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O plano do Atlético para transformar Arena MRV em caldeirão para rivais

Atlético enfrentou desafios no primeiro "ano e meio" da Arena MRV, mas aposta em nova era com Cuca após intervenções estruturais

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Os números não mentem: a Arena MRV tem sido força importante para o Atlético no âmbito esportivo. Ainda assim, desde a inauguração do estádio, o clube mineiro tem trabalhado para corrigir problemas e estabeleceu plano para transformar a nova casa em um verdadeiro “caldeirão” para os rivais, apostando em alguns pilares para atingir o objetivo.

A imponente construção às margens da Via Expressa no Bairro Califórnia, em Belo Horizonte, já foi palco de 45 jogos do Galo. Ali, o time alvinegro venceu 29 vezes, empatou em nove oportunidades e saiu derrotado em apenas sete delas – resultados que se traduzem em aproveitamento de 71,1%.

No passado recente, a Arena MRV foi fator fundamental para a campanha de recuperação liderada por Felipão no Campeonato Brasileiro de 2023 e também durante a trajetória do vice-campeonato da Copa Libertadores de 2024, com o argentino Gabriel Milito no comando. Ambas as jornadas foram marcadas por noites de emoção no estádio.

Em contrapartida, o Atlético amargou derrotas impactantes no local. Reveses sofridos em clássicos contra o Cruzeiro, além de em duelos contra Palmeiras (4 a 0) e Flamengo (4 a 2) no Campeonato Brasileiro do ano passado trazem lembranças ruins aos alvinegros.

O mais doloroso dos episódios para o torcedor do Galo na Arena MRV ocorreu no último 10 de novembro, quando o Atlético perdeu o título da Copa do Brasil para o rival Flamengo, com derrota por 1 a 0. O estádio ainda foi palco de cenas de selvageria, já que alguns torcedores promoveram desordem com bombas, brigas e até mesmo tentativa de invasão de campo.

Águas passadas. Em 2025, sob nova direção, a equipe alvinegra tenta construir novas histórias na Arena MRV. Para isso, a diretoria do Galo tem alguns fatores como aliados.

Novo projeto acústico

Em fevereiro, o Atlético deu início às obras para reformulação do projeto acústico da Arena MRV. A reverberação do som na parte interna do estádio era motivo de crítica frequente de boa parte da torcida, que demonstrava nas redes sociais a insatisfação com a intensidade do barulho produzido no local.

O fator que impedia maior alcance do som na Arena MRV são os furos na cobertura que permitem a chegada do barulho à lã de rocha – material que absorve o ruído. Na concepção do projeto, a intenção inicial era respeitar limite de decibéis estabelecido durante o processo de licenciamento da obra.

Após diversos estudos, o Atlético concluiu que a instalação de placas de ACM (Material Composto de Alumínio, na tradução da sigla para o português) na cobertura do setor Inter Sul seria suficiente para melhorar significativamente a reverberação do som no estádio.

Funcionou. A mudança foi avaliada positivamente por torcedores e imprensa nas últimas semanas, já que o barulho produzido pelos alvinegros no local aumentou expressivamente.

Instalação do gramado sintético

No primeiro “ano e meio” de Arena MRV, o Atlético também enfrentou dificuldades na conservação do gramado natural. Depois de negociações com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para atender à legislação ambiental da cidade, a diretoria do clube conseguiu autorização para instalar o gramado sintético no estádio.

O processo de troca do piso esportivo começou ainda na reta final de 2024 e chegou ao fim no início deste mês de maio. Para concluir as obras – tanto do gramado como da acústica -, o Galo precisou despender cifras milionárias.

A grama sintética acelera o correr da bola e muda consideravelmente a característica de uma partida de futebol. Como dispõe de um time veloz e com jogadores de bons níveis físicos, o Atlético espera fazer deste fator outro catalisador de peso para os resultados esportivos.

Jogadores do Atlético no primeiro treino com gramado sintético na Arena MRV - (foto: Pedro Souza/Atlético)
Jogadores do Atlético no primeiro treino com gramado sintético na Arena MRV(foto: Pedro Souza/Atlético)

Desejo de Cuca

Entre agosto de 2011 e julho de 2013, o Atlético passou 54 jogos sem ser derrotado como mandante. Naquela sequência, o Galo disputou uma partida no Mineirão, 15 na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, e outras 38 na Arena Independência – casa do rival América em Belo Horizonte.

Os números impressionavam e aterrorizavam adversários que vinham à capital mineira para medir forças com o time alvinegro. Ao todo, foram 44 vitórias e 10 empates naquele recorte, traduzidos em aproveitamento de 87,6%.

O comandante da época? Cuca, hoje tido por muitos como o maior treinador da história do Atlético.

De volta ao Galo mais de 11 anos após o fim da primeira passagem, o treinador paranaense aposta na força da torcida do Galo para construir sequência invicta semelhante em Belo Horizonte – agora na Arena MRV.

“Às vezes, não dá tão certo, mas a gente está fazendo um começo de história dentro do nosso novo campo. E já são três vitórias seguidas, com 10 gols. Isso vai pegando corpo. Eu lembro que lá no Horto foi assim o começo, até pegar e ir a 60, 70 jogos. E a gente vai fazer isso aqui.”

Cuca, técnico do Atlético
Cuca no gramado sintético da Arena MRV - (foto: Pedro Souza/Atlético)
Cuca no gramado sintético da Arena MRV(foto: Pedro Souza/Atlético)

Personalização interna

Pouco a pouco após a inauguração, o Atlético trabalhou na personalização interna da Arena MRV. Hoje, o estádio conta com um Galo gigante em aço inox na esplanada, pintura nas arquibancadas do setor Inter Sul e artes nos corredores de acesso aos vestiários.

Os desenhos no corredor de entrada ao vestiário das equipes visitantes chamam atenção. Com luzes de LED vermelhas e artes “intimidatórias” em tons mais escuros, o clube faz o possível para tentar amedrontar adversários desde antes de a bola rolar.

Comunicação

O departamento de comunicação do Atlético tem investido em campanhas que visam aproximar o torcedor do clube. O lema “O Galo nunca luta sozinho”, criado antes de duelo contra o Fluminense pela Copa Libertadores de 2024, foi exemplo de sucesso neste sentido.

O clube executa mais uma destas iniciativas antes dos três jogos que ainda terá como mandante antes da paralisação do futebol brasileiro para a disputa do Super Mundial de Clubes: “Nós vamos lotar e lutar”. O intuito da direção alvinegra é levar o maior número possível de torcedores à Arena MRV nos compromissos contra Corinthians, Cienciano-PER e Internacional.

Para os dias de jogos, o Atlético também investiu na contratação de uma empresa responsável por cuidar da operação do telão e do sistema de som do estádio. Antes preenchidos com comerciais e músicas, os 40 minutos que antecedem às partidas tem maior protagonismo do barulho produzido pela torcida – estimulada aos cantos também por meio de iniciativas interativas da comunicação da Arena.

Desafios

O principal desafio na gestão da Arena MRV para o Atlético neste momento é, possivelmente, a “calibragem” correta da precificação de ingressos. Nas redes sociais, a diretoria segue recebendo críticas pelos valores cobrados nos bilhetes para as partidas.

Para o jogo contra o Corinthians, o Galo colocou ingressos de R$ 21 (Inter Sul) à venda para o sócio-torcedor com a mensalidade mais cara. Por outro lado, o alvinegro que assina a modalidade “Forte e Vingador” do programa Galo Na Veia precisa pagar R$ 164,40 no bilhete se quiser comparecer ao duelo no setor Brahma Oeste.

Outro tema de debate entre torcedores é a venda do novo lote de cadeiras cativas na Arena MRV. Na concepção dos críticos, a medida que diminui a quantidade de ingressos em circulação por jogo afasta os menos favorecidos economicamente das arquibancadas.

Torcedores mostram otimismo

Em entrevista ao No Ataque, torcedores do Atlético avaliaram a relação que têm construído com a Arena MRV. Frequente nos jogos do Galo no estádio, a engenheira de produção Izadora Winter, de 25 anos, disse que tem se sentido em casa “aos poucos” no local.

“Voltar para casa é sempre bom. Me sentindo em casa aos poucos. Está faltando levantar uma taça lá dentro! Aquela história: Mineirão é salão de festas. Agora, está faltando levantar dentro de casa para me sentir melhor lá dentro (risos)”, opinou ao NA.

“Acho que como qualquer estádio, depois que inaugura tem que arrumar. A Arena teve que mexer em quase tudo: gramado, acústica, arquibancada… Sendo bem sincera, isso desanimou um pouco. Mas nada que um título lá dentro não resolva”, acrescentou.

Torcedores do Atlético durante duelo contra o Maringá pela Copa do Brasil - (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
Torcedores do Atlético durante duelo contra o Maringá pela Copa do Brasil(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Outro torcedor do Atlético que sempre vai aos jogos na Arena MRV é o jornalista Rafael Carvalho, de 27 anos, que disse ainda não se sentir “em casa” no estádio. Assim como muitos outros alvinegros, ele se incomodou com os problemas iniciais do projeto.

“Sendo direto? A resposta é: ainda não. Infelizmente ainda não me sinto em casa na Arena MRV. Mas sei que, em breve, terei esse sentimento. Vivo a Arena desde o início, no jogo das Lendas… Vi o Pierre fazendo o primeiro gol com a camisa do Galo, Reinaldo e Ronaldinho dividindo o gramado, o estádio completamente imponente e lindo”, iniciou ao NA.

“Mas quando passou aquele encanto inicial, comecei a perceber os erros muito graves que haviam lá e que foram fatores-chave para abalar minha relação com a Arena: acústica péssima (foi prometido um caldeirão); alguns pontos cegos – que sinceramente não me incomodavam muito, mas é algo inconcebível para um estádio novo; o valor para finalização do estádio; uso de caixas de som; preços de ingressos e etc.”, prosseguiu.

De toda forma, o jornalista demonstrou otimismo com o futuro no estádio. “Sou atleticano porque me apaixonei pela torcida e, neste primeiro ano de Arena, a torcida não conseguia (e nem podia) ser a mesma que me encantou. Com as mudanças atuais, já percebi uma melhora enorme. Estive nos dois jogos pós-reabertura do estádio e falo com muita alegria que as mudanças surtiram efeito e é só questão de tempo para me sentir em casa de verdade”, frisou.

Próximo jogo do Atlético

O Atlético voltará à Arena MRV neste sábado (24/5) – quando, a partir das 21h, medirá forças com o Corinthians. O confronto será disputado pela 10º rodada da Série A do Campeonato Brasileiro.

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