Reforço do Atlético para 2025, Júnior Santos teve uma história de superação no futebol. Aos 20 anos, ele saiu de Conceição do Jacuípe, no interior da Bahia, para ganhar a vida em Salvador. Naquela ocasião, o esporte era apenas lazer, visto que o rapaz não pensava em se tornar profissional. De segunda a sexta-feira, Júnior trabalhava como ajudante de pedreiro. Aos sábados e domingos, corria atrás da bola em campeonatos amadores.
O talento de Júnior Santos na várzea da capital baiana virou fonte de renda. Inicialmente, ele recebia R$ 50 por partida. Na medida em que se tornava mais conhecido com seus gols, passou a cobrar R$ 300. Como entrava em campo de duas a três vezes na semana, chegou a faturar R$ 3 mil por mês. Isso lhe possibilitou abandonar a atividade de servente de pedreiro. E, claro, abriu definitivamente as portas para a mudança de vida.
Depois de faturar na várzea de Salvador e rejeitar propostas de Bahia de Feira e Fluminense de Feira, Júnior Santos ouviu uma “profecia” na igreja de que rodaria pelo mundo da bola. Assim, deixou Salvador e se aventurou no interior de São Paulo, onde competiu na quarta divisão do Paulistão de 2017 pelo Osvaldo Cruz Futebol Clube. A história foi contada pelo próprio atleta em entrevista ao ge.globo, em maio de 2023.
“Na minha cabeça não acreditava que poderia ser (jogador), até que recebi uma profecia na igreja que eu rodaria o mundo jogando futebol, acabei me afastando e um dia um cara chegou em um dos jogos amadores e disse “Cara, você joga em que time?”, eu respondi que não jogava e ele me disse que eu estava perdendo tempo, que se jogasse eu seria um grande jogador. Aquilo ficou na minha mente e eu tentei. Foi quando surgiu a oportunidade de ir para São Paulo, vendi o pouco que eu tinha, vendi fogão, geladeira, e fui. Graças a Deus deu tudo certo”.
Júnior Santos
Júnior Santos fez cinco gols em 17 jogos no torneio. O Osvaldo Cruz caiu nas quartas de final para o Manthiqueira, que viria a ser campeão. Graças ao bom desempenho individual, o atacante passou por um período de testes no Ituano. Aprovado, assinou um contrato profissional, conquistou espaço no elenco e não demorou a alçar voos mais altos. Ele atuou por Ponte Preta, Fortaleza e nos japoneses Kashiwa Reysol, Yokohama Marinos e Sanfrecce Hiroshima.
A ascensão de Júnior foi impressionante. Em sua primeira participação na Série B, em 2018, anotou oito gols pela Ponte. No Japão, destacou-se principalmente no Yokohama Marinos, com 13 gols em 23 jogos na J1 League de 2020. Já a melhor fase da carreira veio em 2024, ano em que ajudou o Botafogo a ganhar a Copa Libertadores – da qual foi o artilheiro, com 10 gols – e o Campeonato Brasileiro. O jogador encerrou a temporada com 20 bolas na rede em 50 apresentações.
Esse roteiro teve uma pessoa com papel fundamental. Na época em que estava no interior de São Paulo, Júnior pensou em largar tudo e voltar para a Bahia. Entretanto, recebeu apoio do pai, José Antônio, que lhe aconselhou a continuar em busca do sonho – sob “pena” de nunca mais conversar com o filho caso ele realmente desistisse. Quando o atleta começou a deslanchar, seu genitor foi acometido por um AVC e perdeu a memória. José acabou falecendo em 2021, aos 67 anos.
“Sempre me emociono quando lembro disso porque foi muito difícil. Sou muito feliz, independentemente do sofrimento que passei, isso me tornou mais forte. Todos nós temos um propósito nessa vida. Independentemente do sofrimento, temos um Deus que está nos vendo”, ressaltou Júnior Santos, que havia vivenciado o drama de perder a mãe aos sete anos de idade, em 2001.
Pretendido pelo Cruzeiro
Em maio de 2024, já com o empresário Pedro Lourenço à frente da SAF, o Cruzeiro tentou contratar Júnior Santos, que despontava como grande destaque do Botafogo – tinha 16 gols em 29 jogos. O clube celeste enviou uma proposta de 5 milhões de euros (R$ 27 milhões), porém o dono do Alvinegro Carioca, John Textor, considerou o valor aquém das expectativas.
Na época, Júnior se mostrou contente pelo interesse do Cruzeiro, mas ressaltou o desejo de seguir no Botafogo. Em junho, seu contrato foi renovado até dezembro de 2027, garantindo um reajuste salarial e uma valorização nos direitos econômicos.
Após um primeiro semestre impecável, Júnior Santos sofreu uma lesão na tíbia esquerda na vitória por 1 a 0 sobre o Internacional, em 20 de julho, pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro. O problema o afastou dos gramados por dois meses. Nesse intervalo, Igor Jesus ganhou espaço na equipe, assumiu a titularidade e formou boa dupla com Luiz Henrique.
No retorno às atividades, Júnior entrou como suplente. Na decisão da Copa Libertadores, contra o Atlético, em 30 de novembro, ele marcou o terceiro gol botafoguense na vitória por 3 a 1, no Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires, na Argentina.
Quanto o Atlético vai pagar ao Botafogo por Júnior Santos?
Para contar com Júnior Santos, o Atlético desembolsará 8 milhões de dólares (R$ 48 milhões), quantia recorde na história recente do clube.
Até então, o Galo havia pagado US$ 6 milhões (R$ 32,2 milhões) pelo meia argentino Nacho Fernández, do River Plate, em fevereiro de 2021.
A aquisição de Santos é uma alternativa à saída de Paulinho para o Palmeiras. O time mineiro vendeu o camisa 10 ao Verdão por 18 milhões de euros, o equivalente a R$ 113 milhões.
Além de garantir uma boa quantia em caixa, o Atlético recebeu em troca os meio-campistas Gabriel Menino e Patrick.
Em dois anos no Galo, Paulinho disputou 120 jogos e anotou 50 gols. Já Júnior Santos contabilizou 28 tentos em 115 partidas pelo Botafogo.
Maiores contratações do Atlético (em reais)*
- Júnior Santos (Botafogo – 2025): R$ 48 milhões
- Nacho Fernández (River Plate – 2021): R$ 32,2 milhões
- Zaracho (Racing – 2020): R$ 31 milhões
- Guilherme Arana (Sevilla – 2020): R$ 27,4 milhões
- Gustavo Scarpa (Nottingham Forest – 2024): R$ 26,8 milhões
*Valores sem correção pela inflação
