mas deu muito certo.
Com dinâmica, movimentação e muita inteligência, Tostão foi peça fundamental na conquista do tri. Simulou uma espécie de ‘falso 9’ quase 40 anos antes de Pep Guardiola propor algo parecido para Messi no Barcelona.
Com o avanço de Tostão ao ataque, Zagallo, então, conseguiu escalar os outros quatro armadores: Rivellino, Jairzinho, Gérson e Pelé, que efetivamente vestiu a ’10’.
Tostão, contudo, não foi o único cruzeirense naquele esquadrão. Os zagueiros Piazza (titular) e Fontana (reserva) também foram ao Mundial e conquistaram a taça.
Ao lado do Botafogo (Jairzinho, Roberto e Paulo Cezar), o Cruzeiro foi o segundo time com mais representantes naquela seleção. À frente, só o Santos, com cinco convocados: Carlos Alberto, Clodoaldo, Pelé, Joel Camargo e Edu.
Morte de Zagallo
Zagallo morreu aos 92 anos nessa sexta-feira (5/1), no Rio de Janeiro, por falência múltipla de órgãos. A morte foi anunciada publicamente por meio de uma publicação nas redes sociais do ídolo, neste sábado.
Mario Jorge Lobo Zagallo nasceu em Atalaia, Alagoas, no dia 9 de agosto de 1931. Mudou-se para o Rio de Janeiro quando tinha apenas oito meses de idade.
Apaixonou-se por futebol e se tornou uma lenda. Foi tetracampeão da Copa do Mundo: conquistou o título duas vezes como jogador (1958 e 1962), uma como técnico (1970) e uma como coordenador (1994).
Como jogador, atuou por América-RJ, Flamengo e Botafogo. Depois, já como treinador, dirigiu os quatro grandes do Rio de Janeiro, a Seleção Brasileira e outras equipes do futebol nacional e internacional.
Comunicado da morte de Zagallo
“É com enorme pesar que informamos o falecimento de nosso eterno tetracampeão mundial Mario Jorge Lobo Zagallo.
Um pai devotado, avô amoroso, sogro carinhoso, amigo fiel, profissional vitorioso e um grande ser humano. Ídolo gigante. Um patriota que nos deixa um legado de grandes conquistas.
Agradecemos a Deus pelo tempo que pudemos conviver com você e pedimos ao Pai que encontremos conforto nas boas lembranças e no grande exemplo que você nos deixa.”