Co-fundador da ESPN Brasil e diretor da emissora de 1995 a 2011, José Trajano disparou contra o afastamento os jornalistas esportivos que participaram da edição dessa segunda-feira (7/4) do Linha de Passe. O programa debateu as denúncias publicadas pela revista Piauí sobre irregularidades na gestão de Ednaldo Rodrigues na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Os profissionais afastados foram Dimas Coppede (editor-chefe), William Tavares (apresentador), Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida e Victor Birner (comentaristas).
Trajano opinou que a ESPN deveria ter parabenizado os jornalistas pela “excelente” edição do programa e disse que, “ao invés disso, optou por puní-los”.
O jornalista e escritor carioca de 78 anos afirmou que a decisão foi “absurda” e falou em censura e liberdade de opinião: “Consta que eles devem voltar ao trabalho rapidamente, o que não apaga a absurda decisão de censurá-los, impedindo-os de exercer a liberdade de dar opiniões e fazer críticas”.
Leia o texto completo de Trajano
“Informação era o nosso esporte!!!
A ESPN ao invés de parabenizar os cinco jornalistas e mais o editor chefe por terem participado do excelente Linha de Passe da última 2ª feira, que repercutiu a valiosa matéria de Allan de Abreu, da revista Piauí , sobre a farra do boi da administração Ednaldo, optou por puni-los com uma suspensão temporária.
Consta que eles devem voltar ao trabalho rapidamente, o que não apaga a absurda decisão de censurá-los , impedindo-os de exercerem a liberdade de dar opiniões e fazer críticas.
A emissora não se manifestou, mas o que se diz é que a ESPN acabou de fechar a transmissão da série B, e a CBF deu o aval para isso, mesmo sem assinar o contrato.
Não querendo se indispor com os caras da CBF, a ESPN optou pela lei da mordaça, pela censura, pela punição aos que fizeram jornalismo de verdade, se pondo de joelhos diante dos “ poderosos.
Minha solidariedade aos companheiros de profissão William Tavares, Paulo Calçade, Gian Oddi, Pedro Ivo Almeida, Vitor Birner e Dimas Coppede.”
Entenda o que aconteceu
Conforme apurou o No Ataque, nesta quarta-feira (9/4), a ESPN informou internamente que o afastamento dos jornalistas não teria tido influência da CBF.
A suspensão vigorou por apenas um dia. Os jornalistas foram chamados para conversa e explicações com a diretoria do canal esportivo.
A emissora do Grupo Disney alega não ter sido devidamente comunicada sobre o tema do Linha de Passe e considerou o programa uma ‘edição especial’.
Segundo fonte ligada à emissora, pela complexidade do tema, a ESPN afirmou que priorizaria a divulgação de um ‘Linha de Passe especial’ durante a grade de programação e intervalos comerciais.
Denúncias contra presidente da CBF
No início deste mês, Piauí divulgou a matéria ‘Coisas extravagantes, uma radiografia da gestão de Ednaldo Rodrigues na CBF‘, assinada pelo repórter Allan de Abreu.
A matéria informa que a CBF aumentou os salários dos presidentes das federações estaduais de R$ 50 mil para R$ 215 mil – reajuste de 330%.
Ednaldo Rodrigues foi reeleito presidente da CBF por mais quatro anos de mandato no dia 24 de março. Candidato único, ele conquistou 100% dos votos das federações estaduais e dos clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro.
Ídolo do futebol mundial, Ronaldo chegou a se candidatar, mas optou por se retirar da disputa, pois não conseguiu interlocução com as federações.
Outras denúncias da Piauí
De acordo com a revista, durante a Copa do Mundo do Catar “só as despesas extras da mulher do presidente da CBF na hospedagem bateram em 37 mil reais”.
Além dela, um grupo de 49 brasileiros usufruiu de mordomia durante o último Mundial, com tudo pago pela CBF.
“Muitos tiveram atendimento vip na chegada ao Aeroporto Internacional de Doha, alguns voaram de primeira classe e pelo menos um ganhou cartão corporativo para gastar livremente até 500 dólares por dia (2,5 mil reais). Tudo à custa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a mais alta entidade do futebol nacional, embora nenhum dos 49 tivesse relação direta com a confederação ou as federações estaduais”, diz a revista.
A reportagem da Piauí ainda detalha as extravagâncias de Ednaldo Rodrigues no comando da CBF: das despesas com parlamentares aos gastos milionários com advogados estrelados, além da contratação de garotas de programas para atender convidados em viagens.