Em palestra de pouco mais de 1h20 de duração na Arena MRV, na manhã desta quarta-feira (30/4), as profissionais Michelle Rios e Neila Bittencourt destrincharam o papel do departamento de psicologia e saúde mental do Atlético a jornalistas. Das dinâmicas em grupo ao acolhimento das famílias, o setor trabalha para promover o bem-estar coletivo no Galo, com o objetivo de elevar a performance dos atletas dentro das quatro linhas.
O departamento de psicologia atua em cinco pilares no Atlético. Veja a matriz do trabalho junto ao elenco profissional do Galo.
Matriz de atuação da psicologia do Atlético
- Jogadores e grupo: acolhimento, gerenciamento, atendimento psicológico, avaliação do estresse e do humor, treinamento mental, periodização, psicologia e formação de equipe;
- Técnicos: apoio pessoal e informação necessária;
- Esposas e pais: trabalho em conjunto com a assistente social;
- Departamento médico: atendimento individual com lesionados, monitoramento e aplicação de técnicas de respiração;
- Direção: apoio pessoal e informação sobre o jogador.
Os profissionais da psicologia alvinegra não participam do processo de contratação de qualquer atleta para o elenco profissional. Os primeiros contatos com os recém-contratados incluem trabalhos de anamnese psicológica – quando Michelle Rios coleta informações detalhadas sobre os jogadores, como a história de vida, experiências e o contexto emocional.
O trabalho com cada atleta, é claro, exige diferentes abordagens. Há jogadores com menor abertura à interação psicológica e maior dificuldade em tratar temas de ordem pessoal, enquanto outros lidam com o processo terapêutico com naturalidade.
Todo o processo é conduzido por meio da periodização psicológica, planejada de acordo com o andamento da temporada do time masculino. Algumas das habilidades comportamentais estimuladas, por exemplo, precisam ser exercitadas ainda na pré-temporada, antes da maratona de jogos.
No dia a dia na Cidade do Galo, em Vespasiano, Michelle Rios se debruça junto aos atletas em temas como a qualidade do sono, a ansiedade e a reestruturação cognitiva (focada no controle dos pensamentos negativos). As conversas individuais pós-jogo têm peso especial, já que a psicóloga do Atlético tem a oportunidade de analisar o que motivou cada decisão ou sentimento do jogador durante os 90 minutos em campo.
Periodização psicológica e plano de competências
Como já mencionado, a periodização psicológica envolve a organização e distribuição de atividades e processos ao longo de um determinado período de tempo. No Atlético, a ideia central é estimular o desenvolvimento de quatro grupos de habilidades mentais. Saiba quais são eles a seguir.
- Habilidades Mentais Básicas: atenção/concentração, inteligência emocional, autoconfiança, aspectos cognitivos (tempo de reação/antecipação/percepção/memória);
- Habilidades Mentais Competitivas: ansiedade pré-competitiva, resiliência e superação, rotinas pré-competitivas e rituais, visualizações, autorregulação;
- Habilidades Mentais Grupais: comunicação, liderança, coesão (coletividade);
- Habilidades Mentais Facilitadoras: inteligência corporal, media training.
Essas habilidades também podem ser treinadas dentro de campo, com auxílio da comissão técnica. O departamento de psicologia elaborou um plano de competências, com valências cognitivas específicas a serem trabalhadas por cada atleta de acordo com sua posição e necessidade.
Como exemplo, Michelle Rios citou os atacantes. Na concepção do Galo, um jogador desta posição precisa ter características cognitivas como atenção alternada, antecipação, visão periférica, capacidade de focar novamente, tomada de decisão e tempo de reação, por exemplo.
Já no âmbito das competências psicológicas, os homens do setor ofensivo precisam dominar aspectos como: regulação da ansiedade, oportunismo, mentalidade decisiva, persistência, paciência, regulação da agressividade, automotivação, liderança, comunicação, combatividade, confiança e resiliência.
Capitão do Atlético, Hulk também é alvo de trabalhos específicos da psicologia. Exige-se do jogador com a braçadeira uma postura proativa e “agressiva” dentro dos limites – há, inclusive, preparação com estratégias específicas antes dos jogos.
Atividades em grupo no Atlético
Conforme demanda e diálogos com a comissão técnica, o departamento de psicologia do Atlético organiza atividades em grupo com os jogadores. As dinâmicas são definidas de acordo com a análise da necessidade do que o elenco mais precisa naquele momento.
No início de agosto de 2023, uma dessas atividades surtiu o efeito esperado. Michelle Rios viajou com a delegação do Galo a São Paulo, a pedido da comissão técnica de Felipão, em momento em que o time alvinegro estava há 10 jogos sem vencer.
“O grupo precisava de desafio. Os atletas precisavam se sentir desafiados”, contou a psicóloga do clube ao relembrar o episódio na manhã desta quarta-feira. O ambiente interno era pesado, com o elenco sob intensa pressão.
Em um hotel em São Paulo, a profissional propôs dinâmica inusitada: ela dividiu os jogadores em grupos e ofereceu 20 fios de macarrão, uma fita adesiva, uma pequena corda e um marshmallow. O objetivo? Formar a “torre” mais alta, com o marshmallow ao topo.
O grupo vencedor tinha atletas como Igor Rabello, Hyoran e Guilherme Arana. Na avaliação da psicologia, o trabalho contribuiu para estimular o senso de competitividade e fortalecer a união interna.
Em 6 de agosto daquele ano, o Atlético contou com gols de Hulk e Pavón para vencer o São Paulo no Morumbis, em São Paulo, por 2 a 0. A partida marcou início de reação do Galo na Série A do Campeonato Brasileiro.
O papel da assistência social no Atlético
Neila Bittencourt é quem coordena a assistência social do Atlético desde agosto de 2024. O trabalho da profissional está focado principalmente nas demandas dos familiares dos jogadores, com cuidado e suporte em vários aspectos das vidas dessas pessoas.
A ideia do clube passa por planejar e executar projetos que visam melhorar a adaptabilidade e o bem-estar social do atleta e de seus familiares durante o tempo em que tiverem vínculo com o Galo. Tópicos como saúde em geral, desafios escolares dos filhos e indicação de atividades complementares estão em pauta.
Há também um trabalho específico em dias de jogos do Atlético. A assistência social do clube é responsável por todo o acolhimento e pela proteção dos familiares dos atletas, conduzindo até mesmo dinâmicas interativas com as crianças durante as partidas.
