ATLÉTICO

Mariano se declara ao Atlético em carta emocionante: ‘Luz na rua sem saída’

Multicampeão pelo Atlético, Mariano relembrou infância, carreira, primeira passagem conturbada no Galo, e disse: 'Voltar foi o melhor que podia ter me acontecido'
Foto do autor
Compartilhe

Multicamoeão pelo Atlético, o lateral-direito Mariano se declarou ao clube alvinegro em carta aberta publicada pelo The Players Tribune nesta segunda-feira (12/8). No relato, o jogador relembrou a infância, o início da carreira como jogador, a primeira passagem conturbada pelo Galo, a consolidação na Europa e, por fim, o retorno ao time mineiro em 2020, que classifica como “a melhor coisa que podia ter me acontecido”.

O jogador de 38 anos disse que o Atlético deu a ele “nova luz na rua sem saída”, pois, além da conquista de títulos e da “redenção” com a torcida após ser demitido por indisciplina em 2008, quando tinha 22 anos, a volta ao Galo possibilitou que ele alcançasse a “mais especial” das metas traçadas por ele para a vida: mudar a relação com a família. Veja, abaixo, os principais destaques do emocionante relato do lateral.

Infância e início da carreira

Nascido na cidade de São João, em Pernambuco, Mariano cresceu na periferia de Osasco, Região Metropolitana de São Paulo. Na carta, ele conta que tem 10 irmãos e levava “vida modesta, mas sem passar fome” graças aos pais, que migraram do estado pernambucano para o paulista de pau-de-arara e eram “muito trabalhadores”, mas confessa que ficava incomodado com a distância entre os entes: “Não existia tanto carinho, atenção, conversa. Talvez nem existisse tempo para isso”.

O atleta relembra que os momentos mais alegres deo início da vida dele eram jogando bola “numa rua sem saída”, com golzinhos improvisados feitos de chinelos ou tijolos.

No início da trajetória profissional, Mariano conta que ficou “deslumbrado” pela mudança de vida que o futebol lhe estava proporcionando – muitos campos para treinar e jogar, médico, nutricionista e etc. Ele começou no Guarani, de Campinas-SP, depois passou por Ipatinga, Tombense e Cruzeiro e, em 2008, aos 22 anos, chegou ao Atlético, onde viveu o que define como “o momento mais difícil da carreira”.

Saída conturbada do Atlético

Mariano foi demitido por justa causa do Atlético após abandonar a concentração antes de partida contra o Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro. No relato, ele disse que, após o acontecido, viu-se “numa rua sem saída afundando no breu”.

Contrariando as regras da comissão técnica, eu e outros dois jogadores deixamos o hotel pra curtir a cidade e voltamos só de madrugada. Eu nem joguei aquela partida. Mandaram a gente de volta pra Belo Horizonte já avisando que não fazíamos mais parte do grupo. Fiquei arrasado. ‘Como fui capaz de jogar tudo pela janela? O que vai ser da minha vida agora?’

Mariano, lateral do Atlético

O jogador relembra que precisou “deixar o clube dentro de um carro de polícia pra não apanhar de torcedores enfurecidos” e pensou que, após a demissão, achava que a carreira havia acabado e que nenhum clube iria procurá-lo. Mas revelou que “a luz se acendeu de novo” para ele quando, pouco depois de ficar livre no mercado, foi contratado pelo Fluminense.

Carreira na Europa

Após se destacar no Fluminense ao londo de três anos, Mariano passou quase uma década na Europa – chegou ao Bordeaux, da França, no início de 2012, foi para o Sevilla, da Espanha, em 2015 e, em 2017, acertou com o Galatasaray, da Turquia, clube que defendeu até o meio de 2020, quando retornou para o Atlético.

Na carta aberta, o lateral-direito revelou bastidores da carreira no Velho Continente e disse que, quando enfrentou o Barcelona de Lionel Messi, Luis Suárez, Iniesta e Neymar, pensou: “‘Meu Deus do céu, onde eu vim parar! Se tiver que encerrar a carreira hoje, eu encerro satisfeito’. Refletia sobre essas coisas, mas, no fundo, eu queria dizer elas para o meu pai. E eu nem sabia se ele estava assistindo a mim, porque eu telefonava pra casa só duas ou três vezes por ano, para aquela conversa de pouquíssimas palavras de sempre”.

Retorno ao Atlético

Mariano contou que, ao retornar para o Brasil, para jogar no Galo, em 2020, tinha um objetivo principal: “Voltar para perto dos meus pais e dos meus irmãos e de uma vez por todas dar um jeito naquele aperto no peito (distância e falta de conexão com a família) que me acompanhou praticamente a minha carreira inteira”.

O lateral-direito disse que ficou chateado com a postura de parte da imprensa, que classificou como “maldosa a ponto de dizer que eu tinha voltado pra me “redimir” daquele caso de indisciplina”, quando, na realidade, ele já era um jogador consolidado e havia voltado devido à “boa proposta de trabalho” e ao “projeto ambicioso da diretoria”, já que “2021 era um ano-chave para o Atético: meio século desde a conquista do Brasileiro de 2021”.

Mariano relembrou as históricas conquistas do Mineiro, da Copa do Brasil e do Brasileiro em 2021 e se declarou à torcida do Galo: “Quando caímos invictos na Libertadores, o torcedor passou a vir em massa pro Mineirão pra empurrar o time no Brasileiro. Cara, eu tinha esquecido da beleza de um Mineirão lotado em dia de jogo do Galo. Eu acho que é amor mesmo. A gente entrava em campo sabendo que ia ganhar, te juro. Isso a Europa não tem. De jeito nenhum. Eu sei o que estou dizendo”.

Aproximação da família

Mariano contou que, graças ao Galo, conseguiu, finalmente, se aproximar da família. Isso porque, quando voltou ao Atlético, passou a levar os pais e familiares para assistir aos jogos dele em Belo Horizonte e em São Paulo – antes, eles nunca tinham visto o lateral jogar in loco – e passou a visitar mais vezes a família em Osasco, onde viviam.

Sou muito grato ao Atlético. Voltar foi a melhor coisa que podia ter me acontecido. Não só do lado esportivo, que segue me motivando a lutar por mais títulos e a contribuir com este clube maravilhoso da forma que eu puder. Mas também do lado pessoal. Acho que nem dá pra dizer que eu me reaproximei da minha família. Eu me aproximei. E da melhor maneira. Sem remoer o passado, sem procurar culpados, sabendo que dá pra melhorar mais e tentando finalmente ser um time. Os Ferreira de Osasco. Que se juntaram à Massa no Mineirão para me ver campeão.

Mariano, lateral-direito do Atlético

O lateral-direito, que tem contrato com o Atlético até o final do ano e se aproxima do fim da carreira, conclui o texto dizendo que já cumpriu “todas as metas” que havia estabelecido para a vida e a trajetória como profissional, inclusive a principal delas, que era se aproximar da família, e agradece ao Galo mais uma vez: “Obrigado por essa nova luz na minha rua sem saída, Galo. Muito obrigado. Venha o que vier, eu jamais vou te esquecer”.

Mariano pelo Atlético

  • Jogos: 175 (19 na primeira passagem, em 2008, e 156 na segunda, entre 2020 e 2024)
  • Gols: 1
  • Assistências: 10
  • Títulos: 7 – Campeonato Brasileiro (2021), Copa do Brasil (2021), Supercopa do Brasil (2022), Campeonato Mineiro (2021, 2022, 2023 e 2024)
Compartilhe