O Atlético estuda a possibilidade de trocar o gramado da Arena MRV: do natural para o sintético. A possível iniciativa visaria preservar a qualidade do espetáculo futebolístico mesmo com um calendário repleto de eventos musicais no estádio. Parceiro comercial do Atlético, Rogério Dezembro, CEO da LivePark, opinou sobre o tema em entrevista exclusiva ao Estado de Minas/No Ataque.
A LivePark se dedica à inteligência, gestão, controle e operação de espaços para esportes, entretenimento e eventos. A empresa também foi parceira do Palmeiras na administração do Allianz Parque, em São Paulo.
Desde junho de 2021, o grupo cuida da comercialização dos patrocínios da Arena MRV. A união da LivePark com o clube mineiro também almeja potencializar a geração de receitas a partir do uso do estádio.
Rogério Dezembro entende que o tema gramado “diz respeito ao clube”, mas defendeu a tese de que o sintético é “um grande aliado” para times que têm o intuito de contar com um calendário repleto de eventos em suas casas.
“Esse é um assunto polêmico, que diz respeito ao clube, então eu não tenho credencial e nem crachá para falar sobre isso. Agora, vou falar do ponto de vista de uma empresa que vive de administrar espaços: como o objetivo do negócio arena é receber o maior número de eventos possíveis, nesse sentido, o gramado sintético é um grande aliado”, afirmou o empresário.
“Um exemplo recente: o Palmeiras jogou com o Cruzeiro no Allianz Parque e, dois dias antes, teve um show no estádio – o Buteco do Gusttavo Lima. Tinham 36 mil pessoas no Allianz Parque no sábado à noite. 48 horas depois, você pôde receber um jogo de Campeonato Brasileiro da Série A sem nenhum prejuízo para o espetáculo. Sob esse aspecto, da maximização e da monetização do empreendimento, do estádio, faz todo sentido você optar pelo gramado sintético”, ressaltou.
Dificuldades para manter o gramado natural
Em seguida, Rogério destacou os desafios de qualquer clube para conservar um gramado natural em boa qualidade. O executivo ainda apontou o padrão Fifa como um dificultador no processo e justificou o raciocínio.
“Sem contar uma outra coisa, que pouca gente se dá conta: o padrão Fifa, independentemente dos shows ou não, impõe um grau de sombreamento no gramado natural que quase inviabiliza o gramado natural. Porque grama vive de duas coisas, basicamente: luz e água. Se você tirar a luz ou a água, o gramado despenca. O padrão Fifa, com a determinação de você ter na primeira cadeira uma cobertura cobrindo ela a 90 graus, acaba projetando um grau de sombra enorme no gramado”, explicou.
“Aí fica aquela briga o tempo todo, comprando aqueles pivôs de agricultura para a complementação de iluminação. É totalmente antiecológico isso, porque você fica gastando energia para manter um ser vivo em condições saudáveis, porque ele foi colocado em um local que é como aquela planta que você ganha da sua mãe ou da sua avó, põe no apartamento e ela fica com aquela cara de anêmica. Aquele ambiente não é para ela”, completou.
“O padrão Fifa impõe um gasto de energia, de água, econômico, porque tem que ficar fazendo reparos o tempo todo. Não faz sentido. Além dessa questão dos outros eventos, também se tem essa questão ecológica, porque você está brigando para manter um gramado em boas condições num local onde ele normalmente morreria. Isso é um outro aspecto que pouca gente fala, mas que também impõe um sacrifício econômico para os estádios.”
Rogério Dezembro, CEO da LivePark
LivePark fez sugestão ao Atlético
Ainda de acordo com Rogério Dezembro, a LivePark sugeriu ao Atlético, quando firmou parceria, a instalação do gramado sintético na Arena MRV. O empresário frisou as dificuldades enfrentadas pelo Palmeiras nos primeiros anos de Allianz Parque, quando optou pela grama natural.
“Nós fizemos essa recomendação (gramado sintético), e o clube optou por não seguir por esse caminho. Mas a gente entende que continuaria sendo o melhor caminho. A gente também entende que faz parte do processo testar a grama natural e ver se é possível achar um caminho de se manter a grama natural e manter os eventos”, argumentou.
“À frente do Allianz Parque, trabalhamos com grama natural nos primeiros três, quatro anos ali. Sofremos bastante com isso. Críticas públicas, desembolso financeiro no reparo constante, trocas, substituições… Enfim, a gente fez essa sugestão para a Arena MRV e acho que isso será analisado daqui a algum tempo, a partir do início da operação, para ver se é um caminho válido ou não”, relembrou Rogério.
Escolha do Atlético
Por meio de nota divulgada em junho de 2022, o Atlético explicou a escolha pelo gramado natural, da espécie Bermuda Celebration – a mais indicada para atividades esportivas em locais de clima quente. Segundo o clube, a seleção passou por estudos de viabilidade técnica e econômica.
Em contato com a reportagem do portal No Ataque, a assessoria da Arena MRV mencionou os diferenciais do estádio para a realização de eventos. A ideia também passa por minimizar possíveis impactos no gramado.
“Pelo estádio ser do Atlético, a prioridade é o calendário de futebol. E um diferencial que a gente tem com relação ao Mineirão é a montagem e desmontagem de estruturas de palco e de gramado. A gente tem quatro bocas de acesso ao campo, de dez metros cada uma, que facilitam muito o tempo de montagem e desmontagem. Ou seja, a grama fica muito menos tempo coberta com aquele piso do que no Mineirão, por exemplo”, pontuou a assessoria do estádio.