CHAMA O VAR

Deca do América ‘não existiu’ e só foi reconhecido quase 90 anos depois?

'Chama o VAR': série especial do No Ataque e do Estado de Minas resgata a saga do título que só foi reconhecido quase 90 anos depois

O América e a torcida, há décadas, celebram o título de decacampeão mineiro. As dez conquistas consecutivas entre 1916 e 1925 são uma das grandes façanhas do futebol regional, mas você sabia que demoraram quase 90 anos para serem oficializadas?

O reconhecimento veio só em 30 de abril de 2012, data do centenário do Coelho. Nesta terça-feira (29/4), véspera do 113º aniversário do clube, o ‘Chama o VAR’ relembra essa história polêmica.

Para isso, conversamos com o historiador Carlos Paiva, que desde 1974 estuda a trajetória americana. O resultado você vê no vídeo e no texto a seguir.

Na véspera do aniversário do Coelho, o ‘Chama o VAR’, parceria do No Ataque e Estado de Minas, conversou com o historiador Carlos Paiva, que estuda a trajetória do clube desde 1974, para desvendar essa saga de dez títulos consecutivos.

O ‘Chama o VAR’ é uma série especial do No Ataque e do Estado de Minas para relembrar (e desvendar) casos emblemáticos e grandes farsas no futebol mineiro.

Time forjado em vitórias

O América foi fundado em 30 de abril de 1912 e, já em 1916, iniciou a sequência histórica com dez títulos do Campeonato da Cidade, atualmente considerado o Campeonato Mineiro. Na estreia da campanha do deca, o time perdeu. O então capitão, conhecido como Rato, fez uma promessa: aquela seria a última derrota

A partir dali, a história foi escrita com vitórias. O time foi campeão em 1916 sem perder mais nenhuma partida e assim seguiu até 1920.

A primeira derrota no Campeonato Mineiro após a promessa de Rato foi só em 2021, o que não impediu mais uma conquista. E assim seguiu nos anos posteriores.

Prenúncio da confusão 

Porém, a trajetória do deca foi marcada por episódios de rivalidade e polêmica. Segundo Paiva, em 1924, o Atlético abandonou o Campeonato Mineiro após se desentender com a liga, já sem chances de título. Esse clima de tensão antecipava as próximas turbulências.

“Em 1924, o Atlético brigou com a liga depois que não podia mais ser campeão, foi punido e mesmo assim poderia ter continuado, mas abandonou o campeonato daquele ano”, conta Carlos Paiva.

O polêmico campeonato de 1925

Em 1925, ano decisivo do décimo título, o América reuniu o que Paiva chama de “super time”. Mesmo com muitos jogadores prestes a se aposentar, a maioria estudantes que estavam se formando, o clube conseguiu convencê-los a ficar para a última campanha.

Aquele campeonato teve um início conturbado, marcado por jogos adiados. Em uma das partidas realizadas, o Coelho goleou o Atlético por 4 a 1, embalado após aplicar um 6 a 0 na seleção do Rio de Janeiro.

“Naquele ano, o América vinha de uma boa sequência de vitórias. Numa delas, o segundo time do Coelho fez um amistoso contra o primeiro time do Palestra – atual Cruzeiro – e ganhou de sete. Todos tinham certeza que o único time que tinha condição de vencer o América seria o Atlético”, afirma o historiador americano. 

Conforme relata Carlos Paiva, temendo que outros clubes também sofressem goleadas, o Atlético articulou um abandono geral do campeonato. “Foi uma desistência total, com isso, o presidente da liga não aceitou e declarou o América campeão por abandono geral. Não houve sequer vice-campeão. O Sete de Setembro teoricamente seria vice, mas como a equipe desistiu do campeonato, não tem colocação.”

Há, contudo, uma versão diferente sobre a interrupção do torneio. Registros da liga, a antiga Federação Mineira de Futebol (FMF), relatam que a competição parou para a disputa do Campeonato Brasileiro de Seleções e não foi retomada. Essa narrativa alega que, com isso, o Estadual acabou sem vencedor.

Uma reportagem publicada pelo jornal Estado de Minas em 16 de janeiro de 1931 chegou a noticiar que o campeonato de 1925 fora considerado inexistente em reunião oficial da Liga com os clubes.

“O campeonato de 1925, do qual poucos jogos se realizaram, foi considerado inexistente para todos os efeitos em reunião conjunta da diretoria da Liga com os presidentes dos clubes interessados”.

Reconhecimento tardio

Independentemente da versão, certo é que o América passou as décadas seguintes festejando o feito de ter conquistado dez vezes seguidas o torneio.

Apesar da celebração da torcida, o reconhecimento formal desse decacampeonato só ocorreu em 30 de abril de 2012, no centenário do clube, como uma espécie de “presente” dado pela FMF. Atualmente, para todos os efeitos, o América é considerado decacampeão mineiro de forma oficial. 

O domínio nos números

Segundo Carlos Paiva, as campanhas do deca totalizam 83 jogos entre 1916 e 1925, com 70 vitórias, nove empates e apenas quatro derrotas. Nesses dez anos, a equipe marcou 264 gols e sofreu 59. Em 1917, um feito: foi campeão sem sofrer nenhum gol.

Apenas quatro decacampeões 

Apenas quatro jogadores americanos participaram dos dez títulos. São eles: Celso Mascarenhas, Carlos Quadro, Geraldino de Carvalho (primeiro jogador e fundador negro de um clube) e Afonso Silviano Brandão (fundador e primeiro presidente). 

Compartilhe