Aos 21 anos, após passar mais de um semestre convivendo e jogando com Ronaldinho Gaúcho, o volante Fillipe Soutto pediu para deixar o Atlético. Ao fim de 2012, incomodado com a falta de oportunidades no Galo, o atleta conversou com o técnico Cuca e solicitou transferência do clube mineiro.
Soutto relembrou o momento em entrevista ao Canal do Frossard. Naquela temporada, o volante havia perdido espaço até mesmo no banco de reservas.
“Pedi ao Cuca para sair. Ele tentou me convencer de que eu seria importante em 2013, porque seria um ano com mais campeonatos, mais jogos e tal. Eu fui taxativo: ‘Esse ano foi um ano ruim para mim’. Ele sempre me dava feedbacks positivos: eu estava treinando muito bem, ia ter minha oportunidade e não sei o quê. Só que o tempo estava passando e eu via que essa oportunidade estava cada vez mais rara”, iniciou.
“Até porque existia uma outra questão que era o seguinte: eram apenas sete no banco, com um goleiro. Tinha o Serginho, que jogava de lateral e volante, e tinha o Richarlyson, que era lateral, zagueiro, volante, meia, tudo. Para eu ter uma vaga no banco era difícil também. Na hora que os caras comparavam, pegavam: ‘Quanto cada um ganha? O quê cada um representa? Como eu corto o Richarlyson do banco? O que isso vai gerar no ambiente?’. Hoje eu entendo. Na época, ficava chateado”, prosseguiu.
Fillipe Soutto: “Foi um erro de gestão de carreira do Atlético”
O volante havia terminado o ano de 2011 em evidência, mesmo com a goleada sofrida pelo Atlético diante do arquirrival Cruzeiro, por 6 a 1, no Campeonato Brasileiro. Fillipe Soutto compreende que aquele seria o momento ideal para uma transferência.
“Eu achei que ali foi um erro de gestão de carreira do Atlético, sabe? Não sou frustrado, acho que frustração não é a palavra, mas acho que poderia ter sido melhor para todo mundo – inclusive, para o clube. Terminei o ano de 2011 muito bem e valorizado. No fim de 2011, eu vendo uma parte do meu passe ao Bmg. Naquela época, era o patrocinador master, tinha uma relação muito boa com o Atlético e já comprava jogador para vender no fim da temporada. Era a forma de eles fazerem dinheiro”, relembrou.
Concorrência com Pierre e Donizete no Atlético foi fator-chave
Soutto destacou que Cuca procurou iniciar a temporada 2012 conferindo maior consistência defensiva ao meio-campo e, por isso, optou pela escalação de dois volantes com mais características de marcação: Pierre e Leandro Donizete. Ainda assim, demonstrou descontentamento com o que era exigido por parte do treinador paranaense.
“Começa o ano de uma forma mais sólida no meio, dando mais liberdade principalmente para o Bernard. Nosso meia na época era o Mancini, um cara mais rodado, que não ia combater tanto, e o Cuca preferiu colocar dois volantes de mais pegada no meio. Eu tinha uma certa dúvida e ninguém soube me responder na época: por que eu tinha que marcar igual o Pierre e o Donizete, mas os dois não tinham que jogar igual a mim?”, indagou.
“Eu tinha um ponto forte, que era minha parte técnica. Era mais de organização do jogo e tal. Eu me destacava assim, nunca me destaquei por roubar bola, por desarmar. Os caras eram muito mais agressivos do que eu sou inclusive hoje. É questão de característica. Eles são roubadores de bola mesmo, são mais de combate, de enfrentamento. O Pierre talvez seja um dos melhores marcadores da história do futebol brasileiro. No um contra um, ele era muito bom. O Donizete também era um cara mais viril, e eu sempre fui um cara mais técnico”, analisou.
Por fim, o atleta disse ter se visto desvalorizado na reta final de 2012 em virtude da falta de oportunidades. Fillipe reafirmou que o Galo deveria ter aproveitado o fim da temporada anterior para negociá-lo.
“Eu entendia que era uma coisa tática, só que com isso, na minha opinião, o Atlético tinha que ter aproveitado o Campeonato Mineiro – ou até antes – e me negociado. Já que o treinador quer dessa forma, é melhor a gente já ganhar dinheiro com ele e liberar para ele viver a vida dele também. Acabou que, no fim das contas, nem uma coisa nem outra aconteceu. Fui importante naquele ano de 2012, joguei bastante até – mas bem menos do que 2011 e, com isso, a valorização cai. Automaticamente, o cara vai se desvalorizando. Aí, no final de 2012, mesmo sendo vice-campeão brasileiro e eu tendo jogado alguns jogos, eu peço para sair”, pontuou.
Há quase três anos no Botafogo-SP, Fillipe Soutto foi revelado pelo Atlético em 2010. Com a camisa preta e branca, disputou 62 jogos, contribuiu com três gols e conquistou o Campeonato Mineiro de 2012.