Abril de 2008. Com três gols nos primeiros quatro jogos como atleta profissional, uma promessa pedia passagem no Atlético. Tratava-se do jovem meia-atacante Renan Oliveira, então aos 18 anos. A trajetória de altos e baixos no futebol, contudo, não correspondeu às expectativas dos torcedores alvinegros. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, o jogador revisitou a carreira e abriu o jogo ao falar sobre o passado: “Se eu pudesse voltar no tempo…”.
Meia-atacante de boa técnica e visão de jogo, Renan Oliveira era tido como promessa até mesmo em âmbito nacional. Em 2009, fez parte da geração que conquistou o Campeonato Sul-Americano Sub-20 ao lado de nomes como Éverton Ribeiro, Giuliano, Douglas Costa, Alan Kardec e Walter.
Ao analisar o passado, o atleta disse acreditar que as lesões impediram maior sucesso dentro das quatro linhas. À reportagem, Renan Oliveira revelou que conviveu com dores em praticamente todo o início da jornada como jogador profissional.
Mais distante dos holofotes, o meia-atacante de 34 anos defende o Boa Esporte no Módulo II do Campeonato Mineiro. Mas a paixão pelo futebol segue a mesma do garoto que cresceu no futebol de salão em Itabira, no interior de Minas Gerais.
Ao No Ataque, Renan Oliveira revelou arrependimentos, relembrou passagens por América, Atlético e outros clubes e se disse grato ao Galo. Você pode acompanhar a entrevista da maneira como preferir: em vídeo, no player a seguir, ou em texto, na sequência desta reportagem.
No Ataque com Renan Oliveira: assista à entrevista completa com o meia-atacante ex-Atlético
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Renan, queríamos começar te perguntando sobre o extracampo. Como você leva a vida quando não está jogando futebol? Ficamos sabendo que tem qualidade também no futevôlei, hein?
Isso é um hobby que eu gosto bastante, estou tentando melhorar (risos). Ainda não cheguei lá, mas quem sabe mais tranquilo, aposentado… Quem sabe vou poder ficar bom no futevôlei também.
Renan, vamos falar sobre o atual momento da sua carreira. Nos primeiros meses do ano, você integrou o elenco da Portuguesa Santista, que bateu na trave no acesso à elite do Campeonato Paulista. Agora, um novo desafio com o Boa Esporte no Módulo II do Campeonato Mineiro. Como você avalia a temporada até aqui e o que espera da sequência do ano?
São dois desafios. Primeiro a Portuguesa. Quase tivemos esse acesso para a Primeira Divisão, mas fomos eliminados nos pênaltis. Mesmo com todos os problemas que tivemos no clube, o grupo se portou bem e conseguimos ter uma boa campanha.
O Boa é pela tradição e força que tem em Minas, pelo propósito do campeonato, das contratações, do peso… Me fez com que escolhesse aceitar a proposta do Boa para tentar buscar os objetivos juntos.
Vamos voltar no tempo agora. Você jogou futsal por mais de 10 anos antes de atuar no futebol de campo. Como você enxerga essa importância do futsal na formação de um jogador de futebol? Com quantos anos você passou para o campo e como foi a adaptação?
Eu comecei com 5 anos no futsal do Valério. Joguei até os 13, quando fui fazer teste no Atlético. Acho que é muito importante o futsal, principalmente para os atletas mais jovens, porque tem muita malícia, o drible, o domínio. Todo jogador deveria ter essa escola de futsal antes de ir para o campo.
Logo no seu começo como profissional no Atlético, você marcou três gols nos quatro primeiros jogos – inclusive um da vitória sobre o Tupi, na semifinal do Mineiro. Depois de algumas partidas, se tornou titular da equipe. Você entende que essa ascensão fulminante pode ter gerado uma expectativa e pressão muito alta por parte da torcida?
O momento que o Atlético vivia era um momento muito difícil, tinha acabado de retornar à Série A. O imediato de ter jogadores da base no profissional talvez fez com que vários jogadores pulassem etapas. Eu até consegui jogar no profissional do Atlético e em outros clubes, mas muitos da minha idade não tiveram essa sorte por queimar essa etapa e pela precisão do momento.
Comecei como centroavante no Atlético, jogava assim na base. Isso facilitou para que eu tivesse feito mais gols no começo da minha carreira. Depois, quando o Marcelo Oliveira assumiu o Atlético, ele me recuou um pouco para jogar como meia.
Em 2009, ainda jovem, você conquistou o Sul-Americano sub-20 com a Seleção Brasileira. Como foi fazer parte daquele grupo, que tinha figuras como Giuliano, Douglas Costa, Walter e Alan Kardec?
Sensacional representar o nosso país. Sempre foi uma honra muito grande para mim. A primeira convocação me pegou de surpresa. Até a última, o sentimento de vestir a camisa amarela era sempre o mesmo.
Jogar com esses caras foi um prazer, tenho amizade com eles até hoje. Sempre falo nas entrevistas do Walter, principalmente, que eu tive esse privilégio de jogar. Como camisa 9, foi o melhor que atuei até hoje. Vi fazendo coisas absurdas com a camisa da Seleção. Douglas Costa e outros também, foi um prazer.
Em 2010, você estava emprestado ao Vitória, e o Dorival Júnior pediu sua volta ao Atlético. Naquele ano, foi importante para o time, marcou dois gols contra o Flamengo no Maracanã. Qual a importância do Dorival, daquela temporada e dessas atuações na sua carreira?
Eu nem esperava esse retorno tão rápido. Tinha acertado com outra equipe (o América). O Maluf (diretor de futebol do clube na época) me ligou e disse que o Dorival (Júnior, técnico) gostaria de contar comigo.
Foi aquele baque, um susto, mas foi muito bom, porque era a minha vontade naquele momento. Pude ajudar. Nunca tinha conversado com o Dorival, e ele ter tido essa confiança em mim e eu poder ajudar o Atlético a dar uma arrancada foi muito gratificante.
Fui em 2014 (para o América), voltei em 2017, mas era para ter acontecido em 2010. Estava embarcando para ir ao América, mas recebi a ligação.
Em 2012, uma nova saída do Atlético, já com Cuca no comando. Como era o dia a dia com ele? Chegou a ter uma conversa com ele sobre ter mais oportunidades no Atlético? Posteriormente, ficou uma frustração por não ter tido a chance de fazer parte daquele time
Não, acho que aquele momento era de respirar novos ares. O Cuca tinha os jogadores que ele confiava e gostava. Teve uma conversa bem franca comigo naquele momento. Eu tive os dois melhores anos da minha carreira em 2012 e 2013 no Goiás. Então foi bom para o meu crescimento. O Atlético se encontrou com títulos. No fim das contas, foi bom para todos. Lógico que eu gostaria de ter retornado, ter tido mais oportunidades em 2014, mas acabou que não aconteceu e segui minha vida também.
Em 2014, você volta para uma passagem curta no Atlético e divide vestiário com o Ronaldinho e outros campeões da Libertadores em 2013. Como era o dia a dia com aquele elenco? Tem alguma história curiosa com o Gaúcho pra contar?
Já conhecia a maioria. O Ronaldo é até complicado de conversar com o cara (risos). Parece que está no videogame, um filme… Não sem nem explicar a sensação. É muito bom ter esses caras no elenco, poder viver essa experiência.
Lembro de um episódio que eu estava subindo para almoçar, ele estava vindo, e eu dei uma atrasada na passada. Falei: ‘Ronaldo, minha mãe é tua fã, tem como tirar uma foto para eu mandar para ela?’. Ele respondeu: ‘É, sua mãe que é minha fã, né? Sei’.
Era muito bom ter um cara como ele no elenco. Era mais calado, sentava e não conversava muito, mas dentro de campo estava sempre ajudando, principalmente os mais novos.
Renan, queríamos que você fizesse um balanço dessas três passagens no Galo. A gente sabe que um atleta enfrenta muitas dificuldades na carreira. Inserido nesse contexto, por quais motivos você acredita que não conseguiu se tornar o que a torcida esperava? O que foi mais determinante para isso?
Se eu pudesse voltar no tempo, eu teria um fisioterapeuta 24 horas por minha conta. Principalmente no começo da carreira. Sofri muito com pubalgia, dores no joelho e depois tive lesão no tornozelo. Se eu tivesse me dedicado mais, principalmente na parte da fisioterapia, poderia ter tido mais sucesso no Atlético.
Lógico que sou muito feliz pelo que vivi. Tive meus bons momentos no Atlético, ajudei em vários momentos. Mas se pudesse voltar no tempo, eu teria um fisioterapeuta só por minha conta para que eu pudesse me recuperar mais rápido. Sofri bastante, principalmente em 2008 e 2009.
(Cheguei a atuar com dor) em praticamente todos os jogos que atuei pelo Atlético. Quando você fica mais maduro, experiente, vê a importância das coisas. Fisioterapeuta 24 horas por fora, um nutricionista. Essas coisas ajudam muito para o atleta se desenvolver no futebol. Naquela época meu negócio era só jogar bola, treinar, ir para o jogo. Muitas vezes isso passou despercebido por mim.
Nesse período chegaram propostas de fora também. Como foram essas situações e por que você não foi para a Europa naquele momento?
O que chegou de concreto para mim foi uma proposta do CSKA, em 2009, eu estava voltando de lesão. O Kalil falou que não iria me vender, não tinha conversa. Mas também não era meu desejo, queria me tornar um ídolo do Atlético.
Tive a segunda em 2011, quando o André veio para o Atlético, o Dínamo de Kiev me pediu, e o Galo não liberou. Oficialmente chegou isso.
Em 2014, quando o Enderson saiu do Goiás para o Grêmio, tentou me levar. Depois teve uma troca: o Botafogo queria trocar o Renato com o Galo, mas também não evoluiu.
Depois de outros empréstimos, em 2017 você retornou ao América, clube pelo qual já tinha atuado em 2014. E mais uma vez com bom desempenho, conquistando a Série B daquele ano. Quais são as suas principais memórias das passagens pelo Coelho? Por que não ficou por mais tempo no clube?
Era um elenco fantástico. Jogadores que eram acostumados a vencer, mesclando com jogadores novos que estavam aparecendo para o futebol, como Zé Ricardo, Matheusinho. Era um grupo muito unido, sabia dos propósitos. Isso facilitou bastante.
A gente tinha certeza que iria conquistar o acesso, mas fomos premiados com o título. Era um Brasileiro complicado, com o Internacional, mas nosso elenco era muito preparado. A gente mostrou que estava preparado para ser campeão.
Você teve bons números naquele ano. Como foi sua saída do América?
Sempre tive oportunidade de jogar com o Enderson. Me levou para o Goiás, para o América. Em 2018, quando ele sai do América, começo a nem ir mais para os jogos. Não sei muito o porquê. Estava jogando com ele e comecei a não ser relacionado. Vi que não teria mais oportunidades com o Adilson Batista e procurei novos ares. Fui para o CRB.
Em 2019 e 2020, você teve experiências internacionais no FK Suduva, da Lituânia. Chegou a conquistar a Liga Lituana, a Copa da Lituânia e jogou na Liga Europa. Como foi essa adaptação a uma cultura e a um futebol totalmente diferentes? E o que essas jornadas agregaram para você, tanto como atleta quanto como ser humano?
Sempre tive esse sonho de jogar fora. Tive essa oportunidade no FK Suduva. Não sabia muito do clube. Tive algumas informações para ir: era bicampeão, jogadores todos eram praticamente da Seleção da Lituânia. Cheguei com o time já pronto, então minha facilidade de adaptação em relação a isso foi muito grande, porque o time já era pronto, tinha um time formado.
Eu cheguei, joguei futebol. Não tive dificuldade no país. Tem tudo lá em relação à alimentação. Eles falam inglês, facilitou bastante para poder me adaptar. Foi uma experiência bacana. Joguei as eliminatórias da UEFA, foi marcante para minha carreira.
Renan, agora gostaríamos de propor um jogo rápido, de perguntas e respostas curtas. Vamos nessa?
Seu melhor amigo no futebol.
Serginho, Marcos Rocha e David (volante do Goiás).
O jogador mais resenha com quem você atuou.
Leandro, lateral-esquerdo.
O gol mais bonito que marcou.
Um gol que eu gosto muito foi um de letra pelo Atlético, mas um que eu gosto muito é um que fiz contra o Vasco no Mineirão. O primeiro jogo que minha mãe foi assistir ao vivo. Ela não gostava de ver jogo, e pude dedicar para ela.
A temporada mais especial da carreira.
2010, no Atlético, e 2012, no Goiás.
O título mais especial da carreira.
Série B por Goiás e América.
Um sonho realizado no futebol.
Ter sido profissional e ter vestido a camisa do Atlético.
Um sonho não realizado no futebol.
Não ter atuado pela Seleção Brasileira principal.
Defina o América em uma palavra.
Carinho, oportunidade.
Defina o Atlético em uma palavra.
História, começo de tudo, abriu as portas. Gratidão eterna.