Um dos 30 atletas que mais marcaram gols na centenária história do Atlético, Everton Nogueira – que vestiu a camisa do Galo entre 1984 e 1987 – deixou o clube mais uma vez. Na década de 1980, ainda como jogador, ele saiu para defender o Corinthians, mas voltou ao time de coração em 2002, já fora de campo, para atuar nas categorias de formação. Depois de mais de duas décadas, o ciclo atual chegou ao fim para o ex-atacante de 65 anos, carinhosamente conhecido como “vovô da base”, que descobriu Savinho, hoje no Manchester City.
Everton e Eugênio Salomão (Baiano) foram desligados do Atlético nessa terça-feira (1º/4). Em entrevista exclusiva ao No Ataque, o ex-atacante, que balançou as redes com a camisa do Galo 92 vezes – é o 23º maior artilheiro do clube ao lado de Gérson ,- disse que gostaria de ter continuado a missão de “garimpar” pratas da casa: “Eu queria ajudar mais, a minha intenção era ajudar mais”.
“Fui pego de surpresa ontem, na parte da manhã, numa reunião com o nosso diretor novo que veio do Flamengo, o Luiz Carlos. Ele me chamou na sala e pensei que fosse algum contato para melhorar o trabalho da base. Então, ele disse que eu estava desligado. Foi muito de surpresa, senão a gente tinha comentado antes com os amigos e tal, né?”, contou Everton.
“Já são 23 anos de base. Me estranhou muito, é lógico que estou com 65 anos, mas tenho muita experiência, já passei por várias funções na base. Fiz de tudo lá desde o final de 2002, quando entrei. Fui coordenador, supervisor, trabalhei na captação e hoje eu dava assistência, estava como consultor técnico, que abastecia as categorias de base, dos oito ao 20 anos”, completou.
‘Vovô da base’ que descobriu Savinho
Entre tantos jogadores que ajudou a revelar no Atlético, Everton relembra com carinho de Sávio Moreira de Oliveira, o Savinho, do Manchester City e da Seleção Brasileira. “O mais famoso foi o Sávio, né? E, assim, esse negócio de revelar, todo mundo teve uma participação, é a questão de quem viu a primeira vez. Ele [Savinho] declarou lá uma vez, no time do Manchester. Fui o primeiro captador”, ressaltou.
O Galo vendeu Savinho ao Troyes, da França, – que pertence ao Grupo City – por 6,5 milhões de euros (R$ 33,5 milhões à época) em 2022. O clube mineiro manteve 12,5% dos direitos econômicos do jogador no acordo. Além disso, o alvinegro ainda tem mais 2% devido ao mecanismo de solidariedade, que compensa financeiramente os clubes formadores de atletas.
No Troyes, Savinho foi emprestado ao Girona, da Espanha, onde se destacou com 11 gols e 10 assistências em 41 jogos na temporada 2023/2024. O clube, inclusive, conseguiu uma surpreendente classificação para a Liga dos Campeões com a contribuição fundamental do ex-jogador do Atlético.
Diante disso, Savinho foi comprado pelo Manchester City no início do segundo semestre de 2024, em uma negociação que pode chegar a até 40 milhões de euros (R$ 243,4 milhões). Na temporada 2024/2025, Savinho já tem 38 jogos com a camisa do time inglês, com dois gols e nove assistências.
Orgulhoso da cria, Everton contou que o jogador já mostrava que seria uma estrela do futebol internacional desde pequeno.
“Ele chegou de Vitória pra nós, com uma turma. Eu fazia muito dessas captações assim, sabe? A técnica dele me chamou a atenção desde o começo, já era muito apurada. Chegou um pouquinho fora de forma, mas depois entrou no ritmo com aquela canhota… Ele partia para cima com muita habilidade, batia a chapada, que hoje é aquela característica dele no City. Essa geração de 2004 foi uma das melhores que tivemos no Galo”, relembra.
Com a experiência de quem viveu tanta coisa no Galo, ele acredita que novos frutos – como Savinho – serão colhidos. E deixa um pedido a quem comanda o clube.
“A SAF do Galo precisa ter paciência com estes meninos. Eu tenho uma turma chegando aí de 12 a 13 anos… O nosso juvenil já vai colher alguns frutos. Mas são vários nomes, não vou citar um ou outro. Só posso garantir que de longe vou acompanhar e ficar feliz por vê-los no profissional ou se forem vendidos para o futebol internacional, como foi com o Sávio. Nível internacional, podem acreditar no que estou falando, pois convivi com eles até ontem de manhã.”
Aposentadoria?
Everton ainda resiste à ideia de aposentadoria e revela: já recebeu propostas para trabalhar nas categorias de base de outros clubes da Série A.
“Graças a Deus a gente tem um vigor físico e boa saúde! Mas eu queria ajudar mais, a minha intenção era ajudar mais o Luiz Carlos, que chegou agora. Ele precisava muito da minha ajuda lá no CT, pela minha experiência, pelo meu contato. Os meninos me chamam de vovô lá, os pequenininhos. Eles já sabem da minha história também como ex-jogador”, salientou.
“Está tudo muito fresco ainda, né? Vou esperar, respirar um pouquinho. Estou com 65 anos, a tendência talvez seja uma aposentadoria. A gente também precisa descansar um pouco. Mas ainda não pensei na decisão. Depois a gente vai estudar direitinho aí. Já fui sondado por times da Série A, mas não vou falar nada não”, finalizou.