ESPORTE NA MÍDIA

O forte depoimento de Hulk no aniversário do Atlético: ‘Acreditar, sempre’

Na carta, Hulk fez uma ode ao Atlético, destacando o espírito de luta, raça e amor que permeia a trajetória alvinegra desde 1908

No aniversário de 117 anos do Atlético, celebrado nesta terça-feira (25/3), o atacante Hulk homenageou o clube e os torcedores com um forte depoimento no site The Players’ Tribune – especializado em publicar histórias de atletas profissionais em primeira pessoa.

Na carta, Hulk fez uma ode ao Atlético, destacando o espírito de luta, raça e amor que permeia a trajetória alvinegra desde 1908. Para homenagear o clube, ele relembrou sua origem humilde, mas abundante em trabalho e superação em Campina Grande, na Paraíba.

O atacante ainda relatou os primeiros passos no futebol passando pela base do Serrano-PB, por Vilanovense, de Portugal; São Paulo e Vitória até o sucesso internacional em clubes como Porto, Zenit e Shangai.

No gran finale, Hulk ressaltou a realização de um sonho que só foi concretizado no Atlético, a partir de 2021.

Veja trechos marcantes do depoimento de Hulk

  • Infância na Paraíba
    “Lembro de muitos momentos felizes da minha infância por lá, mas, aos poucos, eu também ia me dando conta das dificuldades que a nossa família enfrentava. Uma de nossas moradias, por exemplo, nem vaso sanitário tinha, só um buraco. Num colchão de casal sem cama dormíamos os sete filhos, mais pai e mãe onde sobrasse chão. Fome nunca passamos, mas tinha dia que era farinha com açúcar no almoço e açúcar com farinha no jantar”.
  • Despedida
    “Tomei o futebol como se fosse um prato de macarrão com sardinha e comecei a me destacar nos torneios da cidade, depois da região e do estado. Até que apareceu Zé do Egito, amigo de um amigo de meu pai na feira e metido no mundo do futebol. Zé do Egito me viu jogar um dia e disse que me levaria pra viajar e fazer uns testes. Foi uma choradeira tamanha em casa, porque minha mãe não queria deixar: “Mas o menino tem só 12 anos, como é que vai ficar longe assim?! Vai não!”. Precisou de meu pai convencê-la, trazendo as credenciais de Zé do Egito de sujeito honrado e de confiança, conforme asseguravam na feira. Com Zé, que se tornou meu primeiro empresário, viajei pra João Pessoa, Vitória, São Paulo e, em 2001, com 15 anos, eu cheguei a Portugal pela primeira vez”.
  • Gozação em Portugal
    “Desembarquei em Portugal debaixo de gozação. O estádio não era mais das Antas, era o do Dragão agora, mas a atmosfera do clube continuava igual. E eu também: um total desconhecido com nome de super-herói. Lembro que os jornalistas perguntavam: “Agora que chegou o Hulk, quando vem o Homem-Aranha? E o Batman foi contratado também?”. Aquilo me magoava, mas o que eu podia fazer? Bom, no primeiro treino, fiz uma coisa. Estavam Quaresma, Lucho González, Bruno Alves, Cristian Rodríguez e todos os caras. Recebi uma bola na intermediária, avancei um pouco e dei: TUM! Aquela pancada de esquerda no ângulo. Foi um silêncio total. E o resto vocês sabem…”.
  • Racismo na Rússia
    “Fui para o Zenit, da Rússia, e quis ir embora logo no primeiro ano. Muita ciumeira da parte de alguns jogadores mais velhos do time e muito racismo dos torcedores adversários. Teve até bomba falsa com um bilhete “Fora Hulk” deixada no CT. Superei essas dificuldades iniciais, acabei ficando quatro temporadas, conquistei títulos e vivi muito bem na Rússia. Até que veio o boom do futebol chinês, e a proposta do Shanghai não tinha como recusar. Nem eu, nem o presidente do Zenit. Foi o melhor contrato da minha vida”.
  • Fim da linha na China?
    Não sabia o que esperar da China, mas eu não me decepcionei. O país é sensacional, seguro, muito tecnológico, pessoas cordiais, e o futebol, com bons jogadores sul-americanos e europeus, ficou bem competitivo. Eu só não queria que fosse o fim da linha pra mim. Não queria cumprir as cinco temporadas previstas no contrato e, aos 34 anos, encerrar a carreira com aquele vazio no peito que eu sentia desde que tinha deixado o Vitória, 15 anos antes. Aí o Atlético surge na minha jornada”.
  • Sonho realizado no Atlético
    Um dia eu percebi que pisar no campo do Mineirão vestindo a nossa camisa alvinegra, ouvindo a Massa cantando sem parar, vendo o meu pai fantasiado de Hulk pulando igual um guri na arquibancada, aquilo era mágico, pois me transportava para um estado de felicidade que eu só conheci de menino lá na minha terra. Era parecido com puxar a carroça de maçãs com Denilson, ou voltar pra casa de roupa ensanguentada e cabeça erguida depois de carregar osso de boi. Ou só sentar na calçada do bairro e tomar um refresco de caju. Se aquele menino que trabalhava pesado numa feira do interior da Paraíba chegou até aqui, você também pode realizar todos os seus sonhos. Nunca deixe de acreditar. Acreditar, sempre!

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