AMÉRICA

Quatro fatores que explicam a queda de rendimento do América na temporada

Após eliminação para o Fortaleza na Sul-Americana, América tem pela frente missão difícil de se recuperar no Campeonato Brasileiro
Foto do autor
Compartilhe

Faltou planejamento para o América dar sequência ao início positivo na temporada. Mesmo que tenha ido às quartas de final da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, o clube vê 2023 em xeque pelo mau desempenho naquela que deveria ser a prioridade. No Campeonato Brasileiro, o Coelho vai de mal a pior e vê sua principal fonte de ‘sustento’ ir por água abaixo – na lanterna, o time busca reação para permanecer na Série A.

Após o ano de sucesso, em 2022, o começo de temporada do América este ano foi promissor. O time teve um bom desempenho no Campeonato Mineiro e foi o vice-campeão (perdeu para o Atlético na final). O banho de água fria foi logo no começo do Brasileiro, com os tropeços iniciais que culminaram na falta de confiança, sequência de resultados ruins e, por fim, na demissão do técnico. Nesta temporada, o alviverde não se viu fora da zona de rebaixamento em nenhuma rodada.

A equipe chegou a disputar três competições ao mesmo tempo – Brasileiro, Copa do Brasil e Sul-Americana. O desempenho nas copas foi surpreendente e completamente oposto ao apresentado no campeonato nacional. Por que as atuações foram tão diferentes?

Na época em que estava à frente do Coelho, Vagner Mancini disse que o time entrava renovado em campo para disputar os mata-matas. Na maioria das vezes, o Coelho era escalado com peças ‘alternativas’ – em razão da sobrecarga dos atletas.

Falta de planejamento

Desde o princípio, a diretoria americana tinha ciência de que a equipe disputaria três competições ao fim do Estadual. No entanto, o clube não investiu em contratações que mudassem o patamar do elenco num ano de calendário cheio.

Ao todo, foram oito jogadores contratados. Desses, três já deixaram o clube – Nino Paraíba, Mateus Gonçalves e Dadá Belmonte -, e outros três estão no departamento médico – Nicolas, Marcinho e Mikael. Apenas o goleiro Pasinato e o zagueiro Wanderson estão disponíveis para serem utilizados no momento. 

Presidente da SAF do América, Marcus Salum admitiu que o clube superestimou a capacidade do elenco para disputar três competições. Com isso, a queda de rendimento chegou aos poucos. Os duros golpes no Brasileiro levaram a equipe à situação crítica do momento – afundado no Z4, com apenas 13 pontos somados. 

Com um time sem poder de reação, a diretoria se movimentou na janela do meio do ano em busca de reforços para tentar espantar o fantasma da Série B e consertar o erro da sobrecarga dos jogadores. 

O América se reforçou com o lateral-direito Daniel Borges, os atacantes Pedrinho, Paulinho Bóia e Renato Kayzer, o volante Javier Méndez, o zagueiro Esteban Burgos e o meia Cazares. As peças estão sendo utilizadas, mas ainda não demonstraram superioridade das demais rumo à escalada no Brasileiro. 

Lesões 

Outro problema durante a temporada tem sido o número de lesões de jogadores essenciais para a formação tática do Coelho. Atualmente, são nove no departamento médico. Os laterais-direito Marcinho (pubalgia) e Daniel Borges (lesão muscular na coxa), os laterais-esquerdo Nicolas (lesão muscular) e Marlon (lesão muscular), o meia Benítez (lesão na coxa direita) e os atacantes Aloísio (lesão muscular na coxa esquerda), Adyson (cirurgia no tornozelo), Mikael (lesão muscular) e Renato Marques (tendinopatia na coxa).

Benítez participou de 30 dos 52 jogos do América na temporada e desfalcou a equipe em compromissos importantes – como diante do Fortaleza, nas quartas da Sul-Americana. A frequência de lesões do armador, inclusive, foi o que motivou a diretoria a buscar Cazares, que tem as mesmas características do argentino e será reforço para a vaga no meio-campo. 

Aloísio, jogador experiente do ataque, cogitou deixar o clube em razão das frequentes lesões. No fim, ficou acordado que o jogador permanecerá até o término do ano – que é quando seu contrato acaba. 

Além disso, até mesmo aqueles que fazem parte da história do clube viveram momentos ruins na temporada. Juninho e Alê, figuras de referência da equipe, passaram por fase abaixo da média e chegaram a ser vaiados pela torcida.

Eliminações 

Com a situação decadente no Brasileiro, o foco do América estava estabelecido: recuperar-se na competição de pontos corridos. Em paralelo, o time equilibrou as copas e conseguiu bons resultados e premiações milionárias para alavancar os cofres do clube. No fim, as eliminações nos torneios culminaram na perda de confiança – que já vinha abalada.

Na Copa do Brasil, o Coelho bateu o Internacional nas oitavas e se classificou de forma heroica, nos pênaltis. Nas quartas, o time caiu para o Corinthians, nas penalidades. 

Na Sul-Americana a classificação foi ainda mais emocionante. Embora a diretoria e o treinador – à época Vagner Mancini – batessem na tecla de foco no Brasileiro, o América foi valente e buscou vaga nos playoffs na última rodada da fase de grupos. Daí, eliminou o Colo-Colo, do Chile, em atuação de gala e goleada por 5 a 1, que parecia ser a virada de chave. 

O alviverde bateu o Bragantino nas oitavas, nos pênaltis. Já nas quartas, caiu para o Fortaleza. A última eliminação. 

Troca de técnico

Contestado pela torcida e vaiado frequentemente em campo, Vagner Mancini recebeu respaldo da diretoria para continuar o trabalho à frente do América. No entanto, ele não ‘sobreviveu’ à derrota para o Bahia por 3 a 1, pela 18ª rodada do Brasileiro. Naquela altura, o time estava fora da Copa do Brasil e classificado às oitavas da Sul-Americana. 

Para o lugar, chegou o argentino Fábian Bustos, ex-Santos. O comandante começou o trabalho logo na virada de turno. Em quatro jogos, ele conquistou uma vitória. 

O elenco americano ainda está no processo de adaptação sob o comando do novo treinador. Com a mudança do estilo de jogo, além da incorporação dos reforços do meio do ano – que foram aprovados por Vagner Mancini -, o time está tomando forma, mas ainda há fatores a serem corrigidos.

O sistema defensivo é pior do campeonato – com 45 gols sofridos. A última partida em que o Coelho passou ileso foi pela Copa do Brasil, no jogo de ida contra o Corinthians (venceu por 1 a 0), em 5 de julho.

Reação?

A cartilha da temporada não é boa. Após a eliminação para o Fortaleza, na Sul-Americana, resta apenas o Campeonato Brasileiro para o América – por mais que o discurso tenha sido esse desde o princípio, mesmo com outras competições na jogada. Sem outras ‘distrações’, o Coelho tem, finalmente, apenas um foco e um campeonato para direcionar as energias.

O time está na elite nacional há três anos. A última queda foi em 2018, e o alviverde ficou na Segunda Divisão por duas temporadas. Após o retorno, a equipe foi reformulada, e o clube, repaginado. Novas metas estabelecidas e novas marcas históricas alcançadas. 

Em 2022, o Coelho disputou pela primeira vez a Copa Libertadores, após ter feito uma ótima campanha no Brasileiro em 2021. Para este ano, conquistou vaga na Sul-Americana. Os sonhos do torcedor cresceram a partir do momento em que o time subiu de patamar. 

Contudo, para não deixar o projeto cair, é preciso retomada urgente. Para alcançar os 45 pontos – número ‘mágico’ para fugir do rebaixamento, o América precisa de 32 nos 18 jogos que restam na elite nacional. Isso representa um aproveitamento de 59%, equivalente ao do terceiro colocado no momento, o Grêmio (36).

Compartilhe