A reta final da carreira de Alessandro no futebol e a trajetória como proprietário de um complexo esportivo fez com que o filho tomasse gosto pelo esporte. Alessandro Rangel Nunes, de 15 anos, deu seus primeiros passos na Arena Pampulha até ser requisitado para a base do América. Em 2023, o garoto recebeu a oportunidade de integrar a equipe infantil do Fluminense, porém retornou ao Coelho após um ano. Agora, no sub-15, tenta seguir os passos do pai, uma das grandes revelações do clube no início da década de 2000 e com experiências em Fluminense, Flamengo, Vasco, Cruzeiro e Atlético.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Alessandro, de 42 anos, diz que o futebol “está no sangue” da família. Seu herdeiro nasceu em Belo Horizonte, em 2009, quando o ex-atacante defendia o Atlético depois de uma saída conturbada do Cruzeiro. O regresso ao Brasil naquela época se deu justamente em razão da gravidez da esposa, Keli Rangel. O casal vivia no Japão, onde o jogador marcou 13 gols em 30 partidas pelo Albirex Niigata, da J1 League.
O filho começou a “se entender por gente” na época em que Alessandro estava na última passagem pelo América, de 2011 a 2013. Dali em diante, interessou-se pela profissão do pai.
“Está no sangue. Desde garotinho, quando ele acompanhava nos clubes, sempre gostou de ficar com a bola no pé. Quando eu iniciei a Arena Pampulha, ele começou a participar das competições. E a gente percebia que ele tinha o dom e o talento. Quando ele completou 10 anos, foi convidado pelo América a participar do projeto de iniciação. Ele fez todo o sub-10, sub-11, sub-12, sub-13. Quando subiu para o sub-14, foi convidado para um período no Fluminense. Ficamos por um ano. Agora, no sub-15, ele retornou ao América. Está nesse processo que passei. Claro que hoje algumas coisas mudaram, como a carga de treinamento, mas ele está vivendo esse processo. E como vivi esse processo por 20 anos, procuro ajudar da melhor forma”.
Alessandro
Apesar da genética, o jeito de jogar é diferente. Se Alessandro era um atacante leve, de movimentação e que sabia atuar pelos extremos do campo, o filho prefere se posicionar centralizado. A semelhança, segundo o pai, está apenas no “jeito de correr”.
“O jeito de correr é parecido, mas a característica técnica não. Eu era um jogador mais leve, jogava pelas beiradas, conseguia fazer o ‘falso 9’. Ele já é um jogador de último terço do campo, finalizador, mais rompedor. Um garoto que espera o último toque para finalizar, fisicamente mais forte também. Então, muda muito. Mas hoje tem que aprender e ter um repertório alto. A gente procura fazer essas questões de jogar um pouquinho para o lado do campo, vir buscar o jogo, tem que estar jogando compactado. Mas as características são bem diferentes”.
Comparações inevitáveis
Nos jogos do América, as comparações são inevitáveis. Espectadores que reconhecem o jovem atleta como filho de uma lenda do Coelho criam a expectativa de que ele faça tantos gols quanto o genitor. Por isso, Alessandro buscou ajuda psicológica para blindar o garoto de qualquer tipo de pressão psicológica.
“Ele fez um trabalho, tem pouco tempo, de uma blindagem emocional para saber distinguir essa cobrança e que o pai dele foi um e que ele é um atleta que está começando, vai ser diferente e terá uma trajetória, se Deus quiser, diferente”, disse
“Estive no futebol por 20 anos, então consigo tirar um pouco dessa carga. Passo para ele que o futebol, por mais que seja bom financeiramente, tem o primeiro passo (mais importante). A felicidade de estar no campo e a alegria dele jogar e estar com os companheiros. Quando ele sai para o treino, eu falo: ‘você tem que estar alegre’. Quando eu decidi parar, já não sentia mais essa alegria de jogar e treinar. Então eu falo, a chama está bombando. A alegria, aquela questão da amizade, ele tem isso. Todo dia a gente vai moldando um pouco, porque hoje são muitas as informações”.
Alessandro
Até onde o filho pode chegar?
Alessandro Rangel teve bons números pelo sub-13 do América. Segundo reportagem do ge.globo, em fevereiro de 2023, o jovem contabilizou 20 gols e deu 13 assistências em 29 apresentações em 2022. Atualmente, ele integra o sub-15 do Coelho. Na partida mais recente, não saiu do banco de reservas na derrota por 2 a 0 para o Atlético, no último sábado (23), no Sesc Venda Nova, em BH, pelo octogonal do Mineiro. O próximo compromisso é contra o Inter de Minas, às 9h de sábado (30), no mesmo estádio.
Ao avaliar o patamar que o filho pode alcançar, Alessandro vê grande potencial técnico, porém evita grandes cobranças. Para o ex-atacante, o sucesso futebol é um misto de “sorte, trabalho e vontade de Deus”. Se o adolescente for contemplado com as três coisas, terá uma boa vivência no mundo da bola em longo prazo.
“Vou falar como pai e como profissional. Como pai, a gente sempre torce para que isso aconteça. Agora, eu costumo falar e fazer uma avaliação como eu faço todos os garotos. A gente vê potencial, é um percurso que existe sacrifício. É árduo, às vezes você tem que contar um pouquinho da sorte também, às vezes a característica dele, um treinador gosta mais, o outro às vezes não gosta, então é um processo que ele vai ter que viver. E eu acredito muito no propósito de Deus”, afirmou.
“Dou muito exemplo do Cristiano Ronaldo e de vários atletas que jogam nesses clubes europeus. Hoje você não fala um jogador de futebol, você fala um atleta. Ele abre mão praticamente da vida dele, do dia a dia. Profissionalmente, eu vejo muito recurso nele (filho), mas também é um processo. Futebol é Deus, sorte e trabalho. Então, se ele conseguir ser um atleta alta performance, assimilar tudo e Deus abençoar, acredito que ele vai conseguir fazer uma trajetória bonita no futebol”, completou.
Alessandro no América
Natural de São João da Boa Vista, município de São Paulo na divisa com Minas Gerais, Alessandro Nunes do Nascimento chegou ao América aos 15 anos, em 1997. No primeiro ano na base do clube, anotou 33 gols em 31 jogos. Em 1999, o atacante foi convocado para representar a Seleção Brasileira Sub-17 no Torneio de Toulon, ao lado de Kaká (ex-São Paulo, Milan, Real Madrid), Thiago Motta (ex-Barcelona) e Diego Cavalieri (ex-Palmeiras e Fluminense). No ano seguinte, sagrou-se campeão da Taça BH de Futebol Júnior pelo Coelho.
Em 2001, Alessandro fez o gol do América que valeu o título estadual. O time perdeu o segundo jogo da final do Mineiro para o Atlético, por 3 a 1, porém ficou com o troféu por ter vencido o primeiro duelo por 4 a 1. Aos 32 minutos da etapa final, o então jovem de 19 anos dominou na área e chutou com muita força. O goleiro Velloso, do Galo, espalmou a bola para dentro da meta.
De acordo com o historiador Carlos Paiva, autor da Enciclopédia do América, Alessandro é o 27º maior artilheiro da história do clube, com 56 gols em 169 jogos. O ex-atacante ainda brilhou no Ipatinga, pelo qual foi duas vezes melhor marcador da Série B do Campeonato Brasileiro: 25 gols, em 2007, e 21 gols, em 2010.
Entrevista de Alessandro ao No Ataque
Na entrevista ao No Ataque, Alessandro falou de diversos temas, como a formação de jogadores na Arena Pampulha, a preparação para ter uma vida confortável fora do futebol profissional e os momentos marcantes por América, Fluminense, Flamengo, Vasco, Ipatinga, Cruzeiro, Atlético e demais clubes. Fique ligado no portal para conferir outras reportagens desse bate-papo!