
Dos famosos que torcem pelo Cruzeiro, o mais lembrado é o músico Samuel Rosa, vocalista da banda Skank entre 1991 e 2023. Entre várias composições de sucesso no cenário nacional, a canção “É Uma Partida de Futebol”, escrita em parceria com Nando Reis, relata a essência do jogo, as funções de quem está dentro de campo e a emoção de soltar o grito de gol nas arquibancadas. O artista de 58 anos é apaixonado pelo clube estrelado e frequenta o Mineirão desde a infância, no início da década de 1970.
Há quase cinco anos, em agosto de 2020, quando o Cruzeiro disputava a Série B do Campeonato Brasileiro em meio à pandemia de covid-19, Samuel Rosa concedeu entrevista ao portal UOL. Ao falar do sentimento pelo time do coração, o cantor revelou uma informação curiosa a respeito da origem de seu nome. Seu pai, o psicólogo e professor universitário Wolber de Alvarenga (1939-2012), era fã do jogador Samuel, camisa 10 do América de 1965 a 1970.

“Meu pai era um grande fã do Cruzeiro. Mas, nas primeiras décadas da vida, ele não era cruzeirense. Ele morava no interior, era de Itabira, terra de Carlos Drummond de Andrade (poeta e cronista), e torcia pelo Vasco. No interior de Minas, principalmente no Vale do Rio Doce e na Zona da Mata, as pessoas torciam muito pelos clubes do Rio de Janeiro. A Rádio Nacional chegava e transmitia os jogos dos clubes do Rio”, disse Samuel Rosa.
“Quando meu pai chegou a Belo Horizonte, se dizia meio americano. Inclusive, ele contava que escolheu o meu nome Samuel porque o América tinha um ponta de lança chamado Samuel. Era um camisa 10, um meio-campista muito bom. Já conversei isso com o Jair Bala (maior ídolo do Coelho, que morreu em dezembro de 2022, aos 79 anos) e o Marcus Salum (dirigente do clube)”.
Samuel Rosa, ex-vocalista do Skank
A preferência clubística do pai de Samuel Rosa mudou a partir da Taça Brasil de 1966, em que o Cruzeiro ganhou os dois jogos do Santos de Pelé, por 6 a 2, no Mineirão, e 3 a 2, no Pacaembu. Wolber de Alvarenga se encantou pelo time que tinha Tostão, Dirceu Lopes, Natal, Evaldo, Piazza e outros atletas responsáveis por consolidar a agremiação celeste entre as mais fortes do Brasil.
“Meu pai chegou a Belo Horizonte pouco antes de nascer esse grande time do Cruzeiro, que foi o time que conquistou, em 1966, a Taça Brasil em cima do Santos de Pelé. Meu pai, que era um ‘americano vascaíno’, passou para o Cruzeiro. E eu, nos meus primeiros meses de vida, fui campeão nacional”.
Por onde anda o ex-jogador Samuel?
Nascido em 15 de julho de 1966, Samuel Rosa era bebê quando o Cruzeiro se sagrou campeão nacional. Já Samuel de Jesus Asco tinha 22 anos e era a referência no meio-campo do América.
O No Ataque buscou informações sobre como está atualmente o ex-camisa 10 do Coelho. Casado e pai de três filhos, ele mora no Rio de Janeiro, no bairro Pechincha, e completará 81 anos em setembro.
Em entrevista à reportagem, Samuel demonstrou surpresa e alegria ao tomar conhecimento que havia sido inspiração para o nome do músico Samuel Rosa. “Não sabia! Estou sabendo agora. Não deixa de ser bom, né?!”, disse, aos risos.

De fala tranquila e bem articulada, o ex-jogador do América é moderado ao relembrar o período como atleta profissional. “Nunca me considerei superior a quem quer que seja. Sempre igualava. Após os jogos, cada um dava um palpite. ‘Poxa, Samuel, hoje você arrebentou, foi sensacional, colocou a gente na cara do gol’. Quando perdia, cada um ia para um canto”.
“Quando fazia um gol ou uma jogada bonita, eu sabia que aquilo ali não era para sempre. Jogamos, ganhamos, fui bem. Porém, na segunda-feira, já estávamos em outra. Se eu tivesse a sorte de jogar novamente nas mesmas condições, beleza!”.
Samuel, ex-camisa 10 do América
Do Flamengo para o América
Samuel Asco começou a jogar futebol nas peladas de bairro no Rio de Janeiro. Na juventude, foi levado por um irmão para um teste no Flamengo e acabou aprovado. Segundo o site Fla Estatística, o meia estreou no time principal em 3 de abril de 1965, na derrota por 4 a 1 para o Palmeiras, no Torneio Rio-São Paulo.
A equipe era treinada por Flávio Costa, vice-campeão da Copa do Mundo de 1950 com a Seleção Brasileira, e tinha atletas consagrados, como o zagueiro Zózimo, bicampeão mundial em 1958 e 1962; o volante Carlinhos “Violino”, que se tornara técnico do Rubro-Negro; e o lateral-esquerdo Paulo Henrique, integrante da convocação brasileira na Copa de 1966.

Utilizado em 15 jogos no Flamengo, Samuel marcou três gols. O meia despertou a atenção do América em um torneio hexagonal realizado pelo então bispo de Belo Horizonte, Dom Serafim Fernandes de Araújo, para arrecadar fundos que seriam destinados à construção da Faculdade Católica. Vencida pelo Cruzeiro, a competição também contou com Atlético, Siderúrgica e Bangu.
Na estreia pelo América, em 1º de outubro de 1965, Samuel anotou um gol na vitória por 3 a 0 sobre o Villa Nova, no recém-inaugurado Mineirão, pelo Campeonato Mineiro. Em cinco anos, o meia encantou os torcedores com sua visão de jogo, passes precisos, cobranças de falta e chutes de fora da área.
O blog O Canto do Coelho, que contém fichas técnicas do América desde a sua fundação, em 1912, listou 183 partidas de Samuel, com 68 gols marcados. O meia foi contemporâneo de outros ídolos alviverdes, casos de Jair Bala, Zuca, Caillaux, Ernani e Pedro Omar.
Números de Samuel pelo América
- 1965: 8 jogos e 5 gols
- 1966: 36 jogos e 22 gols
- 1967: 38 jogos e 21 gols
- 1968: 29 jogos e 7 gols
- 1969: 35 jogos e 8 gols
- 1970: 37 jogos e 5 gols
Rivalidade, vida em BH e parte financeira
Dos clássicos em Mineirão e Independência, Samuel ressaltou que os jogos contra o Cruzeiro “davam melhores condições ao América”, pois os atletas celestes atuavam de maneira mais leal. Já as partidas diante do Atlético costumavam ser “brigadas”. De acordo com o Futebol 80, o meia marcou seis gols em cima do Galo e três diante da Raposa.
Com relação à vida em Belo Horizonte, Samuel morou na maior parte do tempo sob as arquibancadas do estádio. Ele explicou que o futebol de antigamente, embora proporcionasse fama e reconhecimento nas ruas, não era sinônimo de grandes ganhos financeiros. Por muitas vezes, os atletas lidavam com atrasos salariais.
“A coisa mais preocupante na minha vida era o ganho, a parte de dinheiro. Muitas vezes a gente deixava de ter o que era necessário porque confiávamos que seríamos ressarcidos na segunda-feira, na outra semana, no outro mês. E nem sempre isso acontecia”.
Samuel Asco

O gol no milésimo jogo de Pelé pelo Santos
Após deixar o América, Samuel passou por Bangu, Portuguesa, Ceará e Ferroviário. Ele se aposentou do futebol profissional aos 30 anos, em 1975.
Pelo Ceará, Samuel se sagrou campeão estadual em 1972 e teve momento inesquecível ao marcar um dos gols na vitória por 2 a 1 sobre o Santos, pelo Campeonato Brasileiro.
O dia 3 de dezembro daquele ano ficou para a história por se tratar do milésimo jogo de Pelé pelo clube da Vila Belmiro. As arquibancadas do Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, receberam mais de 35 mil pessoas.
“Tive oportunidade muito boa de conversar com o Pelé dentro do campo. Talvez pelo fato de estar na euforia, foi o melhor jogo que fiz na minha vida. Valeu a pena”, recordou o ex-jogador, autor de 32 gols pelo Vozão de 1972 a 1974, conforme o Futebol 80.
A vida pós-futebol
Por não ter ficado rico como jogador profissional, Samuel se encontrou no ramo de seguros, ao qual se dedica até hoje. Ele revelou à reportagem ser fã do Fluminense – a esposa, Márcia Valéria, o acompanha na torcida. Dos três filhos, o mais velho, Carlos Eduardo, não se interessa por futebol. Júlia, a do meio, é vascaína, enquanto João Gabriel, o caçula, prefere o Flamengo.
Sem alongar a carreira nos gramados, o ex-camisa 10 do América não deixou de enxergar o futebol como lazer. Prova disso é que ele só parou definitivamente com as peladas perto dos 75 anos, em 2019. “Joguei bastante com os amigos. Pude mostrar um pouquinho do que aprendi”, divertiu-se o ídolo do Coelho.

“É Uma Partida de Futebol”
O clipe da música “É Uma Partida de Futebol”, do Skank, foi gravado no clássico entre Cruzeiro e Atlético pelo Campeonato Mineiro de 1997. Mais de 40 mil pessoas compareceram ao Mineirão na tarde de domingo, 16 de março. Vitor abriu o placar para o Galo, aos 41 minutos do primeiro tempo, e Reinaldo Rosa anotou o gol do empate da Raposa, aos 43.
Os integrantes do Skank participaram de um jogo preliminar ao lado de outros artistas e ex-jogadores. Posteriormente, embalaram a festa nas arquibancadas. Samuel Rosa (guitarra e vocal) e Henrique Portugal (teclado) puxaram o coro na torcida do Cruzeiro, ao passo que Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) comandaram o barulho no lado do Atlético.
Confira a letra:
Oh, bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando para bola, eu vejo o Sol
Está rolando agora é uma partida de futebol
O meio-campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante é uma partida de futebol
O goleiro é um homem de elástico
Os dois zagueiros têm a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol
Oh, bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
O meio-campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante é uma partida de futebol