NO ATAQUE COM BRUNO MUZZI

Atlético 116 anos: CEO detalha metas para futebol, finanças e plano ‘potência mundial’

No Ataque fez entrevista exclusiva com Bruno Muzzi, CEO da SAF do Atlético, para o aniversário de 116 anos da instituição; leia ou assista
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Um dos clubes de maior expressão do Brasil, o Atlético completa, nesta segunda-feira (25/3), 116 anos de uma rica história. Para essa data especial, o No Ataque entrevistou, de forma exclusiva, Bruno Muzzi – CEO da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Galo. Em cerca de 25 minutos de conversa na sede alvinegra no Bairro Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no dia 14 de março, o dirigente detalhou metas para o futebol, as perspectivas nas finanças e muito mais.

À reportagem, Muzzi comentou o desejo de Rubens Menin, principal acionista da SAF do Atlético, de transformar a instituição em uma “potência mundial”. Temas relevantes como o balanço dos primeiros meses da Arena MRV, o futebol feminino e a criação de uma nova liga no futebol brasileiro também estiveram em pauta.

O No Ataque também questionou o executivo sobre o destino dos recursos da venda da segunda metade do shopping Diamond Mall, o acordo que converteu uma dívida em percentual na SAF para o empresário Ricardo Guimarães e a relação dos investidores com a torcida – especialmente nos momentos ruins.

Você pode ler a entrevista completa a seguir. Ou então, se preferir, pode assistir ao conteúdo completo no player que está ao fim desta matéria.

No Ataque com Bruno Muzzi no aniversário de 116 anos do Atlético

Bruno, o Atlético comemora, neste 25 de março de 2024, 116 anos de história. Qual é o seu sentimento em fazer parte de tudo isso, e já há algum tempo como figura ativa na gestão do clube?

É um sentimento primeiro de agradecimento. Sentimento de poder participar do Atlético. Quem nasceu atleticano, vivenciou o clube como torcedor durante muitos e muitos anos, poder participar de forma a contribuir – seja no início, pelo trabalho na Arena MRV, seja agora, com a gestão do clube -, isso tudo deixa muito satisfeito. Muito feliz em fazer parte da história do Galo.

O Rubens Menin já mencionou em algumas oportunidades o objetivo de transformar o Atlético em uma potência mundial. Qual é o plano estratégico para isso? O que a diretoria enxerga como pilares fundamentais para que essa meta seja alcançada?

Na verdade, eu acho que o desejo do Rubens, como muito atleticano que ele é (assim como a família inteira, o Rafael, etc.), foi primeiro deixar o clube organizado, estruturar. E é exatamente essa fase em que a gente está agora. Estruturando o clube, organizando a casa para que, com o tempo, a gente possa ser cada vez mais sustentável, equilibrado. E assim, a consequência vai ser a gente disputar em alta performance.

E toda vez que você disputa em alta performance, os benefícios vêm também: maior receita, com mais torcida, tornando um ciclo virtuoso. Eu acho que esse é o objetivo. Tornar o Atlético equilibrado, sustentável, em um ciclo virtuoso para que, em poucos anos, a gente possa estar sempre disputando títulos e sempre competindo em altíssimo nível. Esse é o objetivo principal.

E é evidente que a Arena MRV é fundamental nesse processo. Qual balanço a gestão do Atlético faz desses primeiros meses do estádio? O que já deu certo e o que ainda precisa melhorar? A precificação e a acústica, por exemplo, são dois desses pontos ou vocês acreditam que as coisas estão fluindo bem nesse sentido?

A Arena MRV é parte fundamental dessa transformação do Atlético. Eu acho que a transformação do Atlético passa por vários aspectos: reestruturação financeira, uma melhor infraestrutura… Nesse ‘guarda-chuva de infraestrutura’, está a Arena MRV. Crescimento de receita, que também conta com a Arena MRV. Então, ela é um ativo fundamental – tanto é que veio junto à SAF. Assim como o centro de treinamento e o departamento de futebol como um todo.

O que deu certo até o momento? Eu acho que, da Arena MRV, tudo vem dando certo. Nós estamos no ponto ideal? Não, longe! Acho que tem muita coisa para acontecer ainda. Tem muitos ajustes de operação ainda, e esses ajustes, eu até comentei outro dia que são ajustes constantes. A gente não vai chegar: ‘Daqui um ano, estou com os ajustes prontos’. Não. Eu acho que todo jogo, todo evento, todo ano, nós teremos adaptações, aprendizados, reaprendizados. Porque às vezes a gente acerta em um momento, e no jogo seguinte aquele problema volta à tona.

É um monitoramento, um aprendizado constante ali da Arena MRV. A questão da precificação, a gente vem batalhando todo jogo. Às vezes, as notícias saem mas não exatamente como… A gente tem que tomar muito cuidado com tudo o que a gente lê, o que a gente interpreta. Recentemente, eu vi: ‘Pô, a Arena MRV está cobrando R$ 350 de valor’. Esse é um valor de um lounge, super específico.

Quando a gente precifica, e é bom deixar muito claro, a gente precifica o ingresso para o nosso sócio-torcedor. Quando a gente faz o preço, a gente já está considerando essa questão de desconto para o nosso sócio-torcedor. Por quê? Porque é assim que funciona. O sócio-torcedor é para quem a gente tem que dar todos os benefícios. Nós temos aí hoje cerca de 80 mil sócios-torcedores. Estamos passando por renovações. Mas é para eles que a gente precifica ali os jogos.

A gente fez até uma comparação recente com o Mineirão e tal, e os preços estão muito parecidos. A gente vem debatendo isso a todo jogo. E é tudo muito difícil de equilibrar, porque o cobertor é curto: a gente precisa ter time competitivo, precisa ter bons atletas, precisa ter ticket baixo… Então, essa equação inteira não é simples.

A questão da acústica, que você perguntou. Primeiro, gostaria de enfatizar que a cobertura da Arena MRV foi trabalhada, estudada, calculada para atender as exigências do processo de licenciamento que exigia que a gente mantivesse um número específico de decibéis dentro da arena. E a gente está fazendo isso exatamente conforme foi planejado. A gente está atuando em duas frentes. Então, a arena está pronta, está entregue, funcionando.

Agora, nós vamos trabalhar em outras alternativas. Por exemplo: a sonorização da arena. A gente tinha um projeto de sonorização, que obviamente com a limitação de recursos, fez metade dele. Agora, acabamos de assinar um contrato, e a gente vai fazer um pouco mais. Vamos colocar mais 20 subwoofers ali, graves de alta performance para poder melhorar a pressão sonora em shows e também nos dias de jogos. E a gente está trabalhando também em uma nova concepção para poder tentar reverberar um pouco mais do barulho ali para dentro. Então, está tudo planejado, dentro do script.

Muita gente comentou também: ‘Pô, a comunicação visual da arena’. Você vê que a cada dia a gente vem melhorando um pouquinho. Primeiro, era importante entregar a obra, a arena funcionar. Agora nós vamos, aos poucos, melhorando. Você vê o túnel, como já melhorou. A parte interna ali, como é que vai melhorando. Então, não dá para fazer tudo de uma vez. A gente tem que ter muita calma. Mas o importante é que a gente segue com o objetivo de cada dia ir melhorando a arena. A gente já vai começar os ring leds, a iluminação já está funcionando. Vocês já viram o show de luzes, vai começar a melhorar um pouco mais. Coordenado com os leds, as fachadas externas. Fizemos ali homenagem no Dia das Mulheres. Acho que tem muita coisa para acontecer ainda na Arena MRV.

Jogadores do Atlético comemoram centésimo gol de Hulk pelo clube; ao fundo, torcedores comemoram - (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Jogadores e torcedores do Atlético em comemoração na Arena MRV(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

A Arena MRV foi eleita o estádio do ano de 2023 na votação do Stadium Database, da Alemanha. Como alguém que esteve diretamente envolvido no processo, qual foi a sua sensação ao saber da premiação?

Eu, como todo atleticano – como toda a diretoria, todos nós envolvidos -, todos muito satisfeitos. É um ativo do clube, importante. Esse reconhecimento torna ainda mais público como foi um projeto bem feito, com seriedade, com muita dificuldade. Um projeto, talvez, dos mais complexos que eu tenha participado, do processo de licenciamento. Então, é muito satisfatório. Agora é continuar. Tem muito trabalho ainda na Arena MRV.

Precisamos falar também sobre o futebol feminino. No fim do ano passado, o Atlético foi bastante criticado pela estrutura oferecida às jogadoras. Neste ano, o clube já se remodelou e divulgou novos investimentos na modalidade. Quais são os planos da diretoria para garantir um time competitivo e lucrativo no feminino?

Aqui, a gente tem que dar um passinho atrás e falar um pouquinho da estratégia da SAF do Atlético, de como o Atlético enxerga o futuro. E o Atlético hoje, diferente de quando era uma Associação, planeja no curto, no médio e no longo prazo. A gente tem os objetivos de curto prazo, que são sempre importantes, mas a gente pensa sempre no médio e no longo prazo. Quando a gente fez a SAF, a gente precisava passar por uma reformulação de custos, de forma geral. Todas as linhas do Atlético sofreram modificações – não seria diferente para nenhuma das linhas. E assim foi feito.

No entanto, a gente percebeu que nós tivemos, no ano passado, diversos fatores complexos no extracampo. Por exemplo: problema de talude, ficamos sem campo – tanto na base no CT, como na Vila Olímpica. A gente precisou fazer essas obras. As obras finalmente foram entregues. E ali, a gente falou: a gente precisa tornar o futebol feminino de longo prazo, de forma sustentável. Como a gente faz isso? A gente precisa equilibrar os custos do futebol, precisa entregar uma infraestrutura, que é mais importante do que sair contratando atletas. É a gente ter gastos na infraestrutura, para que pudesse começar de forma equilibrada, buscando patrocínios para poder começar a desenvolver cada vez mais.

O futebol feminino hoje tem um time novo, com uma média de idade mais baixa. A infraestrutura, eu acho que a gente deu uma atenção muito especial. Ainda tem muita coisa para fazer! Está longe de ser o ideal. Mas já tem um campo de treinamento muito bom, já pode treinar na base, já tem um vestiário dedicado. A gente já conseguiu um ônibus novo para poderem fazer os treinamentos.

Acho que tem muita coisa boa para acontecer. E outra coisa importante é que esse ano, na SAF, a gente não poderia contar com a Lei de Incentivo – que a gente teve no ano passado. Porque a gente só pode entrar com a Lei de Incentivo a partir de setembro. Então, a gente não teve esse recurso também para entrar. Nós focamos na estrutura e assim vamos fazer de forma sustentável, assim como será o futebol profissional também, onde a gente tem orçamento a ser cumprido, um caminho definido no longo prazo.

Imagens do treino do time feminino no gramado da Vila Olímpica e do novo vestiário das Vingadoras - (foto: Edesio Ferreira e Rafael Cyrne/EM/D.A. Press)
Imagens de treino do time feminino no gramado da Vila Olímpica e do novo vestiário das Vingadoras(foto: Edesio Ferreira e Rafael Cyrne/EM/D.A. Press)

Bruno, estamos vendo o futebol brasileiro crescer assustadoramente em cifras, com os principais concorrentes do Atlético investindo cada vez mais. Qual a perspectiva de investimentos do clube no futebol nos próximos anos? Como equilibrar a responsabilidade financeira com a necessidade de manter um time competitivo?

Eu tenho aprendido que a gente tem que tomar muito cuidado exatamente com tudo o que a gente fala. Eventualmente, a gente fala alguns números… Porque assim, o gasto no futebol do Atlético hoje é na beira de R$ 400 milhões. Você tem R$ 210 milhões de folha (salarial), que é o orçamento, tem premiação, tem o investimento na logística – que a gente faz com voo fretado. Então, o Atlético entrega hoje uma estrutura muito decente para qualquer time profissional.

A gente não vai ver, eu acho, o Galo mais daqui para frente contratando 15, 16, 20 jogadores. Nós vamos fazendo contratações pontuais, muito bem embasadas pelo departamento do CIGA – que está ampliando cada vez mais, com muita tecnologia de informação. Eu acho que isso é que vai fazer a diferença no Atlético, no longo prazo. ‘Ah, o Atlético investiu, trouxe o Scarpa’. Não, o Atlético manteve a sua base. Se você pegar o elenco do Atlético hoje, sem dúvidas, acho que é indiscutível que está entre os, sei lá, cinco melhores. Que seja seis, sete melhores aí do Brasil. Acho que é um ótimo elenco, com potencial de disputar. Se vai ganhar, se vai chegar, é outra história. Mas com bom potencial. Temos os jogadores da base subindo, que é muito bacana. Acho que tem muita coisa boa acontecendo. E assim será.

Bruno, o Atlético garantiu cerca de R$ 340 milhões (com uma parte disso parcelada) a partir da venda da “segunda metade” do Diamond Mall, em 2023, para a Multiplan e para o Pedra Negra. Membros da diretoria chegaram a declarar que a alienação do patrimônio tinha potencial para praticamente zerar as dívidas onerosas e fazer com que o Galo tivesse “três, quatro ou cinco jogadores do quilate do Hulk”. O que deu errado nesse plano? Para onde foi esse dinheiro?

Na verdade, o Atlético veio com um endividamento elevadíssimo. Ali, foi feito um investimento em jogadores em 2020, e a gente teve um efeito muito catastrófico que foi a questão dos juros terem subido de 3% para 12%, 13%. Eu acho que essa combinação de dívida elevada, com aumento de Selic (taxa básica de juros da economia), com pandemia… Isso tudo teve uma repercussão muito grande nas finanças do Atlético. Era praticamente impossível gerir o clube ali.

Quando eu vim, em 2022, eu já vim com o objetivo de ir para uma transformação de SAF, porque a gente precisava transformar para poder reduzir o endividamento. Então, eventualmente, o pessoal pode ter dado uma ou outra declaração, mas eu acho que o mais importante é a gente ter essa tranquilidade de dizer que era um clube endividadíssimo e que a venda do Diamond foi fundamental para que isso não piorasse radicalmente. Ia ser ainda muito pior. Quando a gente fechou a transação da SAF, o Atlético tinha R$ 2,1 bilhões de dívida – entre dívidas com Arena MRV (Certificados de Recebíveis Imobiliários), dívidas bancárias, dívidas com os Rs, dívidas fiscais, dívidas com agentes… Mais de R$ 300 milhões entre dívidas com agentes e acordos trabalhistas.

Estava impossível a gestão! Estava muito, muito difícil. Quando a SAF fez, a gente conseguiu equilibrar. O endividamento, os números vão sair ainda, porque vão ser auditados, mas a gente deve chegar no final do ano aí com um endividamento, em 2023, na casa de R$ 1,3 bilhão. E para o próximo ano, a gente deve tentar reduzir um pouco mais ainda esse endividamento, para que a gente possa equilibrar e, cada vez mais, reduzir as despesas financeiras.

Então, uma parte do dinheiro do shopping foi usada para pagar salários e outra para conter o crescimento do endividamento?

Ele foi usado 100% para conter crescimento de endividamento. O que é importante dizer: o Atlético vem há anos sendo operacionalmente negativo. E a gente começou a reverter isso, e esse ano, a gente pretende fazer com que o Atlético fique operacionalmente positivo. O problema é que nós temos duas contas muito pesadas ainda, que são as despesas financeiras – que fazem com que o fluxo de financiamentos fique negativo. E esse ano a gente tem uma meta que é deixar o fluxo de investimento, de compra e venda de jogadores, próximo do zero a zero.

A partir do momento em que a gente conseguir investir mais em infraestrutura na base, ter mais revelações da base (o que já começa a acontecer), nós vamos fazer com que esse fluxo de investimento, de compra e venda de jogadores, se torne positivo. Esse é o principal desafio. Operacionalmente, a gente já quer deixar positivo esse ano. O desafio de reverter essa equação e zerar o endividamento. Aí, o Atlético passa a ser totalmente sustentável.

Outro assunto ainda não esclarecido das finanças é a dívida que o Atlético tinha com o Ricardo Guimarães. O clube fez um acordo com ele em 2021, para pagamento parcelado e incluindo exposição do Bmg como patrocinador máster na camisa, mas essa pendência não foi reduzida e virou participação para ele na SAF em 2023. Por que o Atlético não cumpriu esse acordo? E como o acordo não foi cumprido, o Bmg pagou ao Galo para estampar a camisa nos últimos anos?

Lucas, eu tenho até que pegar mais detalhes ali. Ali, talvez, esse acordo tenha sido prévio à minha chegada. Mas o fato é que o Bmg tem um contrato com a camisa, com o Atlético, de patrocínio nas costas da camisa. Contrato sendo cumprido em sua integralidade. Existia uma dívida com a família do Ricardo Guimarães – não era com o Bmg a dívida que foi convertida. Esse percentual que ele trocou, e o Atlético vem cumprindo suas obrigações perante o Bmg com o seu contrato.

Ricardo Guimarães, presidente do Conselho e investidor do Atlético - (foto: Lucas Bretas/EM/D.A Press)
Ricardo Guimarães, presidente do Conselho Deliberativo e investidor do Atlético(foto: Lucas Bretas/EM/D.A Press)

Voltando a falar sobre futebol, o Hulk é sem dúvidas o maior ídolo dessa geração do Atlético – talvez o principal acerto da gestão dentro de campo. O clube já tem um plano de carreira para quando ele pendurar as chuteiras? É uma ideia que ele integre a gestão do Galo futuramente?

Eu acho que a gestão tem diversos acertos. Tentar trazer o clube para uma estabilidade que não se tinha talvez seja o maior deles. E o Hulk está nessa altura também. Acho que o Hulk está nessa altura também. Porque é um exemplo. Exemplo de pessoa, de atleta. Dentro de campo, indiscutível a capacidade de decisão. E isso tudo passou muito nessa renovação recente. Então, o plano nesse momento é que ele fique aqui até o final do contrato. E aí, eu te confesso que ainda não tem um planejamento maior. Mas o Hulk já é parte da nossa história. Com certeza, está entre os principais e mais importantes jogadores do Atlético. Tem esse debate aí de vez em quando (risos), não é? Mas é fundamental.

Hulk durante comemoração do 100° gol pelo Atlético - (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Hulk durante comemoração do 100° gol pelo Atlético(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

O que você pode atualizar sobre a situação das ligas? A Libra assinou com a Globo, e a LFU retirou a proposta para o Corinthians. Qual a expectativa da Libra para os próximos meses?

Semana passada [semana de 7 de março], os contratos foram assinados com a Globo. Foi, talvez, um dos movimentos mais importantes, porque a Libra atuou como um bloco comercial. Em conjunto, para que pudesse garantir esse direito de televisão para os próximos cinco anos. O outro bloco, com a LFU, está nessa tentativa de buscar. Ainda não sei qual o caminho que eles estão seguindo. E tem uma diferença grande. Eles venderam participação, 20% de sua participação, de todos os seus direitos, para um investidor. Aqui na Libra isso ainda não foi feito. O contrato da Globo já foi assinado. Um contrato de R$ 1,3 bilhão, por cinco anos, que já prevê, se o Corinthians, que é o grande ‘indeciso’ no momento… Prevê uma antecipação de valores também.

Essa antecipação já está caminhando para que seja paga aos clubes da Libra. Você tinha me feito uma pergunta anterior, que acho que acabei esquecendo, e quando você trouxe a liga eu relembrei aqui. Que é sobre as cifras do futebol brasileiro. Isso é uma coisa que de fato vem me preocupando muito, porque eu acredito fielmente que o futebol brasileiro, para ter uma mudança radical, passa pela liga – e não simplesmente pelo fato de uma liga ter direitos comerciais explorados conjuntamente. Mas pelo fato de a liga ter uma governança na qual exige um fair play financeiro de todos os times.

Todos os times têm que ter ali suas rubricas bem controladas. E o que a gente está vendo hoje são os times que receberam dinheiro de diversas maneiras e gastando tudo ali no futebol. É isso que a gente não pode fazer de forma desequilibrada. E isso muito difere a mentalidade de uma associação para uma SAF. A associação, às vezes, ou em sua grande maioria, se pensa ali na gestão naquele curtíssimo prazo. E numa SAF, que tem essa visão de longo prazo, precisa ser mais equilibrada. Então, isso me preocupa de fato, e a gente está vendo esse ano já. Esse ano vai ser um Campeonato Brasileiro, eu acho, dos mais difíceis historicamente. Com times fazendo investimentos muito fortes. Será um desafio esse ano sim.

O Atlético já traçou planos para esses recursos que vão ser antecipados?

A gente já tem todo o planejamento para 2024, 25 e 26. Então, a gente sabe exatamente o que precisa fazer para esse ano. Nós temos muitas metas a serem cumpridas, muitas coisas a se desdobrarem ao longo do ano. A reestruturação das dívidas, que a gente já fez em sua grande maioria; a gente precisa tentar fazer uma repactuação do nosso CRI da Arena MRV para poder obter taxas mais baratas… Então, acho que tem muita coisa. A gente tem que cumprir nossas metas de bilheteria, de receita da arena, de manter margens estabelecidas no orçamento. O Atlético hoje, pela primeira vez também, em 2023, pós-SAF, todas as diretorias têm metas específicas e orçamentos bem determinados, delineados, a serem cumpridos.

A gente acompanha praticamente diariamente as redes sociais e vê movimentações dos torcedores. Uma crítica que percebemos, especialmente nos momentos ruins, está relacionada à falta de comunicação dos dirigentes, das principais vozes do clube, com o torcedor – especialmente nos momentos ruins da equipe. Como você enxerga esse apontamento? Como vê as críticas da torcida nesse sentido?

Eu acho que a gente tem um planejamento de comunicação que foi feito, que está sendo implementado ao longo desse ano, e a gente tem os devidos porta-vozes. A gente tem quem fala sobre futebol, quem fala sobre os aspectos gerais do clube (que sou eu), e a gente tem isso bem organizado. A gente precisa ter muita disciplina. Temos sido bastante cobrados sobre isso, e essa disciplina… Você vê: a gente vai conversar, tem que acertar com o departamento de comunicação. A gente vai se pronunciar sempre tentando de forma equilibrada, para todos os veículos. Então, eu acho que é por aí que a gente tem que construir essa interface com imprensa, com torcida, etc.

Bruno, para a gente fechar nesse aniversário de 116 anos, queria que você deixasse algum recado para o torcedor. O que a torcida do Atlético pode esperar da gestão da SAF e do futebol nesse 2024?

Eu acho que a torcida pode esperar uma gestão extremamente séria, comprometida com o longo prazo do Galo. A SAF veio para poder perpetuar o Atlético, com uma visão de longo prazo. Ninguém está aqui dentro para poder ganhar uma coisa a qualquer custo e amanhã ir embora. Então, eu acho que isso é uma coisa que a gente pode esperar. Podemos esperar que, dessa maneira, a gente vai ter um time cada vez mais competitivo, mais sustentável, mas sempre dentro de um equilíbrio que a SAF vê para o Atlético, porque agora nós não temos mais nenhuma chance de erro. Nós precisamos respeitar o orçamento, precisamos criar aquele ciclo virtuoso que eu comentei.

Assista à entrevista de No Ataque com Bruno Muzzi pelos 116 anos do Atlético

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