O Atlético protagonizou polêmica nesta terça-feira (8/10). O Mural Alvinegro, localizado no entorno da Arena MRV, amanheceu com a imagem do jornalista Fred Melo Paiva, colunista do jornal Estado de Minas, apagada. A retirada da pintura ganhou repercussão negativa entre os fãs do Galo. O atacante Hulk também demonstrou desconforto.
Na internet, torcedores do Atlético pediram respeito. “Os Menin estão manchando a história mais bonita do futebol brasileiro”, escreveu um. “Não entendi esse ataque ao Fred. Ele merece respeito”, disse outro. Palavras como “boicote” e “absurdo” também foram compartilhadas por alvinegros.
O atacante Hulk não compartilhou nada, mas não precisou. Uma simples curtida entregou o posicionamento do camisa 7. Ele interagiu com vídeo publicado pelo jornalista Guilherme Frossard que representa a indignação dos atleticanos.
“Eu consegui confirmar que sim, foi uma orientação, uma ordem, chamem como quiser, da SAF, que o rosto do Fred Melo Paiva fosse apagado. Porque é um crítico dos atuais donos da SAF do clube. Isso, para mim, é um desrespeito evidente à história democrática do Clube Atlético Mineiro. Se querem deixar esse muro como uma representação do torcedor, eles têm que entender que o Clube Atlético Mineiro é de todo mundo. A SAF pode ser de alguém, 60% de um, 30% de outro. O Clube Atlético Mineiro é meu, seu e do Fred também”, disse o jornalista, revoltado.
Atleticano ilustre, o ator Daniel de Oliveira também se manifestou contra a remoção do rosto de Fred do mural. Por meio dos stories do Instagram do Território do Galo, bar administrado por ele localizado à frente da entrada principal da Arena, o artista disse: “(Fred é) um dos atleticanos mais importantes da história. Já me apagaram do Mural Alvinegro/ Eu estou ali do lado…só esperando a hora de ser apagado! Dar espaço para outros, ok, mas que é estranho assim tão rápido, isso é!”.
O No Ataque procurou a comunicação da Arena MRV, que disse: “O Mural Alvinegro, que é uma iniciativa da torcida, passará por constante reformulação e manutenção periódica. Algumas imagens serão trocadas em função do desgaste da pintura, e para homenagear um número maior de atleticanos”.
Fred Melo Paiva
A paixão de Fred Melo Paiva pelo Atlético ficou conhecida nacionalmente pelo êxito de suas crônicas no jornal Estado de Minas. Em 2013, ele lançou o livro “O Atleticano vai ao Paraíso – Do Quase Rebaixamento à Conquista do Título Impossível”, com 78 colunas publicadas no jornal.
O diretor de Redação do Estado de Minas, Carlos Marcelo, considerou a ação lamentável e destacou: “Fred consegue traduzir, em palavras, a paixão atleticana. Foi assim que formou o hábito de leitura e conquistou a admiração do torcedor do Galo ao longo dos treze anos que escreve semanalmente a sua ‘coluninha’, como ele chama os seus textos, sempre inspiradíssimos, que fazem sorrir, se indignar, emocionar. E isso ninguém é capaz de apagar.”
No Estado de Minas, o jornalista publica uma crônica semanalmente, aos sábados, sob o ponto de vista do torcedor atleticano. Leia, a seguir, a mais recente.
Leia a mais recente crônica de Fred Melo Paiva
“Apesar dos mais de 13 anos em que labuto neste ofício de “colunista do Galo”, entendo cada vez menos sobre a tática do futebol, essa física quântica para mim tão insondável quanto a arte de se tocar um violão. Ou uma gaita, que eu também tentei – assassinando logo de cara o solo de “Blowin’ in the Wind”, transformado em guinchos de um animal ferido. A resposta soprada pelo vento não deixou margem a novas aventuras (eu também já havia espancado antes uma bateria): limite-se a tocar apenas o interfone.
Desconfio que as notas musicais se alojam na mesma porção do meu cérebro onde se encontram os esquemas táticos do futebol, além das línguas estrangeiras que falo de forma macarrônica e bem longe de um Barilla, muito mais uma Vilma ou Renata – justamente a porção onde ficam os miolos moles, aquela parte extraviada de algum asno e que veio a aproximar o homem e a minhoca.
Convidado a escrever neste espaço, era como se estivessem a contratar para crítico musical um surdo absoluto. Aceitei, fiando-me exclusivamente na minha capacidade como ordenhador de pedras, e de fato nisso eu sou bom, assim como sei encher uma linguiça de forma bastante aceitável.
Sem poder me alongar sobre o futebol numa coluna de futebol, decidi focar nas pessoas – mais especialmente no atleticano patológico, grupo de risco do qual faço parte, tendo há muito desistido das sessões do AA, os Atleticanos Anônimos, pois a doença, como se sabe, não tem cura. E se tivesse, ninguém ia querer se curar. Tinha a vantagem de a patologia ser pandêmica, ou seja, já não havia atleticano imune em parte alguma do mundo. Estavam à disposição do meu laboratório milhões de doentes, além da minha própria pessoa, irremediavelmente lesada por esse vírus galináceo…”.